Crianças pegam armas e são mortas enquanto exército do Congo recua de Bukavu
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Por Sonia Rolley e Emma Farge
(Reuters) - Os insurgentes do M23, apoiados por Ruanda, mataram a tiros três garotos que haviam pegado armas deixadas por soldados congoleses fugindo do avanço rebelde no leste do Congo, afirmou a ONU nesta terça-feira, acrescentando o incidente a uma lista de graves violações de direitos humanos relatadas durante o conflito.
Os vídeos circulando nas redes sociais mostraram crianças aparentemente entre 11 e 15 anos usando armas e uniformes abandonados pelas tropas congolesas, disse Ravina Shamdasani, porta-voz do gabinete de direitos humanos da ONU em Genebra.
“Nosso escritório confirmou casos de execução sumária de crianças pelo M23, após eles entrarem na cidade de Bukavu na semana passada. Também estamos cientes que crianças estavam em posse da armas”, afirmou.
Citando o que descreveu como fontes confiáveis, Shamdasani disse que os três garotos foram mortos a tiros por combatentes do M23 no bairro latino de Bukavu, após se recusarem a largar as armas que haviam coletado em um acampamento abandonado do exército.
Um porta-voz da aliança rebelde, que inclui o M23, disse no X que as acusações não são verdadeiras e que os garotos foram acidentalmente mortos por outros garotos usando armas indevidamente.
Separadamente, forças do governo e milícias locais entraram em conflito ao sul de Bukavu, capital da província de Kivu do Sul, enquanto tropas recuam diante da ofensiva do M23, segundo fontes militares e moradores da cidade.
As tropas e suas milícias aliadas deveriam se retirar de Bukavu, um centro comercial e de mineração, para evitar combates urbanos com os rebeldes e para se estabelecer em outros lugares, buscando conter a rápida ofensiva. Mas as milícias queriam ficar e lutar.
Quando os rebeldes começaram a entrar em Bukavu durante o fim de semana, o plano se transformou em caos, disseram à Reuters um general congolês, um oficial sênior, um líder comunitário e vários moradores.
Já tendo perdido a principal cidade do leste do Congo, Goma, perto da fronteira com Ruanda, as forças destacadas para defender Bukavu e sua população de 1,3 milhão de pessoas fizeram as malas e partiram às pressas.
Conflitos diretos com o M23 foram evitados no geral, mas cidades ao sul de Bukavu acabaram no meio de tiroteios, enquanto combatentes de milícias pró-governo, conhecidas como Wazalendo, tentavam desarmar ou impedir soldados congoleses em retirada ou desertando.
“Somente nesta manhã houve estalar de tiros de Kamanyola a Uvira”, disse um líder comunitário na segunda-feira, se referindo a cidades na estrada N5, ao sul de Bukavu, que se tornaram pontos de conflito longe da linha de frente com o M23.
“Todos os vilarejos na estrada N5 estão se esvaziando”, disse.
O exército congolês não respondeu a pedidos por comentários em um primeiro momento.
(Reportagem adicional da redação do Congo; texto de Alessandra Prentice e Estelle Shirbon)
Escrito por Reuters
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