APAGÃO, CONCESSÃO, PODA DE ÁRVORES E FIOS SUBTERRÂNEOS EM SÃO PAULO
APÓS VENDAVAL, POSSÍVEL FIM DO CONTRATO COM A ENEL; PREFEITURA RESPONDE SOBRE O MANEJO ARBÓREO E O ENTERRAMENTO DA REDE AÉREA
João Carlos
19/12/2025
Enquanto São Paulo ainda contabiliza os impactos do vendaval registrado em dezembro — que derrubou árvores, atingiu a fiação elétrica aérea e deixou milhões de moradores sem energia por vários dias — a Rádio Antena 1 procurou a Prefeitura da capital para esclarecer como estão as políticas de poda de árvores e o avanço do enterramento da rede elétrica na cidade.
Embora o apagão tenha ampliado a pressão política sobre a concessionária Enel São Paulo, os efeitos da crise vão além da discussão sobre a concessão do serviço. O episódio trouxe novamente ao centro do debate a relação entre arborização urbana, infraestrutura elétrica e a capacidade do poder público de organizar uma cidade cada vez mais exposta a eventos climáticos extremos.
Vendaval expôs fragilidades da infraestrutura urbana
A crise teve origem no vendaval provocado pela passagem de um ciclone extratropical que atingiu a capital e a Região Metropolitana. Com rajadas próximas de 100 km/h, árvores e galhos de grande porte caíram sobre a rede elétrica aérea, provocando desligamentos em larga escala.
No pico do evento, mais de 2 milhões de clientes ficaram sem energia. Mesmo dias após a tempestade, centenas de milhares de imóveis ainda enfrentaram interrupções no fornecimento. Os impactos se estenderam a outros serviços essenciais, como abastecimento de água, funcionamento de semáforos e operação dos aeroportos de Congonhas e Guarulhos.
O episódio evidenciou que a combinação entre fiação aérea, árvores de grande porte e ventos extremos expõe fragilidades estruturais da cidade, reacendendo o debate sobre soluções de médio e longo prazo para a rede elétrica urbana.
Pressão política e questionamentos sobre a concessão
Após o apagão, o Ministério de Minas e Energia solicitou à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) a abertura de um processo administrativo para apurar falhas recorrentes na prestação do serviço pela Enel São Paulo.
A iniciativa foi articulada em conjunto com o Governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura da capital, que passaram a defender publicamente o encerramento antecipado e a não renovação da concessão. A ANEEL deverá analisar o histórico de interrupções e as penalidades já aplicadas à concessionária, que somam cerca de R$ 170 milhões.
A chamada caducidade da concessão é considerada uma medida extrema e depende de um processo administrativo complexo, com direito de defesa da empresa e avaliação sobre os impactos de uma eventual transição na operação do serviço.
A antecipação do fim de uma concessão pública envolve exigências técnicas, jurídicas e operacionais. Além da comprovação de descumprimentos contratuais, é necessário garantir a continuidade do fornecimento de energia durante qualquer processo de transição.
Mesmo sob pressão política, a análise tende a ser prolongada. Nesse intervalo, ações imediatas de reforço operacional, modernização da rede e gestão integrada da arborização são fundamentais para reduzir riscos no curto prazo.
Poda de árvores e enterramento seguem no centro das ações municipais
Diante desse cenário, a Rádio Antena 1 questionou a Prefeitura de São Paulo sobre as ações sob responsabilidade direta do município. Segundo a administração, o enfrentamento de eventos climáticos extremos é tratado como política permanente.
Em 2025, a Prefeitura afirma ter realizado 162 mil podas de árvores e 13,3 mil remoções preventivas, além de ampliar em 32% o número de equipes dedicadas ao serviço. Outro destaque foi o início de um inventário arbóreo, com tecnologia voltada ao mapeamento detalhado de árvores em vias públicas, após uma década sem levantamento completo.
A gestão municipal também criticou a atuação da Enel nas podas próximas à rede elétrica. Segundo a Prefeitura, das 282 mil podas que a concessionária teria se comprometido a realizar em 2025, pouco mais de 11% haviam sido executadas até meados de dezembro. A empresa contesta os números.
Paralelamente, o enterramento da fiação elétrica voltou ao centro do debate como uma alternativa para reduzir falhas em episódios de ventos extremos. A Prefeitura informa coordenar o Programa SP Sem Fios, que já contabiliza cerca de 46 quilômetros de redes subterrâneas implantadas na cidade, além da inclusão desse modelo em grandes obras viárias em andamento.
A seguir, a íntegra da resposta enviada pela Prefeitura de São Paulo, por meio da assessoria de comunicação da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, ao portal da Rádio Antena 1:
“A Prefeitura de São Paulo informa que as ações para o enfrentamento de eventos climáticos extremos são executadas continuamente na cidade, e não apenas no período de chuva. Já foram podadas neste ano 162 mil árvores na cidade e realizadas 13,3 mil remoções preventivas. Desde janeiro, a gestão municipal ampliou em 32% o número de equipes para esse serviço, passando de 122 para 162.
Vale ressaltar que neste ano a Prefeitura iniciou um inventário arbóreo com tecnologia pioneira no país para mapear todos os exemplares em calçadas e canteiros e fortalecer o trabalho diário de manejo. Havia dez anos que o último levantamento tinha sido feito.
A administração municipal reitera que a Enel tem prestado um péssimo serviço à população na cidade. Das 282.271 podas que a empresa se comprometeu a fazer em 2025, somente 31.945 (11%) foram executadas até o último dia 15.
O prefeito Ricardo Nunes, o Governo do Estado e o Ministério de Minas e Energia, em comum acordo, decidiram solicitar nesta terça-feira (16) o fim antecipado e a não renovação da concessão à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
O Município coordena o Programa SP Sem Fios, que registra 46 km de redes já enterradas pelas concessionárias de energia e telecomunicações. Além disso, a Prefeitura tem incluído o serviço de enterramento de fios em diversas obras viárias do Município, como na requalificação da Avenida Santo Amaro, onde a fiação aérea foi substituída por rede subterrânea. O mesmo ocorreu nas obras do Complexo Viário João Beiçola, na Cidade Dutra, zona sul. Outras nove requalificações de avenidas em andamento também terão os fios enterrados.”
Concessão, coordenação entre governos e papel do poder público
A crise deixou evidente que a resposta a eventos climáticos extremos não depende apenas da concessionária. Embora a distribuição de energia seja um serviço público concedido pela União e regulado pela ANEEL, seus efeitos recaem diretamente sobre a gestão urbana, responsabilidade do município.
Questões como arborização, uso do subsolo, obras viárias e enterramento da fiação exigem coordenação constante entre Prefeitura, Governo do Estado, União e órgãos reguladores — uma articulação que, na prática, costuma avançar de forma mais intensa em momentos de crise.
A atuação conjunta dessas esferas após o apagão sinaliza o reconhecimento de que o modelo de concessão só funciona de forma eficiente quando há governança integrada e planejamento de longo prazo.



