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CASOS DE SÍNDROME RESPIRATÓRIA VOLTAM A CRESCER NO BRASIL

CENÁRIO EXPÕE VACINAS DESATUALIZADAS E ENFRAQUECIMENTO DE CAMPANHAS NACIONAIS

João Carlos

05/09/2025

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Crédito da imagem: gerada por IA

Cinco anos após o início da pandemia, o Brasil volta a registrar crescimento nos casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) associados à Covid-19. Boletim da Fiocruz (InfoGripe) referente à Semana Epidemiológica 35 (24 a 30 de agosto de 2025) apontou que o coronavírus voltou a ser a principal causa de internação por SRAG entre idosos em estados como Rio de Janeiro e Amazonas, além de indicar aumento de notificações em regiões como São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Distrito Federal, Piauí e Paraíba.

Embora o número total de casos graves ainda seja considerado baixo, a tendência preocupa especialistas. A Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde também confirmou em boletim divulgado em 4 de setembro de 2025 que a circulação do vírus está em aceleração em diferentes pontos do país. O cenário reforça a necessidade de medidas preventivas claras, campanhas públicas abrangentes e atualização do calendário vacinal.

Vacinas paradas em 2022

Enquanto países como EUA, Europa e Japão já atualizaram seus imunizantes contra cepas como XBB.1.5 (2023–2024), JN.1 (2024–2025) e JN.1 LP.8.1 (2025–2026), o Brasil ainda aplica em grande escala a vacina bivalente de 2022 (BA.4/BA.5) no âmbito do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Essa defasagem significa que a fórmula usada hoje no SUS oferece proteção reduzida contra as variantes em circulação, descendentes da JN.1. Estudos internacionais já demonstraram que as vacinas atualizadas protegem até 3 a 4 vezes mais contra hospitalizações do que a bivalente de três anos atrás. Embora o Brasil tenha recebido um lote inicial da vacina JN.1 em maio de 2025, a distribuição foi limitada e sem grande mobilização nacional.

Campanhas segmentadas e falta de mobilização

Desde 2025, a vacinação contra a Covid-19 passou a integrar o Calendário Nacional de Vacinação para gestantes e idosos, com rotinas específicas — como uma dose por gestação e reforço a cada seis meses para maiores de 60 anos. Além disso, outros grupos especiais (como imunossuprimidos) mantêm esquemas estabelecidos com periodicidade anual ou semestral. O resultado pode ser um ciclo vicioso: a ausência de campanhas mais amplas leva à baixa adesão, que reduz a ateção de parte da população e, consequentemente, diminui ainda mais a procura.

Essa estratégia reduz o alcance da mensagem de prevenção e reforça a percepção equivocada de que a Covid deixou de ser um problema coletivo. Ao restringir o foco a grupos prioritários, perde-se a oportunidade de conscientizar toda a população sobre a importância da vacinação contínua, sobretudo diante das rápidas mutações do vírus.

Riscos da defasagem

Outro ponto: manter a população com vacinas desatualizadas significa correr riscos que poderiam ser evitados. Os grupos mais frágeis — idosos, pessoas com comorbidades e imunossuprimidos — ficam mais expostos às formas graves da doença. Esse descompasso também pressiona o SUS, que gasta mais recursos com internações que poderiam ser prevenidas.

Há ainda um efeito colateral preocupante: quando alguém recebe uma dose que já não acompanha as variantes em circulação e mesmo assim adoece, reforça-se a impressão de que a vacina “não funciona”, alimentando a desconfiança e reduzindo ainda mais a adesão.

O que poderia ser feito

A saída passa por duas frentes complementares. De um lado, é urgente que o Brasil atualize o Programa Nacional de Imunizações com as vacinas mais modernas, já aplicadas em diversos países e com eficácia comprovada contra as variantes mais recentes. De outro, é fundamental reforçar campanhas nacionais de vacinação capazes de mobilizar toda a sociedade, e não apenas grupos prioritários.

Essa comunicação deve ser simples, direta e transparente, para mostrar por que a atualização constante é necessária e recuperar a confiança perdida. Somado a isso, o fortalecimento da vigilância epidemiológica ajudaria a identificar tendências mais cedo e embasar decisões rápidas, evitando que o país fique novamente para trás.

O próximo movimento precisa ser coletivo

O Brasil não está atrasado por falta de ciência ou tecnologia, mas por falta de atualização de políticas públicas de imunização e de campanhas de conscientização em larga escala. Enquanto países incorporaram a rotina anual de atualização vacinal contra a Covid-19, o Brasil segue preso a 2022, vulnerável e menos protegido diante de novas variantes.

Em meio ao aumento dos casos de síndrome respiratória e ao risco de internações evitáveis, a mensagem é clara: a imunização precisa voltar ao centro do debate público, com campanhas nacionais abrangentes e vacinas atualizadas para todos os brasileiros.

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