ESPECIAL: URÂNIO, O ELEMENTO MAIS PODEROSO DA TERRA
DESCUBRA POR QUE ESSE MATERIAL É TÃO CONTROLADO E DISPUTADO NO MUNDO TODO
João Carlos
09/07/2025
Para a maioria das pessoas, o urânio costuma surgir na mídia sempre atrelado à energia nuclear, seja em debates sobre usinas, armas atômicas ou questões geopolíticas. Mas afinal, o que é exatamente o urânio? Por que ele é tão importante — e, ao mesmo tempo, tão sensível? E quais são os outros usos possíveis desse elemento metálico radioativo, além dos que envolvem reatores ou ogivas?
Nesta reportagem especial, vamos explorar o papel do urânio como combustível energético, matéria-prima estratégica e ponto de tensão entre nações. Você vai entender por que esse metal é um dos mais controlados do mundo, onde ele é encontrado, como sua extração e uso são fiscalizados por órgãos internacionais, e de que forma ele pode influenciar guerras, acordos diplomáticos e a balança de poder global.
Também vamos discutir se existem outros materiais com o mesmo potencial energético e político, e de que forma o debate sobre a transição energética reacendeu o interesse internacional pelo urânio, inclusive em países que até pouco tempo atrás defendiam o abandono total da energia nuclear.
Por fim, você não terá mais dúvida em entender porque o urânio é o elemento radioativo mais cobiçado do planeta.
Quando o urânio foi descoberto — e como passou a ser usado?

O urânio foi identificado pela primeira vez em 1789, pelo químico alemão Martin Heinrich Klaproth (em destaque acima), que nomeou o elemento em homenagem ao planeta Urano, descoberto poucos anos antes. Inicialmente, o urânio era tratado como uma curiosidade científica — usado em vidrarias decorativas e pigmentos cerâmicos por conta de sua coloração vibrante, especialmente em tons de amarelo e verde-limão.

Foi apenas no final do século XIX que os cientistas começaram a compreender suas propriedades radioativas. O físico francês Henri Becquerel (na imagem acima) descobriu em 1896 que compostos de urânio emitiam radiações espontâneas, mesmo na ausência de luz solar. Essa observação foi aprofundada por outros cientistas como Marie e Pierre Curie, que estudaram o comportamento do urânio ao lado de outros elementos radioativos como o polônio e o rádio.
Por que o urânio se tornou tão associado à energia nuclear?
Desde a Revolução Industrial, a humanidade vive uma busca contínua por fontes de energia mais potentes, estáveis e acessíveis. O carvão impulsionou as primeiras fábricas, o petróleo revolucionou os transportes e a eletricidade se tornou sinônimo de progresso. Com o avanço da ciência, cresceu também o interesse em novas formas de energia capazes de atender à demanda crescente por eletricidade, mobilidade, comunicações e — em contextos mais delicados — poder militar.
Nesse cenário, o urânio surgiu como um elemento singular. Sua estrutura atômica contém um imenso potencial energético latente. A capacidade de liberar energia por meio da fissão nuclear, descoberta no final dos anos 1930, oferecia algo novo ao mundo: a chance de concentrar grandes quantidades de energia em volumes pequenos de material, com aplicação tanto civil quanto militar.
Ao ser bombardeado por nêutrons, o isótopo U-235 se parte, liberando calor e novos nêutrons — que, por sua vez, podem iniciar uma reação em cadeia. Esse processo forma a base tanto de reatores nucleares civis quanto de explosivos atômicos, como as bombas usadas na Segunda Guerra Mundial.
Por isso, o urânio passou a ser intensamente associado à energia nuclear: ele se tornou matéria-prima de um sistema tecnológico com dupla face — ao mesmo tempo uma ferramenta para impulsionar o desenvolvimento humano e um fator de tensão e destruição global.
Além das usinas: para que mais serve o urânio?
Embora o uso mais conhecido do urânio esteja nas usinas nucleares que geram energia elétrica, o elemento possui uma série de outras aplicações estratégicas — muitas delas no centro do noticiário internacional e dos interesses geopolíticos contemporâneos.
Armas nucleares e tensões no Oriente Médio
Um dos usos mais controversos do urânio é a produção de armamentos nucleares. Quando o isótopo U-235 é enriquecido a níveis superiores a 90%, ele se torna base para bombas atômicas. Recentemente, esse tema voltou ao centro das atenções internacionais após Israel realizar ataques contra instalações no Irã, sob a justificativa de que o país estaria enriquecendo urânio com fins militares. Os Estados Unidos também conduziram ações estratégicas contra centros de pesquisa nuclear iranianos, intensificando o debate sobre proliferação nuclear e equilíbrio de poder na região.
Corrida espacial e base lunar
Outro uso emergente do urânio envolve a produção de energia para missões espaciais. Em meio à nova corrida espacial, China e Rússia, em parceria com países aliados, anunciaram planos para a construção de uma base científica na Lua até 2035, com foco em pesquisa e geração de energia nuclear fora da Terra. Nesse contexto, o urânio aparece como uma das poucas fontes viáveis de energia para operações sustentadas em ambientes extremos, como o solo lunar ou futuras missões a Marte.
Propulsão naval e estratégia militar
No campo militar, o urânio é usado como combustível de reatores nucleares embarcados em navios e submarinos, permitindo que esses veículos operem por anos sem necessidade de reabastecimento. Grandes potências, como Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China, mantêm frotas navais nucleares como pilares de sua presença geoestratégica global. O Brasil, inclusive, desenvolve seu primeiro submarino de propulsão nuclear, reforçando sua posição na América do Sul como país com capacidade tecnológica avançada.
Pesquisa científica, medicina e economia
O urânio também é essencial para a produção de radioisótopos, usados em tratamentos contra o câncer, exames de imagem como PET scans e em pesquisas médicas e industriais. O domínio desse ciclo promove a geração de valor para empresas e institutos de pesquisa, especialmente nos países que investem em inovação tecnológica e soberania científica.
Empresas que operam no setor de medicina nuclear, como a francesa Orano, a canadense Cameco ou estatais como a Rosatom (Rússia) e a CNNC (China), movimentam bilhões de dólares por ano — demonstrando que o urânio é também um vetor de desenvolvimento econômico e industrial.
Urânio como commodity: um mercado sensível ao mundo
Embora muitas vezes tratado apenas como insumo estratégico ou recurso controlado, o urânio também é uma commodity negociada nos mercados financeiros internacionais, como ouro, petróleo e gás natural. Isso significa que seu valor é influenciado por oferta, demanda, expectativas econômicas, decisões políticas e eventos geopolíticos.
O comércio do urânio físico não ocorre no modelo de contratos de entrega imediata como em outras commodities energéticas, mas sim por meio de contratos de longo prazo, acordos bilaterais e, mais recentemente, por fundos de investimento especializados, como o Sprott Physical Uranium Trust, que compram e armazenam urânio físico como ativo financeiro.
Quando o mercado reage: o caso da pandemia de 2020
Um exemplo emblemático ocorreu em abril de 2020, no auge da pandemia de Covid-19. Enquanto a maioria das commodities despencava — petróleo, metais e grãos —, o urânio registrou uma alta expressiva de 31% no acumulado do ano, tornando-se a commodity com melhor desempenho do mundo naquele período, segundo reportagem da Bloomberg.
O motivo? Um choque simultâneo de oferta e demanda. As medidas sanitárias forçaram o fechamento temporário de grandes minas no Cazaquistão, Canadá e Namíbia, responsáveis por mais de um terço da produção global. Ao mesmo tempo, a demanda por energia nuclear permaneceu estável, já que muitas usinas continuaram operando para garantir o abastecimento em tempos de incerteza.
“É um movimento duplo em favor do urânio. Provavelmente a Covid-19 não afetou tanto a demanda por energia nuclear, mas certamente está impactando a oferta.”
— Nick Piquard, gerente de carteiras da Horizons ETFs, à Bloomberg
Um ativo influenciado por crises e tensões globais
Assim como acontece com o petróleo e o gás natural, o urânio é sensível a tensões geopolíticas, sanções econômicas e mudanças no cenário energético global. Conflitos envolvendo grandes produtores — como o Cazaquistão, Rússia ou Níger — podem gerar instabilidade no fornecimento e, consequentemente, alta nos preços.
Por outro lado, acordos de descarbonização e a crescente valorização da energia nuclear como fonte limpa e estável têm atraído o interesse de investidores e governos, provocando flutuações na demanda futura e valorizando o ativo nas bolsas.
Além disso, fundos e investidores institucionais passaram a incluir o urânio em suas carteiras como proteção contra instabilidade energética e como aposta de longo prazo diante da transição energética global.
Onde o urânio é encontrado no mundo?
Apesar de estar presente em pequenas quantidades em muitas formações geológicas, o urânio é explorado economicamente em poucos países, sob condições altamente reguladas. A produção e exportação do mineral são frequentemente controladas por estatais, consórcios multinacionais ou empresas com participação estratégica de governos — o que reforça a ligação direta entre recursos naturais e poder geopolítico.
Abaixo, destacamos os principais países produtores de urânio e como as empresas atuam em cada região:
Cazaquistão – o maior produtor global

Desde o início dos anos 2000, o Cazaquistão lidera a produção mundial de urânio, responsável por cerca de 40% da oferta global. A operação é liderada pela Kazatomprom, empresa estatal que atua em consórcio com parceiros estrangeiros — incluindo franceses, chineses, canadenses e japoneses.
As minas do Cazaquistão operam principalmente via método de lixiviação in situ, considerado menos agressivo ao meio ambiente. O país é peça central no equilíbrio do mercado e possui acordos de fornecimento de longo prazo com países da Ásia e da Europa.
Canadá – tecnologia e controle ambiental
O Canadá possui algumas das jazidas de urânio mais ricas em teor de pureza do planeta, localizadas principalmente na Bacia de Athabasca, na província de Saskatchewan. A produção é liderada por empresas como a Cameco Corporation — uma das maiores mineradoras de urânio do mundo — e parcerias com a Orano Canada (subsidiária da estatal francesa Orano).
O país é referência em regulação ambiental e segurança operacional, servindo como modelo para novos projetos em outras regiões.
Austrália – grandes reservas e postura cautelosa
A Austrália detém cerca de 30% das reservas conhecidas de urânio no mundo, mas sua produção é limitada por políticas públicas restritivas. Apenas três minas estão ativas: Olympic Dam, Ranger (em fase de descomissionamento) e Beverley.
As operações são conduzidas por empresas como a BHP Group (no caso da Olympic Dam, que também produz cobre e ouro) e parcerias com grupos estrangeiros.
Apesar de sua capacidade, o país adota uma postura cautelosa quanto ao uso interno de energia nuclear — não possui usinas em operação, exportando quase toda sua produção.
Namíbia – papel estratégico no mercado africano
A Namíbia é o maior produtor de urânio da África e o quarto maior do mundo. Duas das principais minas — Rossing e Husab — são controladas, total ou parcialmente, por empresas chinesas como a China National Nuclear Corporation (CNNC) e consórcios ligados ao governo chinês.
A atuação chinesa na região é estratégica: garante fornecimento contínuo para as ambiciosas metas de expansão do parque nuclear da China.
Níger – produção sob instabilidade
O Níger, apesar de suas grandes reservas, enfrenta instabilidade política e disputas em torno da exploração do urânio. Durante décadas, a Orano (ex-Areva), estatal francesa, controlou grande parte da produção — essencial para o abastecimento das usinas nucleares da França.
No entanto, mudanças de governo e tensões com ex-potências coloniais têm provocado incertezas quanto à continuidade da presença europeia. A exploração mineral permanece sendo uma das principais fontes de receita do país.
Rússia – produção interna e influência externa
A Rússia é autossuficiente em urânio e opera por meio da Rosatom, uma das maiores e mais influentes estatais nucleares do mundo. Além de explorar reservas no próprio território, a Rosatom investe e opera minas em países como Uzbequistão, Armênia e Tanzânia, consolidando presença estratégica em mercados emergentes.
A empresa também atua como fornecedora global de tecnologia nuclear, o que amplia sua influência geopolítica.
Estados Unidos – dependência e revitalização
Apesar de já ter liderado a produção global, os Estados Unidos hoje importam mais de 90% do urânio que consomem. A produção interna vem sendo gradualmente reativada com incentivo estatal e investimentos em mineração sustentável em estados como Wyoming e Texas.
Empresas como a Energy Fuels e a Uranium Energy Corp buscam recuperar competitividade diante da crescente demanda por energia limpa e segurança energética.
Brasil – reservas promissoras e uso estratégico

O Brasil possui reservas consideráveis, com destaque para Caetité (Bahia) e Santa Quitéria (Ceará), sob controle da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB). A extração ainda é limitada, mas o país domina tecnologias de enriquecimento de urânio com fins pacíficos, utilizadas nas usinas de Angra e no programa do submarino nuclear brasileiro, sob supervisão internacional da AIEA.
Urânio e geopolítica: por que o mundo o vigia?
Por seu potencial duplo — capaz de gerar energia limpa ou ser convertido em armas de destruição em massa —, o urânio se tornou um dos elementos mais vigiados da geopolítica internacional. Sua produção, transporte, enriquecimento e uso são regulados por tratados multilaterais, protocolos de segurança e sistemas de inspeção técnica internacional.
O principal acordo nesse contexto é o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), em vigor desde 1970, e assinado por mais de 190 países, incluindo o Brasil. O tratado tem três pilares fundamentais:
- Evitar a proliferação de armas nucleares;
- Promover o uso pacífico da energia nuclear;
- Avançar no desarmamento nuclear global.
Quem fiscaliza o cumprimento dos acordos?

O órgão encarregado de garantir que os países respeitem o TNP é a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), vinculada à ONU e sediada em Viena, Áustria. A AIEA atua como um "fiscal atômico global", com autoridade técnica para:
- Realizar inspeções presenciais em instalações nucleares civis e militares declaradas;
- Instalar câmeras de vigilância, sensores e lacres de segurança em equipamentos sensíveis;
- Analisar amostras ambientais em busca de resíduos radioativos ou rastros de enriquecimento;
- Monitorar o transporte de urânio natural ou enriquecido e seus subprodutos;
- Emitir relatórios periódicos sobre o status nuclear de cada país signatário.
Os países que aderem ao TNP se comprometem a permitir acesso irrestrito aos inspetores da AIEA e a notificar previamente qualquer atividade relacionada ao ciclo do combustível nuclear — da mineração ao reprocessamento.
Como se tenta controlar o enriquecimento do urânio?
O processo de enriquecimento do urânio — isto é, aumentar a concentração de U-235 — é o ponto mais sensível. Um reator de usina elétrica requer urânio enriquecido em até 5%. Já uma arma nuclear exige enriquecimento acima de 90%. Por isso, qualquer país que desenvolva tecnologia de enriquecimento entra automaticamente no radar da AIEA.
Além disso, existem acordos específicos chamados de “salvaguardas nucleares”, que exigem que todos os materiais nucleares e instalações sejam declarados, auditados e monitorados em tempo real. Tecnologias como:
- circuitos fechados de TV (CCTV),
- lacres eletrônicos,
- rastreamento via satélite
fazem parte do arsenal de monitoramento da agência.
O que acontece em caso de descumprimento?
Se um país for considerado em não conformidade com o TNP, a AIEA pode:
- emitir relatórios públicos de alerta;
- notificar o Conselho de Segurança da ONU;
- abrir caminho para sanções econômicas e diplomáticas;
- ou suspender o apoio técnico e parcerias nucleares.
Exemplos recentes incluem o Irã, acusado de manter instalações secretas de enriquecimento, e a Coreia do Norte, que se retirou do tratado em 2003 e realizou testes nucleares, tornando-se foco de sanções internacionais.
A diferença entre transparência e dissuasão
Países como França, China, Reino Unido, EUA e Rússia são reconhecidos como possuidores de armas nucleares sob o TNP. Eles têm obrigação de não transferir tecnologia militar a outros Estados e de cooperar com esforços de desarmamento progressivo. Já os demais signatários devem garantir transparência total em seus programas civis.
Nesse equilíbrio delicado, o urânio ocupa uma posição crítica: é ao mesmo tempo um recurso estratégico legítimo e um potencial vetor de conflito, caso as regras do jogo sejam quebradas.
A corrida por minerais estratégicos e a disputa por territórios
O urânio não é o único recurso em disputa global — mas certamente é um dos mais sensíveis. Sua extração está muitas vezes ligada a conflitos territoriais, disputas por influência e intervenções indiretas. Regiões ricas em urânio, como partes da África e da Ásia Central, tornaram-se centros de atenção estratégica por parte de grandes potências como China, EUA e Rússia.
Além do urânio, outros materiais chamados de “críticos” ou “tecnológicos” também ganham relevância geopolítica, como:
- Terras raras (para baterias e tecnologia verde)
- Cobalto e lítio (para veículos elétricos)
- Tântalo e nióbio (usados em eletrônicos avançados)
Mas poucos elementos combinam, como o urânio, capacidade energética, poder militar e sensibilidade política de forma tão contundente.
Urânio: energia, vigilância e responsabilidade
Falar em urânio é falar de ciência e segurança, energia e geopolítica, inovação e controle. Nenhum outro elemento concentra, de forma tão intensa, debates sobre avanço tecnológico e limites éticos, autonomia nacional e cooperação internacional, progresso civilizatório e risco existencial.
Ao mesmo tempo em que pode abastecer cidades inteiras com energia limpa e abundante, o urânio exige estruturas de vigilância e regulação robustas, pois o desvio de seu uso pode colocar em risco a estabilidade global. Essa ambivalência exige do mundo um pacto permanente de responsabilidade compartilhada.
Soberania nacional: o direito de explorar com fins pacíficos
Todo país com reservas de urânio possui o direito legítimo de explorá-las para fins civis e energéticos, como forma de garantir sua soberania energética, impulsionar seu setor industrial e desenvolver tecnologias estratégicas. O domínio do ciclo completo do combustível nuclear, que inclui mineração, beneficiamento e enriquecimento, representa um marco de autonomia para qualquer nação.
No entanto, essa soberania vem acompanhada de expectativas internacionais de transparência e uso pacífico. O desafio está em equilibrar o direito ao desenvolvimento com o dever de cooperar com organismos reguladores, como a AIEA, e de cumprir tratados multilaterais como o TNP.
Responsabilidade ambiental: entre extração e resíduos
A mineração de urânio e o funcionamento de reatores nucleares, apesar de gerarem energia com baixas emissões de carbono, implicam uma série de cuidados ambientais. A extração pode afetar aquíferos, comunidades indígenas e áreas sensíveis. Já o combustível usado em reatores precisa ser armazenado com segurança por milhares de anos, dado seu potencial radioativo duradouro.
Assim, a responsabilidade ambiental vai muito além da geração elétrica: envolve políticas de mitigação de impacto, transparência com a população e rigor no descarte de resíduos nucleares. Países que optam por expandir seu parque nuclear devem investir também em pesquisa, gestão e comunicação de risco.
Compromisso internacional: confiança mútua e diplomacia técnica
A existência de um sistema global de vigilância e cooperação nuclear não é apenas uma formalidade. Trata-se de um mecanismo de confiança mútua entre as nações, viabilizado por diplomatas, engenheiros e cientistas que trabalham, muitas vezes, nos bastidores.
O compromisso internacional se traduz na disposição de:
- compartilhar informações técnicas com organismos multilaterais;
- receber inspeções regulares de forma aberta e profissional;
- limitar a exportação de tecnologias sensíveis;
- aderir a protocolos de segurança e não proliferação.
Nesse cenário, o urânio passa a ser um elemento de negociação e parceria, e não apenas um recurso econômico.
Um equilíbrio delicado e essencial
Manter o equilíbrio entre soberania nacional, responsabilidade ambiental e compromisso internacional é o grande desafio que envolve o uso do urânio no século XXI.
Errar a mão — por omissão, abuso ou desinformação — pode ter consequências irreversíveis. Acertar o tom, por outro lado, pode colocar o mineral a serviço de um futuro energético mais limpo, seguro e cooperativo.
Num mundo em busca de novas matrizes energéticas e de soluções sustentáveis para as próximas gerações, o urânio exige mais do que mineração: exige maturidade política, rigor técnico e visão estratégica global.