COMBUSTÍVEL VERDE É TESTADO COM SUCESSO POR STARTUP NORUEGUESA
RESULTADO DE UMA NOVA TECNOLOGIA SINTÉTICA E LIMPA, O COMBUSTÍVEL JÁ ESTÁ SENDO UTILIZADO EM VOOS COMERCIAIS
João Carlos
18/07/2025
Em pleno 2025, aviões comerciais já estão voando com um combustível feito a partir de CO₂ capturado do ar, água do mar e energia renovável. O feito inédito vem sendo realizado por uma startup norueguesa chamada CarbonWings, que opera em um aeródromo remoto nas Ilhas Lofoten, no extremo norte do país. A proposta representa um salto técnico e ambiental no desenvolvimento de combustíveis verdes para aviação.
Como o combustível é produzido

A base do processo é o chamado e-querosene, um combustível sintético de aviação quimicamente idêntico ao querosene fóssil, mas produzido com zero emissões líquidas de carbono. O sistema funciona assim: torres alimentadas por energia eólica capturam dióxido de carbono diretamente da atmosfera, enquanto a água do mar é dessalinizada e submetida à eletrólise para gerar hidrogênio verde. Em seguida, por meio do processo de síntese Fischer-Tropsch, o CO₂ e o hidrogênio são transformados em hidrocarbonetos líquidos.
O resultado é um combustível sustentável, compatível com aeronaves comerciais já existentes, que dispensa mudanças estruturais nos motores e infraestrutura aeroportuária. Trata-se de uma solução plug-and-play para descarbonizar a aviação — uma das indústrias mais difíceis de transformar energeticamente.
Testes bem-sucedidos e impacto ambiental
Segundo a própria empresa, voos de teste já estão sendo realizados com aeronaves comerciais usando uma mistura de até 50% do novo combustível. Os resultados são promissores: as emissões de carbono foram reduzidas em mais de 80%, e os testes demonstraram desempenho técnico e segurança equivalentes ao querosene convencional. A inovação já atende aos rigorosos padrões da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI).
Além disso, o sistema da CarbonWings funciona fora da rede elétrica tradicional, utilizando apenas energia eólica local — o que fortalece sua independência energética e reduz o impacto ambiental da produção.
Microrrefinarias: próxima fase da revolução
A CarbonWings pretende expandir o projeto por meio de microrrefinarias costeiras, localizadas próximas a aeroportos estratégicos na Europa. A meta é iniciar a produção comercial em escala a partir de 2027, com apoio de incentivos do governo norueguês e de créditos de carbono da União Europeia.
Com essa abordagem, a empresa espera transformar zonas costeiras com acesso a vento e água do mar em polos de produção de combustível limpo para aviação, descentralizando o fornecimento e ampliando a viabilidade do e-querosene.
O avanço dos combustíveis alternativos na aviação

O projeto da CarbonWings se soma a outras iniciativas que vêm impulsionando o mercado de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, na sigla em inglês). Além de e-querosene, tecnologias baseadas em resíduos, biomassa, e até combustíveis à base de algas vêm sendo exploradas como alternativas reais para reduzir as emissões do setor aéreo.
Segundo dados da organização Transport & Environment, mais de 40 projetos de e-combustíveis estão em desenvolvimento na Europa. A Noruega, por sua vocação energética e compromisso ambiental, lidera parte significativa dessas iniciativas.
Do céu para o futuro
Se esse modelo se consolidar, as longas distâncias podem deixar de ser vilãs climáticas e se tornar parte da solução global de descarbonização. A proposta da CarbonWings não apenas desafia paradigmas — ela reimagina a aviação como um elo da transição ecológica e dá novo uso àquilo que antes era visto apenas como problema: o CO₂ atmosférico.
O futuro dos combustíveis alternativos, ao que tudo indica, não está mais nas prateleiras de laboratórios. Ele já está decolando — com água, vento, carbono... e muita inovação.