BHP chama de 'injustificada' alegação de que teria colocado lucro acima da segurança no caso de Mariana
BHP chama de 'injustificada' alegação de que teria colocado lucro acima da segurança no caso de Mariana
Reuters
23/10/2024
Por Sam Tobin
LONDRES (Reuters) - A BHP disse nesta quarta-feira que as alegações de que uma busca pelo lucro em detrimento da segurança teriam contribuido para o pior desastre ambiental do Brasil eram 'improváveis e injustificadas', enquanto a mineradora abria sua defesa para um processo gigantesco no Tribunal Superior de Londres.
Mais de 600.000 brasileiros, 46 governos locais e cerca de 2.000 empresas estão processando a BHP pelo rompimento de barragem em Mariana (MG), em 2015, que era de propriedade da Samarco, uma joint venture da BHP com a brasileira Vale.
O rompimento da barragem desencadeou uma onda de rejeitos de minério de ferro que matou 19 pessoas, deixou centenas de desabrigados, inundou florestas e poluiu toda a extensão do rio Doce, até o mar do Espírito Santo.
Os advogados dos reclamantes acusaram a BHP de tentar 'cinicamente e obstinadamente' evitar a responsabilidade enquanto o julgamento de uma ação judicial avaliada em até 36 bilhões de libras (47 bilhões de dólares), uma das maiores da história jurídica inglesa, começou na segunda-feira.
Eles também alegam que a BHP contribuiu para o colapso da barragem ao permitir que ela fosse elevada como parte de um projeto de expansão, apesar do risco crescente de falha.
A BHP, a maior mineradora do mundo em valor de mercado, está contestando a responsabilidade e diz que o processo de Londres duplica procedimentos legais e programas de reparação e reparo no Brasil e deve ser rejeitado.
A mineradora argumenta que não possuía nem operava a barragem, que continha resíduos do processamento de minério de ferro conhecidos como rejeitos, e que a Samarco operava de forma independente. Ela também diz que não tinha conhecimento de que a estabilidade da barragem estava comprometida antes de seu colapso.
A advogada da BHP, Shaheed Fatima, disse ao tribunal nesta quarta-feira que o caso contra a companhia fundamentalmente falho.
'Os reclamantes parecem dizer que a BHP estava tão motivada a lucrar com seu investimento na Samarco que eles assumiram o volante, operaram o negócio, colocaram os lucros antes da segurança', disse ela. 'Isso é irrealista e ilógico.'
Fatima acrescentou: 'A alegação de lucros antes da segurança é particularmente absurda e injustificada.'
Ela disse que o ex-diretor financeiro da BHP Peter Beaven, que deve prestar depoimento no mês que vem, disse em uma declaração de testemunha: 'A BHP tinha uma cultura que estava enraizada em toda a organização, de cima a baixo, de segurança antes de qualquer outra coisa.'
O julgamento de 12 semanas em andamento para determinar se a BHP é responsável perante os reclamantes ocorre enquanto as negociações das autoridades brasileiras com BHP, Vale e Samarco sobre um acordo de indenização de quase 30 bilhões de dólares continuam.
Fontes próximas às negociações disseram à Reuters que um acordo final poderia ter impacto no processo de Londres, uma sugestão que o escritório de advocacia dos reclamantes, Pogust Goodhead, rejeitou.
(Reportagem de Sam Tobin)
Reuters