Trump adverte Hamas enquanto EUA realizam negociações sem precedentes sobre reféns em Gaza
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Por Steve Holland e Matt Spetalnick
WASHINGTON (Reuters) - Os Estados Unidos quebraram um tabu diplomático de longa data ao manter conversas secretas com o Hamas para garantir a libertação de reféns norte-americanos mantidos em Gaza, disseram fontes à Reuters nesta quarta-feira, enquanto o presidente Donald Trump alertou sobre o 'inferno' que ocorrerá caso o grupo militante palestino não cumpra o acordo.
O enviado para assuntos relacionados aos reféns dos EUA, Adam Boehler, tem a autoridade para conversar diretamente com o Hamas, afirmou a Casa Branca ao ser questionada sobre as discussões, o que contradiz a política de longa data dos norte-americanos de não negociar com grupos designados como organizações terroristas.
Boehler e autoridades do Hamas reuniram-se em Doha nas últimas semanas, segundo as fontes. Não ficou claro quem representou o Hamas.
Na Casa Branca, o presidente Donald Trump encontrou-se com um grupo de reféns recentemente libertados sob um acordo de cessar-fogo em Gaza e fez uma nova e severa ameaça contra o Hamas em uma publicação em mídia social.
O presidente norte-americano exigiu que o Hamas 'liberte todos os reféns agora, não mais tarde', incluindo os restos mortais dos reféns mortos, 'ou será o fim de tudo para vocês'.
'Estou enviando a Israel tudo o que ele precisa para terminar o trabalho, nenhum membro do Hamas estará seguro se vocês não fizerem o que eu digo', afirmou.
'Além disso, para o povo de Gaza: Um belo futuro os aguarda, mas não se vocês fizerem reféns. Se fizerem isso, vocês estarão MORTOS! Tomem uma decisão INTELIGENTE. LIBERTEM OS REFÉNS AGORA, OU HAVERÁ UM INFERNO MAIS TARDE!'
A advertência de Trump ecoou sua ameaça de 'inferno' em Gaza feita antes de seu retorno à Casa Branca em 20 de janeiro, que foi seguida pelo acordo de cessar-fogo em meados de janeiro -- pelo qual reivindicou o crédito antes de o então presidente Joe Biden deixar o cargo.
Mais uma vez, Trump não especificou exatamente que medidas poderia tomar se o Hamas não cumprir o acordo.
Os EUA vinham evitando contatos diretos com o grupo islâmico, que realizou um ataque entre fronteiras no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, desencadeando a atual e devastadora guerra em Gaza. O Departamento de Estado norte-americano designou o Hamas como uma organização terrorista em 1997.
Uma das fontes afirmou que os esforços incluem uma tentativa de libertar Edan Alexander, de Tenafly, Nova Jérsei, que acredita-se ser o último refém norte-americano vivo mantido pelo Hamas. Ele apareceu em um vídeo publicado pelo Hamas em novembro de 2024.
Quatro outros reféns norte-americanos foram declarados mortos pelas autoridades israelenses.
Até agora, o papel dos EUA na tentativa de conseguir um cessar-fogo em Gaza e um acordo pela libertação de reféns envolvia conversas com Israel e mediadores de Catar e Egito, mas, até onde se sabe, sem qualquer comunicação direta entre Washington e o Hamas.
O Axios foi o primeiro veículo a publicar sobre as discussões em Doha.
'Sobre as negociações às quais você está se referindo, primeiro de tudo, o enviado especial participando dessas negociações tem autoridade', disse a jornalistas a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt.
Segundo ela, os israelenses foram consultados, mas ela não indicou se antes ou depois das conversas, e as descreveu como parte da 'esforço de boa fé de fazer o que é certo para o povo norte-americano' do presidente Donald Trump.
O gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu emitiu um comunicado dizendo que 'Israel expressou aos Estados Unidos sua posição sobre conversas diretas com o Hamas', sem entrar em detalhes.
Israel, que ao lado de outros países considera o Hamas um organização terrorista, se recusa a negociar diretamente com o grupo.
Taher Al-Nono, conselheiro político do Hamas, disse à Reuters: 'Não tenho informações sobre reuniões com autoridades americanas, mas qualquer reunião com a administração americana é benéfica para a estabilidade da região'.
Os combates em Gaza estão suspensos desde 19 de janeiro. O Hamas trocou 33 reféns israelenses e cinco tailandeses por cerca de 2.000 prisioneiros e detidos palestinos. Autoridades israelenses acreditam que menos da metade dos 59 reféns restantes ainda estão vivos.
Leavitt também foi questionada se as negociações com o Hamas incluem a polêmica proposta de Trump para que os EUA assumam o controle de Gaza. No mês passado, ele sugeriu que o enclave devastado pela guerra seja transformado em um resort no estilo da Riviera, após um reassentamento de seus habitantes em um outro lugar, ideia rejeitada no mundo árabe e condenada por grupos de direitos humanos.
'Essas são conversas e discussões em andamento. Não vou detalhá-las', disse ela. 'Há vidas americanas em jogo.'
(Reportagem de Steve Holland, Matt Spetalnick, Katharine Jackson e Susan Heavey; reportagem adicional de Jeff Mason, Maayan Lubell e Nidal al-Mughrabi)
Escrito por Reuters
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