Celso de Mello diz que na democracia não há espaço descumprimento arbitrário de decisão judicial
Celso de Mello diz que na democracia não há espaço descumprimento arbitrário de decisão judicial
Reuters
18/06/2020
Atualizada em 18/06/2020
BRASÍLIA (Reuters) - Ao dar o nono voto a favor da legalidade do inquérito das fake news, o ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou uma série de recados indiretos ao governo Jair Bolsonaro nesta quinta-feira.
Celso de Mello disse que no Estado Democrático de Direito não há espaço para 'voluntário e arbitrário descumprimento de decisões judiciais'.
Alvo de críticas de Bolsonaro e aliados, Celso de Mello disse que o cumprimento de decisões judicial revela o dever de 'fidelidade à Constituição' e que não fazê-lo pode implicar em crime de responsabilidade do presidente e de ministros. Esse tipo de crime, se for julgado procedente, importa em perda de mandato.
Segundo o magistrado, o Supremo, ao intervir para conter excessos de poder, faz isso de forma 'plenamente legítima' ao que conferiu a Constituição.
MÁQUINA
O decano justificou que o inquérito --cujo objetivo é investigar a divulgação de notícias falsas e ameaças a ministros do STF-- revelou que há uma máquina de fake news e que atua sob um manto de anonimato institucional.
Segundo ele, os resultado obtidos da apuração apontaram que a verdadeira máquina de fake news operava e continua a fazer com base em núcleos financeiro, decisório, político e operacional, semelhantes a organizações criminosas.
'Liberdade fundamental de pensamento não protege, não ampara atos criminosos, especialmente aquelas condutas que podem provocar lesão ao regime democrático', disse.
Pouco antes, o ministro Marco Aurélio Mello deu até agora o único voto a favor do pedido para suspender a tramitação do inquérito das fake news.
Para Marco Aurélio, a apuração pelo próprio Supremo viola o princípio da separação de funções em uma investigação criminal.
Com o placar de 9 a 1 pela legalidade do inquérito, falta apenas o voto do presidente do STF, Dias Toffoli.
(Reportagem de Ricardo Brito)
Reuters