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COMO UMA CANÇÃO DE BOB GELDOF DEU ORIGEM AO LIVE AID

“DO THEY KNOW IT’S CHRISTMAS?” FOI O PONTO DE PARTIDA PARA UM DOS MAIORES EVENTOS MUSICAIS DA HISTÓRIA

João Carlos

12/07/2025

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Crédito da imagem: gerada por IA

Em 1984, a criação de uma canção natalina assinada por Bob Geldof, vocalista da banda The Boomtown Rats, foi o estopim de uma mobilização sem precedentes na história da música. No ano seguinte, essa mesma iniciativa daria origem ao Live Aid, festival beneficente que completa exatos 40 anos em 2025 e que mudou para sempre o papel da música pop no cenário humanitário global.

Mas antes de detalhar como a famosa canção “Do They Know It’s Christmas?” foi concebida, é importante entender quem é Bob Geldof — e por que sua trajetória artística e social o preparou para liderar uma das maiores ações filantrópicas da cultura pop.

Bob Geldof: o rockstar que transformou indignação em ação global

Antes de ser reconhecido como o homem por trás do Live Aid e da canção beneficente “Do They Know It’s Christmas?”, Bob Geldof já era um nome conhecido no cenário musical britânico. Nascido na Irlanda, em 1951, Geldof ficou famoso como vocalista da banda The Boomtown Rats, que estourou no fim da década de 1970 com uma sonoridade que mesclava punk rock, new wave e crítica social.

"I Don't Like Mondays": Um sucesso marcado por consciência social

O maior sucesso da banda veio com a música “I Don’t Like Mondays”, lançada em 1979. A canção, de melodia melancólica e letra perturbadora, foi inspirada em um tiroteio ocorrido em uma escola primária nos Estados Unidos, quando uma jovem de 16 anos atirou contra alunos e professores, dizendo à polícia que o fazia porque "não gostava das segundas-feiras".

Geldof compôs a música em poucas horas, chocado com a frieza do episódio e decidido a transformar aquela tragédia em reflexão. O single chegou ao primeiro lugar das paradas no Reino Unido e se tornou um símbolo da capacidade do artista de dialogar com temas sociais delicados por meio da música — algo que mais tarde se intensificaria com seu ativismo global. Assista ao The Boomtown Rats apresentando “I Don't Like Mondays” ao vivo no Live Aid:

1984: a origem de uma canção com propósito

A iniciativa nasceu quando o cantor e ativista britânico Bob Geldof assistiu a uma reportagem da BBC sobre a grave crise de fome na Etiópia, no final de 1984. Profundamente impactado, ele procurou o músico Midge Ure (da banda Ultravox) e juntos compuseram “Do They Know It’s Christmas?”, com o objetivo de arrecadar fundos e atenção para a causa.

A música foi gravada em apenas um dia, com a participação de grandes nomes da cena britânica — entre eles Bono Vox, George Michael, Sting, Phil Collins, Boy George, Paul Young e outros, formando o supergrupo Band Aid. O single foi lançado em dezembro de 1984 e rapidamente se tornou um fenômeno: vendeu milhões de cópias, liderou as paradas e arrecadou valores expressivos para ações humanitárias.

Veja abaixo o videoclipe oficial da canção “Do They Know It's Christmas?” e, na sequência, a versão regravada em 2014, que contou com novos artistas e teve como objetivo arrecadar fundos e chamar a atenção global para a epidemia de ebola que, na época, atingia duramente países da África Ocidental, como Guiné, Serra Leoa e Libéria.

1985: nasce o Live Aid, um evento global histórico

Motivado pelo sucesso da canção e pela repercussão internacional, Bob Geldof idealizou um evento de proporções inéditas. Assim nasceu o Live Aid, realizado em 13 de julho de 1985. Com palcos montados em Londres (Wembley Stadium) e Filadélfia (John F. Kennedy Stadium), o festival reuniu alguns dos maiores artistas do planeta em transmissões simultâneas para mais de 100 países — com uma audiência estimada em 1,5 bilhão de pessoas.

O line-up incluiu apresentações lendárias de Queen, U2, Elton John, Madonna, David Bowie, Led Zeppelin, The Who, Paul McCartney, Bob Dylan e muitos outros. Ao todo, o evento arrecadou mais de US$ 125 milhões, destinados a combater a fome na África.

Para celebrar os 40 anos do lendário festival, o canal oficial do evento no YouTube lança neste domingo uma série de conteúdos especiais.

Inspiração além-mar: o nascimento da USA For Africa

O sucesso da iniciativa britânica com o Band Aid e a comoção gerada por “Do They Know It’s Christmas?” inspiraram diretamente o surgimento do projeto USA for Africa, nos Estados Unidos. Motivados pelo impacto cultural e humanitário da ação de Geldof, os produtores Harry Belafonte, Ken Kragen, Lionel Richie e Quincy Jones decidiram reunir um grupo de artistas americanos para criar uma canção com o mesmo propósito.

Assim nasceu “We Are the World”, gravada na madrugada de 28 de janeiro de 1985, após a cerimônia do American Music Awards. A reunião histórica contou com nomes como Michael Jackson, Stevie Wonder, Bruce Springsteen, Diana Ross, Tina Turner, Bob Dylan, Ray Charles, Cyndi Lauper, entre muitos outros.

E Bob Geldof? Ele estava lá. Convidado especial, Geldof participou da gravação como símbolo do movimento que ele mesmo havia iniciado — e que, agora, ganhava força global. “We Are the World” se tornaria um dos maiores sucessos beneficentes da história da música, consolidando ainda mais a ideia de que a arte pode, sim, transformar realidades.

2025: 40 anos depois, o legado permanece

Quatro décadas depois, o impacto do Live Aid segue vivo — e a data de sua realização, 13 de julho, passou a ser celebrada como o Dia Mundial do Rock. O festival não apenas arrecadou recursos, mas mudou o papel da música popular na esfera pública, mostrando que artistas podem — e devem — usar sua voz para além do entretenimento.

O projeto também serviu de modelo para outras ações globais, como o Live 8, realizado em 2005, e inspirou gerações a pensar música como ferramenta de mobilização e empatia.

O poder transformador da arte coletiva

O que torna a história ainda mais simbólica é o fato de que tudo começou com uma simples canção — feita às pressas, com um teclado, um ideal e muita urgência. “Do They Know It’s Christmas?” segue sendo executada todos os anos durante o Natal, lembrando o mundo de que uma única ideia pode se tornar um movimento global.

O Live Aid, por sua vez, segue como referência de engajamento artístico e impacto social, reforçando que a união de vozes pode ressoar muito além dos palcos.

Do punk à filantropia: um legado muito além da música

Ao longo dos anos 1980, Bob Geldof passou a ser reconhecido não apenas como músico, mas como ativista humanitário. Sua atuação lhe rendeu inúmeras honrarias, incluindo uma indicação ao Prêmio Nobel da Paz, além do título de cavaleiro honorário do Império Britânico.

Embora tenha seguido lançando discos solo e participando de outros projetos musicais, Geldof é mais lembrado hoje como um dos maiores exemplos de engajamento social na indústria do entretenimento. Ele provou que é possível sair do estúdio e usar a visibilidade para mobilizar o mundo em torno de causas urgentes, como a fome, a pobreza e os direitos humanos.

Um artista que usou a própria voz para amplificar outras

Com um olhar crítico, talento artístico e senso de urgência, Bob Geldof construiu uma carreira que ultrapassou os limites da música. De “I Don’t Like Mondays” a “Do They Know It’s Christmas?”, ele mostrou que compor também é uma forma de intervir — e que a cultura pop pode, sim, deixar marcas profundas na história social do mundo.

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