Brasil ingressará em ação na Corte Internacional de Justiça que acusa Israel de genocídio em Gaza
Brasil ingressará em ação na Corte Internacional de Justiça que acusa Israel de genocídio em Gaza
Reuters
23/07/2025
Atualizada em 23/07/2025
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil ingressará formalmente na ação aberta pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ) que acusa Israel de genocídio em Gaza, informou nesta quarta-feira o Itamaraty.
Em nota, o governo brasileiro afirmou que a decisão foi fundamentada 'no dever dos Estados de cumprir com suas obrigações de Direito Internacional e Direito Internacional Humanitário', diante do fato de que os direitos dos palestinos estão sendo 'irreversivelmente prejudicados'.
O Brasil já havia apoiado o abertura da ação pela África do Sul, no ano passado. Agora, depois do que considera uma escalada de Israel nos ataques a Gaza, decidiu pela participação oficial na ação, que será feita a partir da submissão de intervenção formal no processo da CIJ.
A África do Sul move uma ação na CIJ alegando que Israel violou suas obrigações sob a Convenção do Genocídio de 1948 na retaliação ao grupo palestino Hamas em Gaza. Outros países, como Espanha, Turquia e Colômbia, já haviam solicitado ao tribunal que interviesse no caso.
Na nota, o governo brasileiro expressou 'profunda indignação' com os acontecimentos em Gaza, com o uso da fome como arma de guerra, a violência indiscriminada e outras violações dos direitos humanos.
'A comunidade internacional não pode permanecer inerte diante das atrocidades em curso. O Brasil considera que já não há espaço para ambiguidade moral nem omissão política. A impunidade mina a legalidade internacional e compromete a credibilidade do sistema multilateral', disse o governo brasileiro.
Em nota, a embaixada de Israel negou que o país esteja cometendo genocídio em Gaza.
'A iniciativa da África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ) não reflete a complexidade e a realidade que nossas equipes veem em campo', disse a embaixada.
'Lamentamos profundamente que pessoas inocentes estejam sendo afetadas na guerra contra o Hamas, e buscamos evitar qualquer dano a civis em nossas ações, o que torna essas acusações infundadas.'
A embaixada pontuou ainda que, conforme relatórios da Fundação Humanitária de Gaza, '85 milhões de porções de comida foram entregues na Faixa de Gaza nos últimos dois meses'. A Fundação Humanitária de Gaza é uma organização que busca distribuir ajuda humanitária em Gaza, tendo iniciado seus trabalhos com o apoio de Israel e dos EUA.
'Entendemos a dificuldade de garantir que essa ajuda chegue às pessoas que realmente precisam, especialmente diante da ameaça de que o Hamas roube os suprimentos, o que cria a difícil situação que vemos entre os palestinos. No entanto, o Estado de Israel está plenamente comprometido com essa ajuda, e nossos esforços negam qualquer acusação de uso da fome como arma', disse a embaixada na nota.
Já a Confederação Israelita do Brasil (Conib) criticou a posição do governo brasileiro. 'A nota oficial do governo Lula sobre o trágico conflito em Gaza mais uma vez demonstra como a política externa brasileira abandonou sua tradição de equilíbrio e moderação sob o comando do presidente Lula', afirmou a entidade em nota.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é há muito tempo um crítico ferrenho das ações de Israel em Gaza, a quem acusa de genocídio, mas a decisão de quarta-feira tem um significado adicional em meio às tensões crescentes entre o Brasil e os Estados Unidos, que se opuseram ao caso apresentado pela África do Sul mesmo ainda sob o governo do ex-presidente Joe Biden.
Em fevereiro, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou um decreto para cortar a assistência financeira dos EUA à África do Sul, citando em parte o caso da CIJ.
Há duas semanas, o governo norte-americano anunciou que aplicará tarifas de 50% sobre as importações brasileiras, alegando perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump.
Questionado sobre se essa decisão brasileira de se unir à ação sul-africana poderia piorar ainda mais a relação do Brasil com os EUA, um diplomata envolvido no tema disse à Reuters não acreditar que possa haver um impacto no relacionamento com os norte-americanos decorrente da ação.
'O presidente Lula diz que o que acontece em Gaza é um genocídio há mais de um ano', avaliou.
Reuters