Capa do Álbum: Antena 1
A Rádio Online mais ouvida do Brasil
Antena 1

Em momento histórico, Câmara conclui votação da reforma tributária, que deve ser promulgada semana que vem

Em momento histórico, Câmara conclui votação da reforma tributária, que deve ser promulgada semana que vem

Reuters

15/12/2023

Placeholder - loading - Plenário da Câmara dos Deputados 20/12/2022 REUTERS/Adriano Machado
Plenário da Câmara dos Deputados 20/12/2022 REUTERS/Adriano Machado

Atualizada em  15/12/2023

Por Maria Carolina Marcello e Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - A Câmara dos Deputados aprovou a reforma tributária nesta sexta-feira em dois turnos e com placar folgado, em uma votação histórica após décadas de discussão e a partir de acordo do governo com parlamentares, conferindo uma vitória ao Executivo e abrindo caminho para que ela seja promulgada ainda este ano.

Ainda que seja considerada uma conquista para o governo -- o texto-base foi aprovado em primeiro turno por 371 votos favoráveis, bem acima do mínimo necessário de 308, e por 365 no segundo --, a conclusão da reforma tributária atesta a força política do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

O texto aprovado nesta sexta-feira, dia incomum para votações no Congresso, preserva a estrutura central da proposta, mas suprime alguns trechos incluídos pelos senadores após uma primeira análise da Câmara, onde teve sua tramitação iniciada.

A ideia dos parlamentares que negociavam a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) era promover apenas supressões de dispositivos para evitar que o texto tivesse de retornar ao Senado. Assim, garantiram que ela possa ser promulgado ainda neste ano, muito provavelmente na próxima semana, a última de funcionamento do Congresso antes do recesso parlamentar.

A votação da reforma foi acelerada após um acordo firmado em almoço na terça-feira entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da Câmara, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Reportagem da Reuters publicada na quinta mostrou que o governo concordou com a derrubada de veto a trecho do arcabouço fiscal que permitia o contingenciamento das emendas de comissão em troca da aprovação da reforma tributária e de outras matérias da pauta econômica.

A expressiva liberação de emendas parlamentares na reta final dessas negociações também contribuiu, segundo fontes do Congresso, para aumentar a disposição de deputados e senadores para realizar as votações.

PRÓXIMOS PASSOS

A efetiva implementação do novo sistema ocorrerá após período de transição e ainda dependerá da aprovação de leis complementares de regulamentação.

A reforma substitui PIS e Cofins (federais) por uma Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), e aglutina ICMS (estadual) e ISS (municipal) em um Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).

Pouco depois de a Câmara aprovar o texto-base em primeiro turno, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que sua equipe terá que calcular o impacto das mudanças feitas pela Câmara dos Deputados na reforma tributária, mas avaliou que a alíquota padrão do novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA) deve seguir próximo à faixa anteriormente estimada.

A Fazenda havia calculado que a alíquota padrão do IVA -- a ser definida posteriormente em projeto de lei -- ficaria entre 25,9% e 27,5%, a partir de mudanças à proposta aprovadas no Senado.

O texto define que será criado um imposto seletivo a ser cobrado na produção ou comercialização de bens e serviços prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, podendo incidir também sobre armamentos.

O novo sistema terá um teto para a arrecadação da tributação sobre consumo, mantendo patamar equivalente à média da receita observada no período de 2012 a 2021 como proporção do PIB.

A proposta define ainda que o Fundo de Desenvolvimento Regional, destinado a compensar Estados impactados pelas novas regras, receberá um aporte anual total que, após período de transição, chegará a 60 bilhões de reais em 2043.

O novo modelo ainda terá um sistema de 'cashback', que retornará parte do tributo a famílias mais pobres. O mecanismo será regulamentado posteriormente.

EXCLUSÕES

O relator da proposta, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), excluiu do texto alguns regimes tributários diferenciados adicionados pelo Senado a setores específicos, como saneamento, concessão de rodovias, transporte aéreo, economia circular, energia solar e combustíveis.

'Não podemos perder de vista que a redução da alíquota para um bem ou serviço adquirido pelo consumidor final implicará o aumento da alíquota para o restante da economia', argumentou o relator, no parecer.

Em outra alteração, foi eliminada a regra que previa a criação de uma cesta básica estendida com desconto de 60% na tributação. Esse benefício seria complementar à cesta básica principal, isenta do tributo.

O texto do Senado previa a criação de uma Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) para estimular a competitividade da Zona Franca de Manaus, mas o dispositivo foi suprimido por Ribeiro. Será mantida previsão de cobrança de IPI para essa finalidade.

'Diante da forte rejeição à ideia de tributar as demais unidades da Federação com uma Cide, com o objetivo de aumentar a competitividade da região amazônica, e ainda direcionar os recursos desse tributo para a mesma região, chegou-se ao consenso de se alterar o modelo de benefício da ZFM, mantendo a vantagem competitiva da região com o uso do IPI e não da Cide', explicou o deputado no relatório.

Ainda em relação à Zona Franca, foi eliminada a possibilidade de empresas da região importarem combustíveis com favorecimento tributário.

Outra supressão diz respeito a dispositivo que premiaria Estados que ampliassem sua arrecadação durante o período de transição da reforma. O dispositivo havia sido alvo de críticas de governadores, que passaram a anunciar aumentos de tributos estaduais em busca de turbinar receitas.

O relator eliminou ainda artigo que autorizaria servidores públicos estaduais e municipais a alcançar o limite remuneratório dos servidores federais, que é mais alto.

Em destaques aprovados depois da votação do texto-base em primeiro turno, deputados retiraram do texto dispositivos que permitiam que fabricantes de peças automotivas se beneficiassem com incentivo fiscal para instalação de montadoras nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Nos minutos finais de votação da proposta em segundo turno, foi aprovado um destaque retirando do texto a possibilidade de a União instituir o imposto seletivo – destinado a desestimular o consumo de bens e serviços considerados prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente – sobre armas e munições.

Eram necessários ao menos 308 votos para manter esse trecho no texto, mas o número de deputados que votou pela manutenção não passou de 293, razão pela qual o dispositivo foi excluído.

O advogado Anderson Trautman Cardoso, sócio da área Tributária do Souto Correa Advogados, avaliou a aprovação da reforma tributária como positiva, mas lembrou que ela ainda carece de leis posteriores para que seja regulamentada.

'É um momento histórico para o Brasil, mas muitos pontos ficaram para ser tratados em lei complementar, de modo que o efetivo efeito benéfico da reforma dependerá dessa regulamentação', ponderou Cardoso.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) comemorou: 'O país passará a ter um sistema tributário mais moderno, transparente e alinhado às melhores práticas internacionais, simplificando a vida de quem gera emprego e renda no Brasil'.

(Reportagem de Maria Carolina Marcello e Bernardo Caram)

Reuters

Compartilhar matéria

Mais lidas da semana

 

Carregando, aguarde...

Este site usa cookies para garantir que você tenha a melhor experiência.