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COMO O SANGUE HUMANO ESTÁ AJUDANDO A RESTAURAR A RETINA

TÉCNICA INOVADORA COM CÉLULAS-TRONCO ABRE CAMINHO PARA NOVOS TRATAMENTOS CONTRA A DEGENERAÇÃO MACULAR

João Carlos

11/07/2025

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Crédito da imagem: gerada por IA

Um dos avanços mais promissores da medicina regenerativa nos últimos anos envolve o uso de células do próprio sangue para cultivar células da retina e restaurar a visão de pacientes com degeneração macular relacionada à idade (DMRI) — uma das principais causas de cegueira no mundo.

Desde o final dos anos 2000, pesquisadores vêm testando uma abordagem que utiliza células-tronco pluripotentes induzidas (iPS), obtidas do sangue ou da pele do próprio paciente, para gerar células do epitélio pigmentar da retina (EPR) — uma camada fundamental que sustenta os fotorreceptores responsáveis por captar a luz e transformar os estímulos visuais em sinais cerebrais. Os primeiros ensaios clínicos em humanos com essa técnica começaram por volta de 2014, marcando um novo capítulo na medicina regenerativa ocular.

Da corrente sanguínea à esperança visual

As células iPS são reprogramadas em laboratório para se comportarem como células-tronco embrionárias. A partir delas, os cientistas conseguem induzir a formação de células especializadas da retina, que são então transplantadas na região danificada do olho, com o objetivo de substituir o tecido deteriorado e recuperar parcialmente a função visual.

Por serem derivadas do próprio paciente, essas células reduzem o risco de rejeição imunológica, um dos grandes desafios dos transplantes oftalmológicos convencionais. Os primeiros testes em humanos, ainda em escala reduzida, já documentaram melhoras em aspectos visuais, como aumento de nitidez e redução de áreas cegas no campo de visão.

O que dizem os especialistas?

Estudos publicados em periódicos científicos e apresentados por instituições como o NIH (National Institutes of Health) e o Riken Center for Biosystems Dynamics Research no Japão, mostram que o transplante de células EPR derivadas de iPS pode preservar e até recuperar a função visual, especialmente em estágios iniciais da DMRI.

Segundo o pesquisadora Masayo Takahashi (em destaque acima), pioneira em terapias oculares com células iPS, “estamos entrando em uma nova era da oftalmologia, na qual o reparo celular é uma possibilidade real, segura e personalizada.”

O oftalmologista David Gamm (na imagem logo acima), da Universidade de Wisconsin, acrescenta: “Essas células não apenas sobrevivem após o transplante, como também desempenham funções essenciais que antes eram perdidas, como a nutrição dos fotorreceptores. É um avanço animador, embora ainda estejamos nos estágios iniciais de validação clínica.”

Como uma nova terapia se torna tratamento padrão?

Mesmo com resultados promissores, um tratamento inovador só pode ser incorporado à prática clínica após uma longa jornada científica e regulatória, que envolve várias etapas cuidadosamente monitoradas:

  1. Estudos pré-clínicos: a técnica é testada em laboratório e em modelos animais para avaliar segurança e eficácia básica.
  2. Fase 1 (ensaios clínicos iniciais): pequenos grupos de pacientes são tratados para testar a segurança da intervenção em humanos.
  3. Fase 2: testes ampliados com mais participantes buscam comprovar a eficácia do tratamento, definindo a melhor dose e abordagem.
  4. Fase 3: estudos multicêntricos com centenas ou milhares de pacientes comparam o novo tratamento com as melhores terapias já existentes.
  5. Aprovação regulatória: após resultados positivos, os dados são enviados a agências de saúde (como FDA, EMA ou ANVISA) para análise e aprovação.
  6. Incorporação clínica: após a aprovação, o tratamento pode ser disponibilizado na rede pública ou privada, com base em custo, demanda e infraestrutura disponível.
  7. Fase 4 (pós-comercialização): mesmo após aprovado, o tratamento continua sendo monitorado para identificar efeitos de longo prazo ou casos raros.

No caso das terapias com células da retina derivadas do sangue, o processo ainda está nas fases iniciais (1 e 2) — mas os dados já acumulados são considerados encorajadores por especialistas e podem acelerar os próximos passos.

Próximos passos e desafios

Embora os resultados iniciais sejam encorajadores, os ensaios clínicos precisam ser expandidos para incluir mais pacientes, diferentes perfis de idade e condições diversas da doença. Também será necessário acompanhar os efeitos a longo prazo para garantir a segurança, eficácia e estabilidade funcional das células transplantadas.

A expectativa dos pesquisadores é de que, nos próximos anos, esse tipo de terapia celular possa se tornar tratamento real com aplicações que vão além da DMRI, incluindo retinopatia pigmentária e lesões causadas por trauma ou inflamação.

Qual é o papel da biotecnologia nesse avanço?

A biotecnologia é fundamental no desenvolvimento dessas terapias porque envolve:

  • A reprogramação genética de células sanguíneas para que se tornem células-tronco pluripotentes (iPS);
  • O uso de bioengenharia e cultura celular para transformar essas células em células do epitélio pigmentar da retina (EPR);
  • O emprego de técnicas laboratoriais avançadas para garantir que essas células se comportem como células nativas da retina após o transplante.

Sem essas ferramentas e processos — que são frutos diretos da biotecnologia moderna — não seria possível produzir tecidos personalizados, seguros e viáveis para transplantes regenerativos.

Medicina regenerativa no centro da revolução visual

A união entre ciência médica e biotecnologia de ponta está reescrevendo os limites do que é possível no combate à cegueira. Por meio da reprogramação genética e do cultivo celular, a partir de uma simples amostra de sangue, pesquisadores abrem um novo horizonte terapêutico para milhões de pessoas com doenças degenerativas da retina. Um caminho que, até pouco tempo atrás, parecia improvável — e que hoje representa uma das frentes mais promissoras da medicina regenerativa ocular.

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