DEBBIE HARRY COMPLETA 80 ANOS E REVELA O FIM DO BLONDIE
EM RECENTE ENTREVISTA, A LENDÁRIA VOCALISTA EXPÕE A PRESSÃO ESTÉTICA E OS DESAFIOS DE SER MULHER NA MÚSICA
João Carlos
03/07/2025
A entrevista concedida por Debbie Harry à revista Vanity Fair, publicada no dia em que completou 80 anos, causou forte repercussão no universo da música. A lendária vocalista do Blondie não apenas compartilhou memórias e reflexões, mas fez uma declaração contundente: não pretende voltar aos palcos como Blondie após a morte do baterista Clem Burke, o que, nas entrelinhas, indica o fim definitivo da banda.
Ao longo da conversa, Harry abordou temas como a pressão da indústria sobre a aparência feminina, sua complexa relação com o parceiro criativo Chris Stein, os altos e baixos da carreira, influências artísticas, momentos icônicos e os desafios de seguir criando em meio ao luto e às transformações da vida.
Uma trajetória singular no rock e na cultura pop
Nascida em Miami, mas criada em Nova Jersey, Deborah Ann Harry começou sua jornada artística no underground nova-iorquino dos anos 1970. Após experiências como corista e garçonete do lendário clube Max’s Kansas City, ela encontrou sua verdadeira expressão como vocalista e cofundadora do Blondie, banda que redefiniu o som e a estética do punk-pop.
Combinando rock, disco, new wave, reggae e até rap, Debbie Harry se destacou como uma das primeiras artistas brancas a levar o hip hop para o mainstream, com faixas como "Rapture". Ícone fashion, ela se tornou um rosto frequente em revistas, capas e videoclipes, ajudando a moldar a identidade da cultura pop ao lado de nomes como Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat.
Além da música, Harry construiu uma sólida carreira no cinema e na TV, atuando em obras dirigidas por John Waters e David Cronenberg, e consolidou sua importância cultural com o lançamento da autobiografia “Face It” em 2019. Com mais de 50 milhões de discos vendidos, presença no Rock & Roll Hall of Fame, e influenciando gerações de artistas, Debbie Harry é, ainda hoje, uma força criativa em movimento.
Confira a seguir alguns trechos da entrevista:
- Debbie Harry rejeita a nostalgia:
"Eu quero olhar pra frente"
“Não gosto de olhar para trás. Quero desafios. Quero olhar para frente, expandir, espremer algo do meu estado físico e mental, como fiz com o Blondie: numa mistura de desespero, visão maluca e vida de gibi.”
- A relação com Chris Stein e o fim dos palcos
“Trabalhar com Chris foi extraordinário. Manter uma banda de rock por 50 anos é como um casamento. Com a morte do Clem [Burke, baterista] e sem Chris no palco, não me vejo mais sendo o Blondie no palco, mesmo sendo o rosto da banda.”
- A pressão pela imagem feminina no showbiz
“A beleza sempre foi uma ferramenta. A cirurgia plástica me fez sentir melhor, mais confiante. Se você está no showbiz, você precisa estar no show.”
“Hoje meninas de 10, 11 anos já estão fazendo cirurgia. Se isso as deixa felizes, que bom. Mas é muito cedo.”
- O legado, a influência e a inteligência subestimada
“Sempre fui vista como a ‘pop tart’. A gente fazia o que era necessário para seguir em frente.”
“Muitos achavam que eu era só o rosto bonito, e Chris era o cérebro. Mas construímos tudo juntos.”
- David Bowie, Andy Warhol e outros nomes marcantes
“Sim, [David Bowie] realmente se expôs para mim. E era muito bonito. (risos)”
“Passei o retrato original de Andy Warhol adiante, mas tenho uma cópia bonita.”
- Drogas, dificuldades e o colapso financeiro
“Nosso empresário nos roubou. Levamos dez anos para sair do buraco. Perdemos tudo. Cheguei a viver só de dinheiro em espécie.”
- A escolha de não ter filhos
“Se eu quisesse muito, teria adotado. Mas fui criada para casar e ter filhos, e isso era o que eu mais queria romper. Queria ser beatnik.”
- Novos projetos aos 80 anos
“Estou me curando. Quero espaço, ar, e aquele pequeno toque de criatividade que ainda sinto. Espero que continue lá.”
A vocalista que abriu caminho para gerações de artistas
Debbie Harry, assim como outras pioneiras como Donna Summer e Madonna, não apenas moldaram o som e o estilo de suas épocas, como também abriram caminhos para a presença feminina em um ambiente dominado por homens. Com ousadia, originalidade e resistência, essas artistas transformaram desafios em discurso artístico, questionaram padrões e se tornaram modelos de empoderamento feminino ainda hoje reverenciados por novas gerações.
Sua relevância vai além da música: está no gesto de ocupar o palco com autenticidade, de falar abertamente sobre escolhas pessoais, de transformar fragilidade em força — e, sobretudo, de reivindicar o direito de envelhecer sem deixar de criar.
Para quem quiser conferir todos os detalhes e reflexões da entrevista que marcou os 80 anos de Debbie Harry, clique aqui para conferir a conversa completa publicada pela revista Vanity Fair.
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