Agência de espionagem alemã classifica partido de extrema-direita AfD como 'extremista'
Agência de espionagem alemã classifica partido de extrema-direita AfD como 'extremista'
Reuters
02/05/2025
Atualizada em 02/05/2025
Por Sarah Marsh e Friederike Heine
BERLIM (Reuters) - A agência de espionagem da Alemanha classificou nesta sexta-feira o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, como 'extremista', o que lhe permite intensificar o monitoramento do maior partido de oposição do país, que criticou a medida como um 'golpe contra a democracia'.
Um relatório de 1.100 páginas elaborado por especialistas concluiu que o AfD é uma organização racista e antimuçulmana, uma conclusão que concede aos serviços de segurança poderes para recrutar informantes e interceptar comunicações do partido, e que reavivou os pedidos de proibição do partido.
'O ponto central de nossa avaliação é o conceito étnico e ancestralmente definido de povo que molda o AfD, que desvaloriza segmentos inteiros da população na Alemanha e viola sua dignidade humana', disse a agência de inteligência doméstica BfV em um comunicado.
'Esse conceito se reflete na postura geral antimigrante e antimuçulmana do partido', afirmou, acrescentando que o AfD havia despertado 'medos irracionais e hostilidade' em relação a indivíduos e grupos.
A agência BfV precisa dessa classificação para poder monitorar um partido político porque é mais limitada legalmente do que outros serviços de inteligência europeus, um reflexo da experiência da Alemanha sob os regimes nazista e comunista.
Outras organizações classificadas como extremistas na Alemanha são grupos neonazistas, como o Partido Democrático Nacional (NDP), grupos islâmicos, incluindo o Estado Islâmico, e grupos de extrema-esquerda, como o Partido Marxista-Leninista da Alemanha.
A agência pôde agir depois que o AfD, no ano passado, perdeu um processo judicial no qual havia contestado sua classificação anterior pelo BfV como uma entidade suspeita de extremismo.
A medida segue outros reveses que a extrema-direita na Europa sofreu nos últimos meses ao tentar transformar o apoio crescente em poder. Eles incluem a proibição de Marine Le Pen, da França, de disputar a eleição presidencial de 2027 após sua condenação por peculato e o adiamento da votação presidencial da Romênia depois que um candidato de extrema-direita venceu o primeiro turno.
'MUITO SÉRIO. Depois da França e da Romênia, outro roubo da democracia?', escreveu Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro italiano e líder do partido de extrema-direita a Liga, no X.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que a Alemanha deveria reverter a decisão de classificar o AfD como 'extremista', enquanto o bilionário norte-americano Elon Musk, que deu seu apoio ao partido antes das eleições de fevereiro, alertou contra a proibição do partido.
'Banir o centrista AfD, o partido mais popular da Alemanha, seria um ataque extremo à democracia', disse Musk no X.
O AfD criticou a decisão desta sexta-feira como uma tentativa politicamente motivada de desacreditá-la e criminalizá-la.
'O AfD continuará a tomar medidas legais contra esses ataques difamatórios que colocam em risco a democracia', disseram os colíderes Alice Weidel e Tino Chrupalla em um comunicado.
PROIBIÇÃO?
O Parlamento alemão poderia agora tentar limitar ou suspender o financiamento público para o AfD -- mas para isso as autoridades precisariam de provas de que o partido está explicitamente empenhado em minar ou até mesmo derrubar a democracia alemã.
Enquanto isso, os funcionários públicos que pertencem a uma organização classificada como 'extremista' podem ser demitidos, dependendo de sua função dentro da entidade, de acordo com o Ministério do Interior da Alemanha.
O estigma também poderia prejudicar a capacidade do AfD, que atualmente lidera várias pesquisas e é o partido de extrema-direita mais bem-sucedido da Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial, de atrair membros.
A decisão da BfV ocorre dias antes da posse do líder conservador Friedrich Merz como novo chanceler da Alemanha e em meio a um debate acalorado dentro de seu partido sobre como lidar com o AfD no novo Bundestag, ou câmara baixa do Parlamento.
O AfD conquistou um número recorde de assentos na eleição nacional de fevereiro, ficando em segundo lugar, atrás dos conservadores de Merz, o que, em teoria, lhe deu o direito de presidir vários comitês parlamentares importantes.
Um proeminente aliado de Merz, Jens Spahn, pediu que o AfD fosse tratado como um partido de oposição normal para evitar que ele se apresentasse como uma 'vítima'.
No entanto, outros partidos tradicionais e muitos conservadores rejeitaram essa abordagem -- e poderiam usar as notícias desta sexta-feira para justificar o bloqueio das tentativas do AfD de liderar comitês.
'A partir de hoje, ninguém mais pode dar desculpas: Este não é um partido democrático', disse Manuela Schwesig, primeira-ministra de Mecklenburg-Vorpommern e membro sênior do Partido Social Democrata (SPD), que está prestes a formar um governo com os conservadores.
Sob o novo governo, as autoridades deveriam analisar a possibilidade de proibir o AfD, disse o líder do SPD Lars Klingbeil ao jornal Bild.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, que é do SPD e está de saída do cargo, pediu nesta sexta-feira uma avaliação cuidadosa e advertiu contra a pressa em proibir o partido.
Criado em 2013 para protestar contra os pacotes de resgate da zona do euro, o eurocético AfD se transformou em um partido antimigração após a decisão da Alemanha de receber uma grande onda de refugiados em 2015.
Reuters