Prevost surpreende como primeiro papa dos EUA, e assume o nome de Leão 14

Por Joshua McElwee e Crispian Balmer e Philip Pullella

CIDADE DO VATICANO (Reuters) - O cardeal Robert Prevost, um missionário por muito tempo na América Latina, foi eleito nesta quinta-feira como a escolha surpresa para ser o novo líder da Igreja Católica, tornando-se o primeiro papa norte-americano e assumindo o nome de Leão 14.

O papa Leão apareceu na sacada central da Basílica de São Pedro cerca de 70 minutos depois de a fumaça branca ter saído da chaminé no topo da Capela Sistina, indicando que os 133 cardeais eleitores haviam escolhido um novo líder para a Igreja Católica de 1,4 bilhão de membros.

'A paz esteja convosco', disse o novo papa à multidão que o aplaudia, falando em italiano fluente. Ele também falou em espanhol durante seu breve discurso, mas não disse nada em inglês.

Com 69 anos e natural de Chicago, Prevost passou a maior parte de sua carreira como missionário no Peru e se tornou cardeal somente em 2023. Ele deu poucas entrevistas à mídia e é conhecido por ter uma personalidade tímida.

O presidente dos EUA, Donald Trump, parabenizou rapidamente Prevost por se tornar o primeiro papa dos EUA. 'Que emoção e que grande honra para nosso país. Estou ansioso para conhecer o papa Leão 14. Será um momento muito significativo!'

No entanto, o novo papa tem um histórico de críticas às políticas de Trump e do vice-presidente JD Vance, de acordo com publicações na conta X de Robert Prevost.

Massimo Faggioli, um acadêmico italiano que acompanha o papado de perto, sugeriu que o teor da Presidência de Trump pode ter influenciado os cardeais a escolher um papa dos EUA, que poderia rebater diretamente o presidente.

'A agitação internacional da retórica da Presidência de Trump, paradoxalmente, tornou possível o impossível', disse Faggioli, professor da Universidade Villanova, nos EUA.

'Trump quebrou muitos tabus, o conclave agora fez o mesmo -- em um tom muito diferente.'

ELOGIOS DO PERU

A nomeação foi bem recebida pela presidente peruana, Dina Boluarte.

'Sua proximidade com os mais necessitados deixou uma marca indelével nos corações do Peru', disse seu gabinete em um post no X.

Leão se torna o 267º papa católico após a morte no mês passado do papa Francisco, o primeiro papa latino-americano e que liderou a Igreja por 12 anos.

Francisco buscou amplamente abrir a instituição para o mundo moderno, promulgando uma série de reformas e permitindo o debate sobre questões polêmicas, como a ordenação de mulheres e a melhor inclusão de católicos LGBT.

Leão agradeceu a Francisco em seu discurso e repetiu o apelo de seu predecessor por uma Igreja que esteja engajada com o mundo moderno e 'sempre buscando a paz, a caridade e a proximidade com as pessoas, especialmente aquelas que estão sofrendo'.

Ele não era visto como um dos favoritos e houve um breve momento de incerteza quando seu nome foi anunciado para a Praça de São Pedro, que estava lotada, antes de as pessoas começarem a bater palmas e aplaudir.

'Estou simplesmente emocionado. Espero que isso possa trazer para os Estados Unidos uma comunidade mais amorosa. Acho que há muito ódio nos Estados Unidos. Acho que há muito racismo. Já passei por isso', disse Lailah Brown, de 28 anos, afro-norte-americana de Seattle.

'Espero que os Estados Unidos não envergonhem o papa', disse ela.

Ao contrário de Francisco, que dispensou grande parte dos ornamentos do papado, Prevost usou uma vestimenta papal vermelha tradicional sobre sua batina branca quando apareceu pela primeira vez como Leão 14.

O SNAP, um grupo de defesa das vítimas de abuso sexual clerical com sede nos EUA, expressou 'grave preocupação' com sua eleição, renovando as acusações de que Prevost não tomou medidas contra padres suspeitos de abuso no passado em Chicago e no Peru.

'Você pode acabar com a crise dos abusos -- a única pergunta é: você vai?', disse a organização em um comunicado dirigido ao novo papa.

Em uma entrevista ao site Vatican News em 2023, Prevost disse que a Igreja deve ser transparente e honesta ao lidar com as alegações de abuso.

CHICAGO COMEMORA

Uma multidão de clérigos e membros do corpo de funcionários da União Teológica Católica de Chicago irrompeu em uma alegre comemoração quando o papa Leão saiu para a sacada do Vaticano, cerca de quatro décadas depois de ter se formado na escola de South Side.

Foi uma 'explosão de entusiasmo e aplausos que se espalhou pela sala... muitos de nós estávamos simplesmente incrédulos e não conseguíamos encontrar palavras para expressar nossa alegria, nosso orgulho', disse a irmã Barbara Reid, presidente da escola de teologia.

O papa Leão se formou na escola em 1982 com um mestrado. Reid chamou Leão de intelectualmente brilhante, dizendo que ele tem um coração extraordinariamente compassivo.

'É uma mistura incomum que faz dele um líder capaz de pensar criticamente, mas que ouve o clamor dos mais pobres e sempre tem em mente os mais necessitados', disse ela.

O NOME LEÃO

O último papa a usar o nome de Leão liderou a Igreja de 1878 a 1903 e era conhecido por seu foco dedicado a questões de justiça social, e é frequentemente creditado por estabelecer a base para o ensino social católico moderno.

Prevost atraiu o interesse de seus pares por causa de seu estilo discreto e apoio a Francisco, especialmente seu compromisso com as questões de justiça social.

Prevost serviu como bispo em Chiclayo, no noroeste do Peru, de 2015 a 2023.

Francisco o levou a Roma naquele ano para chefiar o dicastério do Vaticano encarregado de escolher quais padres deveriam servir como bispos católicos em todo o mundo, o que significa que ele participou da seleção de muitos dos bispos do mundo.

(Reportagem de Joshua McElwee, Crispian Balmer, Philip Pullella, Alvise Armellini, Angelo Amante e Keith Weir;

reportagem adicional de Brendan O'Brien em Chicago)

((Tradução Redação São Paulo)) REUTERS CMO AC