66 Anos de Madonna: A Voz que Desmistificou a Aids

Há 66 anos, nasceu uma mulher que mudaria para sempre a história do Pop, o formato de se fazer shows e seria a maior vendedora de álbuns da história. Madonna Louise Ciccone permanece atualíssima, surpreendendo até os fãs mais progressistas e fazendo história no mundo, em uma trajetória profissional que já tem 41 anos.

São muitos os atributos que fazem jus ao seu título de Rainha do Pop e, inclusive, os grandes shows das divas pop de hoje em dia são feitos no modelo que Madonna popularizou. Antes dela, não havia o conceito de diferentes blocos e cenas, intervalos, figurinos, coreografias temáticas, entre outros.

Abaixo, vídeo de show de 1990 de Madonna, em Paris:

Madonna como símbolo ativo combatente da Aids

Além das muitas qualidades artísticas, existe um âmbito no qual a celebridade teve um papel crucial, provavelmente salvando incontáveis números de vidas ao redor do mundo. Nos anos 80, o HIV, vírus que causa a Aids, infectou milhares de pessoas. E o preconceito com os homossexuais na época, que compunham a maioria dos afetados pela doença, atrasou o entendimento sobre quais eram as formas de transmissão e prevenção, uma vez que a Aids era associada a algo limitado a um grupo que não era bem visto e nem bem-vindo na sociedade.

Nesse sentido, desestigmatizar a doença era um dos passos mais importantes para poder informar as pessoas. Madonna foi uma das primeiras e mais ativas artistas a trabalhar na conscientização sobre o tema. Considerando a fragilidade de uma carreira artística em ascensão, uma vez que ela ainda estava se estabelecendo em um contexto global, a decisão de Madonna de ser tão ativa na causa era um movimento audacioso, que poderia ter tido consequências negativas para sua imagem e popularidade.

A música pop dos anos 80 era universal, mas Madonna criou um espaço de identificação especial para mulheres e pessoas LGBTQIA+, oferecendo todo um cenário musical (tanto nas suas letras e melodias quanto pelo fato de ela contratar dançarinos gays e ter um discurso que englobasse essas pessoas) que desse vazão para suas vozes e desejos, que muitas vezes eram silenciados.

Madonna homenageando vítimas de aids em seu show no Rio de Janeiro em 2024, incluindo Cazuza e Renato Russo

A Capa do Álbum Like a Prayer

Em 1989, Madonna incluiu um informativo sobre AIDS dentro de seu álbum "Like a Prayer", promovendo uma mensagem clara e direta sobre a doença.

O folheto, traduzido para o português, dizia:

"A AIDS é uma doença com as mesmas oportunidades. Afeta homens, mulheres e crianças, sem distinção de raça, idade ou orientação sexual. A AIDS é causada por um vírus chamado HIV. Até o momento, não há dados conclusivos para explicar como a AIDS começou ou de onde veio. Pessoas com AIDS – independentemente de sua orientação sexual – merecem compaixão e apoio, não violência e intolerância.

• Você pode contrair a AIDS fazendo sexo vaginal ou anal com um parceiro infectado
• Você pode contrair AIDS compartilhando agulhas de drogas com uma pessoa infectada
• Você pode contrair a AIDS se nascer de uma mãe infectada

O simples ato de colocar uma camisinha pode salvar sua vida, se ela for usada corretamente e toda vez que fizer sexo.

AIDS não é uma festa."

O disco também tratou de diversas questões de maneira inovadora para seu tempo. As canções discutiam tópicos como a perda na infância, o abuso infantil, a violência doméstica, os direitos das mulheres e a espiritualidade.

A cantora assumiu um papel que a mídia e os governos não assumiram. Discutir as formas de transmissão do HIV, destacando que qualquer pessoa, inclusive um bebê, pode ser afetada, foi um dos maiores auxílios que uma artista poderia oferecer à causa. Ademais, enfatizar que as pessoas que convivem com o HIV merecem empatia, e não discriminação, evidencia claramente sua posição em relação ao estigma.

Outro ponto crucial na sua abordagem foi descrever o uso de preservativos como “simples”. Dessa forma, ela conseguiu comunicar a ideia de que é uma prática acessível e viável para todos que leem a mensagem. Atestar que o anticoncepcional deve ser empregado em todas as relações sexuais é um aspecto de saúde pública.

Naquele período, a mídia frequentemente enfatizava o pânico em torno da doença, com manchetes sensacionalistas, mais preocupada com as vendas do que com a divulgação de informações científicas sobre a Aids. A comunidade LGBTQIA + foi pioneira em oferecer orientações aos seus membros.

Capa da Revista Life de 1985

Em decorrência de sua proatividade na causa, a própria Madonna foi alvo de especulações de que ela seria portadora do HIV. A artista desmentiu esses rumores em 1991, ao receber o Prêmio de Coragem da amFAR durante um evento beneficente em Los Angeles.

“Eu não sou HIV positiva, mas e se eu fosse? Eu teria mais medo de como a sociedade me trataria por ter a doença do que da própria doença em si.”

Confira o vídeo do recebimento do prêmio abaixo:

Inclusive, muitos dos seus dançarinos estavam vivendo com o HIV. Essas descobertas ocorreram durante suas turnês nos anos 80 e 90, e ela sempre ofereceu grande apoio. Madonna visitava pessoas que estavam doentes devido à Aids, promovia o uso de preservativos e abordava a sexualidade de forma desinibida em suas apresentações. Tudo isso contribuiu para trazer à tona a sexualidade, assim como o HIV e a Aids, e ajudou a fomentar debates mais abertos sobre esses temas.

Até hoje, a rainha do Pop causa espanto em muitas pessoas por ser um espírito tão livre e ter uma facilidade e naturalidade em abordar temas ainda considerados tabus para muitos, mostrando que é possível ser revolucionária e precursora aos 66 anos.

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