BC eleva Selic em 0,25 ponto e prevê taxa em 15% por período 'bastante prolongado'
BC eleva Selic em 0,25 ponto e prevê taxa em 15% por período 'bastante prolongado'
Reuters
18/06/2025
Atualizada em 18/06/2025
BRASÍLIA (Reuters) -O Banco Central decidiu nesta quarta-feira elevar a taxa Selic em mais 0,25 ponto percentual, a 15,00% ao ano, e destacou que antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros, considerando que a taxa deve permanecer inalterada por 'período bastante prolongado'.
Na decisão de elevar os juros pela sétima vez consecutiva, tomada por unanimidade, o BC disse que a interrupção do ciclo será feita se confirmado o cenário esperado, ponderando que não hesitará em elevar a Selic novamente se necessário.
'O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado', informou o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em comunicado.
A decisão desta quarta divergiu da expectativa de mercado captada em pesquisa da Reuters, na qual 27 de 39 economistas entrevistados entre 9 e 12 de junho projetavam que o BC manteria a Selic em 14,75% ponto neste mês. Nesta semana, porém, o mercado financeiro precificava, ainda que por margens estreitas, chances majoritárias de o BC anunciar um aumento adicional de 0,25 ponto na Selic.
De acordo com a diretoria do BC, a prevista interrupção no ciclo de aperto na reunião de julho terá a finalidade de examinar os impactos acumulados do ajuste já feito e então avaliar se o nível corrente dos juros, “considerando a sua manutenção por período bastante prolongado”, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta.
Com a decisão desta quarta, os juros básicos vão ao maior nível em quase 20 anos. O novo patamar da Selic é o mais elevado desde julho de 2006, durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com indicações de que o aperto se aproximava do fim, a diretoria do BC passou a reforçar em falas públicas que os juros básicos deveriam ser mantidos em nível elevado por período longo, tentando afastar especulações sobre quando viriam os cortes na Selic.
“Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”, reforçou o Copom no documento desta quarta.
Para o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, a decisão do BC foi dura e deve fortalecer o real nos próximos dias.
“Um comunicado duro, um Copom bastante ‘hawk’, preocupado com o controle da inflação e agindo para que a inflação convirja para a meta”, disse.
O diretor de macroeconomia do ASA e ex-diretor de Política Econômica do BC, Fábio Kanczuk, por sua vez, considerou que o Copom não foi duro. Segundo ele, para atingir a meta de inflação, a autarquia deveria ter optado por manter o ciclo de alta ou indicado uma interrupção deixando bem claro que não baixará os juros até a inflação se aproximar da meta ou a atividade desacelerar.
'Sem esse 'forward guidance' (sobre o período de manutenção da Selic), que foi a opção que ele está seguindo até agora, não tem ninguém que acredita, não conheço uma pessoa que acredita que a inflação vai para a meta', disse.
Iniciado em setembro do ano passado, o ciclo de aperto acrescentou 4,5 pontos percentuais à Selic, com o choque nos juros sendo levado a cabo também sob o comando de Gabriel Galípolo, na presidência do BC desde janeiro por nomeação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No comunicado desta quarta, a autarquia disse que indicadores de atividade econômica ainda têm apresentado “algum dinamismo”, sendo observada certa moderação no crescimento, enquanto a inflação se manteve acima da meta.
A autoridade monetária não alterou seu balanço de riscos para a trajetória da inflação, apontando que as chances de alta e de baixa para os preços à frente seguem mais elevadas do que o usual.
O BC piorou nesta quarta sua projeção de inflação para este ano em relação a maio, com estimativa passando de 4,8% para 4,9%, considerando o cenário de referência, que segue projeções de mercado para os juros. Para o fechamento de 2026, atual horizonte relevante, a projeção foi mantida em 3,6%.
Para fazer as projeções do cenário de referência divulgadas nesta quarta, o Copom considerou uma taxa de câmbio que parte de R$5,60, abaixo dos R$5,70 usados na reunião de maio.
As expectativas de mercado para os preços seguem desancoradas, fator tratado com preocupação pela autarquia, com a previsão para o IPCA de 2025 no boletim Focus baixando de 5,53% antes do encontro do Copom em maio para 5,25% nesta semana. Para 2026, foco do horizonte relevante de atuação do BC, as expectativas baixaram de 4,51% para 4,50% --o dado ficou inalterado em 4,00% para 2027.
O centro da meta contínua para a inflação neste e nos próximos anos é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Em meio ao debate sobre as tarifas de importação do governo Trump e a escalada de conflitos no Oriente Médio, o BC afirmou no comunicado que o ambiente externo segue adverso e incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, ressaltando que o cenário demanda cautela “em ambiente de acirramento da tensão geopolítica”.
Mais cedo nesta quarta-feira, o banco central dos Estados Unidos manteve a taxa de juros inalterada. Seus membros sinalizaram que os custos dos empréstimos ainda devem cair neste ano, mas reduziram o ritmo geral dos futuros cortes esperados diante da estimativa de inflação mais alta decorrente das tarifas do governo Trump.
(Por Bernardo Caram, edição de Pedro Fonseca e Isabel Versiani)
Reuters