Embarques de soja de 5 empresas brasileiras para China são interrompidos por contaminação
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Por Laurie Chen e Mei Mei Chu e Ella Cao e Naveen Thukral
PEQUIM (Reuters) - A China, maior comprador mundial de soja, parou de receber embarques de soja brasileira de cinco empresas depois que as cargas não atenderam a requisitos fitossanitários, de acordo com um comunicado do governo brasileiro que confirma uma apuração da Reuters com duas fontes nesta quarta-feira.
A suspensão ocorre no momento em que o Brasil, maior exportador mundial de oleaginosas, vem reforçando sua participação na China, às custas do segundo maior exportador, os Estados Unidos.
É também uma reviravolta inesperada na cadeia de suprimento agrícola global, já que as ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald J. Trump, de renovar as tarifas contra as importações chinesas aumentaram as tensões geopolíticas entre as duas maiores economias do mundo.
O Ministério da Agricultura do Brasil disse que a notificação de 'não-conformidade' que recebeu da Administração Geral das Alfândegas da China (GACC, na sigla em inglês) refere-se a cinco empresas brasileiras, que não foram identificadas pela pasta.
Uma das fontes disse à Reuters que o Brasil suspendeu desde 8 de janeiro embarques para a China das empresas Terra Roxa Comércio de Cereais, Olam Brasil e C.Vale Cooperativa Agroindustrial.
Em 14 de janeiro, a alfândega chinesa suspendeu os embarques da Cargill Agricola SA e da ADM do Brasil, acrescentou a fonte.
A Olam, a Cargill e a ADM juntas responderam por cerca de 30% dos mais de 73 milhões de toneladas de soja embarcadas do Brasil para a China em 2024, de acordo com dados da empresa de transporte Cargonave.
No entanto, o Ministério da Agricultura do Brasil disse que apenas um pequeno volume de soja foi afetado e que o impacto sobre as exportações do país foi mínimo.
'As unidades das empresas foram suspensas, mas outras unidades das mesmas empresas podem continuar exportando', disse Luis Rua, secretário de comércio e relações internacionais do Ministério da Agricultura.
A Archer-Daniels-Midland Co, controladora da ADM do Brasil, não quis comentar. A Cargill, gigante norte-americana privada do comércio de grãos e controladora da Cargill Agricola SA, não respondeu a um pedido de comentário.
Juliana Basso de Araújo, proprietária da Terra Roxa Comércio de Cereais, não quis comentar. As empresas controladoras das outras duas empresas afetadas não responderam às solicitações de comentários da Reuters.
O GACC da China não respondeu a um pedido de comentário.
'Quando tentamos processar o desembaraço no site da alfândega para a soja enviada por essas cinco empresas, não conseguimos prosseguir', disse a segunda fonte, um trader de uma esmagadora de soja sediada na China.
Normalmente, os países exigem que os produtos agrícolas importados ou exportados sejam inspecionados para garantir que estejam livres de pragas e doenças, a fim de proteger os suprimentos locais de alimentos.
RETENÇÃO OCORRE ANTES DO PICO DE CARGA
Os embarques de soja brasileira permanecem sazonalmente leves no início da safra sul-americana. Mas os carregamentos devem aumentar nas próximas semanas, à medida que mais da safra colhida é levada ao mercado, momento em que as suspensões podem ser muito mais perturbadoras, disseram os analistas de mercado.
Alguns analistas questionaram o momento das suspensões, tão próximo da posse de Trump.
A China pode querer desacelerar os embarques do Brasil para esperar que as margens de esmagamento melhorem depois de fazer grandes compras ou para dar a Pequim espaço para fazer um acordo comercial com Washington que poderia incluir compras de soja dos EUA, disse Jim Gerlach, presidente da corretora norte-americana A/C Trading.
'Pode ser algo para dar a Xi (Jinping) uma oportunidade de comprar grãos americanos para colocar na reserva e obter alguma boa vontade', disse Gerlach.
O Ministério da Agricultura brasileiro disse que autoridades chinesas detectaram a presença de soja com revestimento de pesticidas e de pragas quarentenárias nos carregamentos em monitoramentos de rotina.
'A suspensão temporária das unidades das empresas foi comunicada previamente pela GACC ao lado brasileiro, demonstrando confiança no sistema de inspeção brasileiro e na robustez do trabalho realizado pelo governo brasileiro e pelos exportadores', disse o ministério.
A pasta disse que as exportações globais de soja do Brasil para a China “não serão afetadas”, acrescentando que fornecerá as informações necessárias para a China reverter as suspensões temporárias.
Não ficou claro quantas cargas e volumes foram afetados pelas não conformidades, já que o governo brasileiro não forneceu detalhes adicionais. Também não ficou claro quanto tempo a suspensão duraria, embora os comerciantes esperassem que fosse de curto prazo.
A China, que compra mais de 60% da soja embarcada em todo o mundo, agora obtém mais de 70% das suas importações da oleaginosa no Brasil, que vem consumindo a fatia de mercado dos EUA.
“Estamos levando isso a sério”, disse à Reuters um funcionário de uma das empresas afetadas. Ele não quis ser identificado devido à sensibilidade do assunto.
A China importou um recorde de 105 milhões de toneladas de soja em 2024.
(Reportagem de Laurie Chen, Mei Mei Chu e Ella Cao em Pequim e Naveen Thukral em Cingapura; Ana Mano e Gabriel Araujo em São Paulo; Lisandra Paraguassu em Brasília; Tom Polansek, Karl Plume e P.J. Huffstutter em Chicago; e Marcelo Teixeira em Nova York)
Escrito por Reuters
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