Capa do Álbum: Antena 1
A Rádio Online mais ouvida do Brasil
Antena 1

CENÁRIO GLOBAL: PROJEÇÕES APÓS TARIFAS DOS EUA APONTAM RISCOS PARA O CRESCIMENTO

ECONOMIA MUNDIAL PODE PERDER ATÉ US$ 2 TRILHÕES ATÉ 2027, SEGUNDO ESTIMATIVAS

João Carlos

02/09/2025

Placeholder - loading - Crédito da imagem: gerada por IA
Crédito da imagem: gerada por IA

O início de setembro traz um quadro complexo para a economia global. Apesar de sinais positivos, como a revisão de alta nas projeções de crescimento do FMI, os efeitos das novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos levantam alertas sobre inflação persistente, retração do comércio internacional e maior incerteza nos mercados.

Crescimento global revisado para cima, mas com ressalvas

O FMI revisou discretamente para cima suas previsões: agora projeta 3,0% de crescimento em 2025 e 3,1% em 2026. A melhora, no entanto, não veio de um choque de produtividade ou de uma guinada de confiança, mas sim de um fenômeno menos animador — o chamado front-loading. Empresas e consumidores correram para antecipar compras antes que as novas tarifas americanas entrassem em vigor, inflando artificialmente os números de curto prazo.

Essa “injeção de fôlego”, contudo, carrega uma nota de cautela: o próprio Fundo alerta que o ambiente não mudou estruturalmente. Pelo contrário, novas rodadas de tarifas, tensões geopolíticas e déficits fiscais em alta estão na lista de riscos imediatos. Em comunicado, o organismo classificou a escalada tarifária como “um dos maiores riscos à estabilidade da economia mundial”.

Nos Estados Unidos, onde as tarifas atingiram uma taxa efetiva de 17,3%, o maior patamar desde a década de 1930, o impacto já aparece no bolso. Um estudo do Federal Reserve mostrou que, só nos primeiros meses de 2025, os custos adicionais adicionaram 0,3 ponto percentual à inflação de bens do núcleo e 0,1 p.p. ao núcleo do PCE. Setores como vestuário e eletrônicos foram os primeiros a sentir a pressão. Como lembrou o Peterson Institute for International Economics (PIIE), “tarifas são impostos sobre consumidores” — e, desta vez, o efeito foi imediato.

Do lado do comércio global, a fotografia também está longe de ser estável. A OMC reporta que 2025 deve encerrar com uma leve alta de 0,9% no volume de bens negociados. O dado surpreende positivamente porque se esperava retração, mas, mais uma vez, o motor foi o front-loading. O alerta está em 2026: a projeção caiu para 1,8%, ante os 2,5% esperados antes. Ou seja, o impulso momentâneo deve ser seguido de desaceleração.

Em entrevista recente, a diretora-geral da OMC não poupou palavras: trata-se de uma “perturbação sem precedentes nas regras do comércio internacional”. O diagnóstico reforça a leitura de que a economia global vive um momento paradoxal — números aparentemente melhores à primeira vista, mas sustentados por movimentos de defesa, e não por dinamismo real.

Até US$ 2 trilhões de perdas até 2027

Uma análise da Bloomberg Economics calculou que as tarifas podem custar até US$ 2 trilhões à economia global até 2027. O efeito se dá pela combinação de três fatores:

  1. Redução dos investimentos devido à incerteza;
  2. Reconfiguração das cadeias de suprimentos, com empresas buscando alternativas fora dos EUA e da China;
  3. Aumento dos preços ao consumidor, que reduz o poder de compra e desacelera a demanda.

Os países mais afetados

China, Japão e União Europeia: devem sentir os efeitos mais fortes nas exportações, com projeções de menor crescimento em 2026.

Brasil: estudos do FMI e da OCDE apontam que os setores de commodities e manufaturados podem perder competitividade, reduzindo as exportações para os EUA. O governo brasileiro já avalia medidas de estímulo interno para mitigar os impactos.

Uma década mais difícil pela frente

O Banco Mundial projeta que a combinação entre tarifas comerciais mais altas, instabilidade política e queda da confiança nos mercados pode inaugurar uma década especialmente desafiadora para a economia global. A instituição não enxerga uma recessão global iminente, mas alerta para o risco de um período prolongado de crescimento fraco, marcado por inflação persistente em várias regiões e por um comércio internacional cada vez mais fragmentado.

Segundo o relatório mais recente, a fragmentação geoeconômica — acentuada pelas políticas tarifárias dos Estados Unidos e pela resposta de parceiros comerciais — tende a reconfigurar fluxos de investimento, reduzir ganhos de eficiência e elevar custos de produção. Esses fatores, combinados, podem limitar a produtividade mundial por vários anos.

Além disso, a instituição alerta que o ambiente político instável em grandes economias, somado a déficits fiscais elevados, pode agravar a vulnerabilidade dos países emergentes, que já enfrentam maior custo de financiamento e menor espaço fiscal para estímulos.

Economistas ligados ao Banco Mundial avaliam que esse quadro pode inaugurar uma espécie de “nova era de mediocridade econômica”: sem colapso imediato, mas com dificuldades para retomar o dinamismo visto nas décadas anteriores à pandemia. O comércio global, que sempre foi motor do crescimento, pode deixar de cumprir esse papel caso barreiras tarifárias e medidas protecionistas se tornem regra.

Em síntese, o organismo aponta que o desafio não é apenas atravessar 2025 e 2026, mas garantir condições para que os próximos dez anos não se transformem em uma década perdida para o crescimento global.

A visão de outros economistas

Para a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, o desafio é duplo: “De um lado, tarifas elevam os preços e dificultam o trabalho dos bancos centrais. De outro, reduzem o comércio e o investimento, que são motores do crescimento”.

Já Adam Posen, presidente do PIIE, afirmou em entrevista recente que “a insistência em medidas protecionistas pode ter um custo global muito maior do que os ganhos políticos imediatos”.

No meio acadêmico, estudos do Federal Reserve (IFDP) reforçam que tarifas sobre insumos não apenas encarecem a produção, mas propagam pressões inflacionárias ao longo de toda a cadeia de valor, afetando setores que, em tese, não seriam diretamente impactados.

Crescimento moderado, riscos elevados

O cenário até o momento é de crescimento moderado com inflação persistente. O FMI e a OMC confirmam que o curto prazo ainda traz algum fôlego para o comércio, mas 2026 deve mostrar os efeitos plenos das tarifas.

Se as previsões mais pessimistas se confirmarem, a economia mundial pode perder até US$ 2 trilhões em produção até 2027, redesenhando cadeias globais e inaugurando uma fase de maior incerteza.

Compartilhar matéria

Mais lidas da semana

 

Carregando, aguarde...

Este site usa cookies para garantir que você tenha a melhor experiência.