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AMY WINEHOUSE: MEMÓRIAS DE UMA VOZ QUE O TEMPO NÃO APAGA

DE HOMENAGENS COMOVENTES A UM DOCUMENTÁRIO PREMIADO, A VIDA E A OBRA DA ARTISTA SEGUEM VIVAS NA MEMÓRIA DOS FÃS

João Carlos

29/07/2025

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Crédito da imagem: editada por IA

Em um mês de julho especialmente movimentado no mundo da música, entre lançamentos e reedições de álbuns de forte impacto e turnês de grandes nomes como Beyoncé, Lady Gaga e Dua Lipa, o anúncio do retorno do Oasis e veteranos como Rod Stewart e Diana Ross em plena atividade, uma data significativa não passou em branco.

No dia 23 de julho, completaram-se 14 anos da morte de Amy Winehouse — cantora e compositora britânica que redefiniu os contornos da música pop e do soul moderno, e que teve sua vida interrompida precocemente aos 27 anos.

Homenagens e símbolos que marcaram o aniversário da morte

Na data, os pais de Amy se reuniram para prestar um tributo público, reacendendo homenagens entre fãs e veículos de imprensa em todo o mundo. A imprensa britânica e americana revisitou os últimos anos da artista, seus registros vocais marcantes e as transformações culturais que ela provocou com tão pouco tempo de carreira.

Um dos momentos mais comoventes veio de um lugar inesperado: as redes sociais resgataram uma foto antiga de Amy ao lado de Ozzy Osbourne, recém-falecido. A imagem viralizou no TikTok e emocionou milhares de fãs, que destacaram o simbolismo do encontro entre dois ícones de vozes únicas e vidas conturbadas.

A entrada de Amy no mundo da música

O talento de Amy Winehouse surgiu cedo — e em estado bruto. Ainda adolescente, ela começou a compor e a cantar influenciada por soul, jazz e R&B dos anos 1950 e 60. Mas foi aos 20 anos, em 2003, que o mundo começou a ouvi-la com o lançamento de seu álbum de estreia, Frank.

Segundo reportagem da revista Mojo, uma cena registrada em vídeo durante uma apresentação para executivos da gravadora revela muito do que Amy era desde o início: uma compositora afiada, espirituosa, com domínio vocal impressionante e uma personalidade que desafiava padrões.

De forma despretensiosa, ela apresenta a faixa “I Heard Love Is Blind” dizendo:

“Vou só prender o cabelo porque ele fica na minha boca... Escrevi isso em Miami com um cara chamado Salaam e... tenho muito orgulho disso.”

O que se segue é um momento íntimo e revelador. Amy canta, acompanhada apenas de um violão creme, uma letra sobre infidelidade emocionalmente ambígua e sexualmente direta. “Eu estava pensando em você quando gozei”, diz sem hesitar. A música termina com um trinado de voz delicado e aplausos espontâneos dos executivos. Ela apenas sorri. Sabia que havia vencido a resistência.

“Foi um momento de cair o queixo”, lembra seu então empresário, Nick Shymansky, à Mojo. “Dava pra ver na cara das pessoas da gravadora: ‘Que porra é essa?’”

A Island Records finalmente assinaria com Amy. E embora o disco Frank fosse aclamado pela crítica — recebendo indicações ao Mercury Prize e ao BRIT Awards —, suas vendas ficaram abaixo do esperado. Amy, inconformada, atacou publicamente os executivos da gravadora em entrevistas, chamando-os de “idiotas”. Era o primeiro sinal de que seu gênio artístico não seria moldado facilmente pela indústria.

Mas foi só com o segundo álbum, Back to Black (2006), que Amy se tornaria um fenômeno global. Com letras ainda mais confessionais, estética retrô, produção inspirada de Mark Ronson e uma voz já imortal, ela entraria para sempre na história da música contemporânea.

A passagem de Amy Winehouse pelo Brasil — um diário de shows

Amy Winehouse desembarcou no Brasil entre 8 e 15 de janeiro de 2011, após um hiato de quase dois anos longe dos palcos. Os shows aconteceram em Florianópolis, Rio de Janeiro, Recife e São Paulo — sua única turnê no país e um momento simbólico de retorno. A expectativa era enorme, e os fãs brasileiros demonstraram carinho incondicional.

Como foram os shows

8 de janeiro — Florianópolis

No festival Summer Soul, Amy apareceu sorridente e pontual. Apesar de algumas hesitações, apresentou um repertório com Valerie, Back to Black e Rehab, sendo recebida com entusiasmo. Foi a melhor performance vocal da turnê, segundo alguns veículos.

10 e 11 de janeiro — Rio de Janeiro

Na HSBC Arena, Amy enfrentou dificuldades: esqueceu letras, lia trechos no chão e parecia confusa, segundo a imprensa. Ainda assim, entregou momentos intensos em Love Is a Losing Game e You Know I'm No Good. Ficou hospedada no bairro de Santa Teresa, onde era vista apenas esporadicamente.

13 de janeiro — Recife

No palco, quase caiu ao apresentar os músicos. Ajudada pela equipe, seguiu a apresentação com Tears Dry on Their Own e Me and Mr. Jones, mas os sinais de desgaste ficaram mais visíveis.

15 de janeiro — São Paulo

Encerrando a turnê no Summer Soul Festival, Amy cantou para mais de 15 mil pessoas na Arena Anhembi. Apesar da força de sua voz, a performance foi considerada fria, com pouca interação com o público. Ainda assim, faixas como Some Unholy War e He Can Only Hold Her emocionaram os fãs.

Reflexões de uma última passagem

A turnê brasileira foi recebida com carinho e como uma esperança de que Amy estivesse ensaiando um recomeço. Mas para quem esteve lá, a impressão foi clara: Amy estava muito magra, visivelmente frágil, e embora sua voz permanecesse afinada e marcante, sua energia não condizia com a potência emocional de uma apresentação ao vivo.

Mesmo assim, o público demonstrava empatia, aplaudia com entusiasmo e cantava junto, consciente de estar diante de um talento único — e talvez diante de seus últimos momentos nos palcos internacionais.

Para o Brasil, ficou registrada não apenas a passagem de um ícone, mas uma memória coletiva de carinho e respeito por uma artista que, mesmo em conflito consigo mesma, continuava comovendo com sua verdade musical.

Saúde e tragédia

Amy Winehouse lutou por anos contra dependência de álcool, bulimia e depressão. Em entrevistas, chegou a admitir seus medos, recaídas e desejos de melhora. Em 2011, chegou a permanecer semanas sóbria e parecia determinada a se reerguer.

Mas, em 23 de julho daquele ano, foi encontrada morta em sua casa, em Camden Town. A causa oficial foi intoxicação alcoólica, com nível de álcool no sangue mais de cinco vezes acima do limite legal.

A morte de Amy foi o choque final de uma tragédia anunciada. Ela entrou para o chamado “Clube dos 27”, ao lado de nomes como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison e Kurt Cobain.

Legado e registros definitivos

O impacto cultural de Amy Winehouse permanece evidente. Em 2025, o álbum Back to Black foi oficialmente incluído no National Recording Registry da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, como obra de valor histórico, cultural e artístico inestimável.

Além disso, dois registros audiovisuais se tornaram essenciais para entender sua história:

Amy (2015)

Dirigido por Asif Kapadia, o documentário conquistou o Oscar, o BAFTA e o Grammy, reunindo imagens de arquivo, vídeos pessoais e depoimentos de amigos, familiares e colegas. É considerado o registro mais sensível e verdadeiro sobre a vida e os conflitos da artista.

Back to Black (2024)

O filme biográfico, dirigido por Sam Taylor-Johnson, com Marisa Abela no papel principal, reacendeu o interesse do grande público e serviu como introdução à obra de Amy para uma nova geração. Embora mais romanciado que o documentário, o filme ajuda a contextualizar sua ascensão e queda.

Amy, sempre Amy

Com apenas dois álbuns de estúdio, Amy Winehouse mudou a história da música pop moderna. Sua voz, suas letras e sua vulnerabilidade continuam ressoando em playlists, rádios e lembranças.

E, como toda grande artista, continua dizendo muito — mesmo em silêncio.

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