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Ararinha-azul brasileira está no centro de disputa sobre zoológico da família Ambani na Índia

Ararinha-azul brasileira está no centro de disputa sobre zoológico da família Ambani na Índia

Reuters

19/09/2025

Placeholder - loading - Ararinhas-azuis no zoológico de São Paulo   12/11/2024   REUTERS/Carla Carniel
Ararinhas-azuis no zoológico de São Paulo 12/11/2024 REUTERS/Carla Carniel

Por Aditya Kalra, Arpan Chaturvedi e Ricardo Brito

NOVA DÉLHI/BRASÍLIA, 19 Set (Reuters) - Esta é uma reportagem sobre uma ave e uma família. Mas não é uma ave comum nem uma família comum.

A arara-azul-de-Spix, um papagaio azul com rituais de acasalamento elaborados, foi declarada extinta na natureza em 2019. Desde então, um programa de criação em cativeiro reintroduziu algumas das aves em seu habitat nativo no Brasil.

Há mais de dois anos, autoridades de três continentes vêm se manifestando sobre o motivo pelo qual 26 das criaturas foram parar em um zoológico particular na Índia, administrado pelo braço filantrópico de um conglomerado controlado pela família mais rica da Ásia, os Ambanis.

Investigadores indianos inocentaram o santuário de qualquer irregularidade nesta semana. Mas autoridades europeias afirmam que estão vigiando de perto todas as exportações para o zoo Vantara, enquanto Brasil, Alemanha e Índia estão trabalhando para encontrar uma possível solução em um órgão administrado pelas Nações Unidas que monitora o comércio de animais selvagens.

O centro de resgate e reabilitação de animais Vantara, no Estado de Gujarat, afirma abrigar cerca de 2.000 espécies. No ano passado, o local foi destaque nas comemorações pré-casamento do líder do centro, Anant Ambani, o filho mais novo do bilionário Mukesh Ambani, cujos convidados incluíam Ivanka Trump e Mark Zuckerberg.

O zoológico, adjacente a uma refinaria de petróleo operada pela Reliance Industries dos Ambanis, foi inaugurado em março pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.

Uma análise da Reuters de 2.500 registros alfandegários disponíveis comercialmente mostra que, desde 2022, o centro de vida selvagem importou uma variedade extraordinária de espécies exóticas de países como África do Sul, Venezuela, República Democrática do Congo e Emirados Árabes Unidos.

A carga se assemelha a uma Arca de Noé moderna: 2.896 cobras, 1.431 tartarugas, 219 tigres, 149 chitas, 105 girafas, 62 chimpanzés, 20 rinocerontes e dezenas de répteis, incluindo lagartos de cauda espinhosa e camaleões velados.

As remessas foram registradas com um valor declarado de US$9 milhões, o que, segundo um porta-voz do Vantara, refletia os custos de frete e seguro, e não os pagamentos pela vida selvagem.

'Não se trata de transações comerciais de animais', disse o porta-voz. 'Nunca houve qualquer contrapartida comercial paga por qualquer animal transferido para o Vantara.'

Em agosto, a Suprema Corte da Índia ordenou que os investigadores examinassem se as aquisições e o tratamento de animais pelo Vantara estavam em conformidade com as leis indianas e com a Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites). O tribunal disse esta semana que os investigadores não encontraram nenhuma ilegalidade.

PAPAGAIO NÃO ESTÁ MORTO, ESTÁ NA ÍNDIA

O maior ponto de discórdia girou em torno das ararinhas-azuis que o parque adquiriu em 2023 da Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP), uma organização sem fins lucrativos com sede na Alemanha que fez parceria com autoridades brasileiras para criar as aves, de acordo com registros alfandegários, autoridades brasileiras e documentos do Cites.

A viagem das ararinhas está detalhada em um documento de entrada na alfândega visto pela Reuters, que mostra que as aves foram transportadas de Berlim para Ahmedabad em 4 de fevereiro de 2023, com custos, seguro e frete no valor de US$969 por arara, totalizando US$25.194. Impostos alfandegários e taxas locais de US$19.000 foram dispensados em linha com a prática indiana.

O Brasil afirma que não consentiu com a passagem dos papagaios para a Índia e manifestou sua preocupação nas reuniões do Cites.

'O zoológico Vantara ainda não aderiu ao Programa de Manejo Populacional da Ararinha-azul, condição fundamental para o envolvimento oficial dessa instituição no esforço de conservação da espécie', disse o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão do governo brasileiro, à Reuters por email em 8 de setembro.

'No momento, não há instituições indianas participando do Programa, de modo que não há razão para o envio de ararinhas-azuis para a Índia.'

O Brasil encerrou seu acordo com a ACTP no ano passado, dizendo que o grupo havia enviado as araras Spix para outros países em 'transações comerciais' sem o consentimento brasileiro. A organização sem fins lucrativos negou anteriormente que a transferência dos papagaios fosse de natureza comercial; ela não respondeu a um pedido de comentário.

O porta-voz do Vantara disse à Reuters que a transferência das ararinhas foi 'totalmente legal, não comercial e realizada como um acordo de reprodução de conservação com a ACTP'.

A Autoridade Central de Zoológicos da Índia não respondeu a perguntas.

O Ministério Federal do Meio Ambiente da Alemanha afirmou à Reuters que havia liberado a transferência das ararinhas para o Vantara em 2023 de 'boa fé', mas não consultou o Brasil na época.

No ano passado, após consultar as autoridades brasileiras, a Alemanha rejeitou um pedido de nova transferência das ararinhas Spix para o Vantara, alegando que o zoológico 'não era participante' do programa de controle populacional da espécie, disse um porta-voz do ministério.

'Essa decisão está atualmente sujeita a procedimentos legais', acrescentou o porta-voz, recusando-se a entrar em detalhes.

PIPOCA PARA ELEFANTES

No ano encerrado em março de 2024, apenas 20% dos 6.355 animais que chegaram ao Vantara vieram da Índia, segundo o relatório anual do centro. No total, o centro importou espécies de 40 países.

O Vantara evoluiu de um terreno árido em 2020 para uma área de gramados bem cuidados e vegetação semelhante à da selva, como mostram as imagens de satélite fornecidas pela Maxar Technologies.

Em visitas da mídia, Anant Ambani mostrou cozinhas abastecidas com produtos premium usados para preparar sucos frescos, doces e até pipoca como guloseimas para os elefantes.

Quando Modi visitou o Vantara este ano, seu gabinete divulgou um vídeo de oito minutos em que ele alimentava filhotes de leão, elefantes, rinocerontes e girafas. Uma foto mostrava uma arara Spix pousada em uma mão do primeiro-ministro.

O governo da Índia defendeu o Vantara nas reuniões do Cites em Genebra, em fevereiro, dizendo que a instalação é um 'centro reconhecido de reprodução conservacionista', de acordo com um resumo publicado pelo Cites.

Os documentos do Cites publicados antes de sua próxima reunião em novembro mostram progresso na resolução da investigação. A Secretaria do CITES disse à Reuters que houve consultas envolvendo o Brasil, a Índia e a Alemanha, e que as autoridades brasileiras forneceriam uma atualização.

(Reportagem de Aditya Kalra e Arpan Chaturvedi em Nova Délhi, Ricardo Brito em Brasília; reportagem adicional de Anand Katakam em Nova Délhi, Rachna Uppal em Dubai e Danial Azhar em Kuala Lumpur)

Reuters

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