Demanda constitucionalmente impossível dos EUA barra negociações sobre tarifaço, diz Haddad
Demanda constitucionalmente impossível dos EUA barra negociações sobre tarifaço, diz Haddad
Reuters
18/08/2025
Atualizada em 18/08/2025
SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira que a negociação tarifária entre Brasil e Estados Unidos não ocorre porque o país norte-americano quer impor aos brasileiros uma solução “constitucionalmente impossível”.
Em evento organizado pelo canal Times Brasil CNBC e o Financial Times, Haddad disse acreditar que o comércio bilateral entre os dois países vai cair ainda mais.
'As negociações só não ocorrem porque os Estados Unidos estão tentando impor ao Brasil uma solução constitucionalmente impossível, que é o Executivo se imiscuir em assuntos de outro Poder, que é o Poder Judiciário', disse Haddad.
A tarifa de 50% sobre uma série de produtos brasileiros foi imposta pelo governo do presidente Donald Trump sob o argumento de que o ex-presidente Jair Bolsonaro sofre uma 'caça às bruxas' pelo Judiciário brasileiro.
Haddad disse que o Brasil está disposto a negociar comercialmente com os Estados Unidos, mas que no momento não existe disposição de Washington para conversar. Ao mesmo tempo, ele disse 'não acreditar' que o impasse com os EUA durará um ou dois anos, quando foi questionado se a economia brasileira resistiria a esse período de tarifas elevadas.
'Eu não acredito que isso vai acontecer, em primeiro lugar. Em segundo lugar, hoje o comércio com os Estados Unidos representa metade do que representava no começo do século', afirmou.
'E pelo andar dos acontecimentos, eu acredito, infelizmente, que o comércio bilateral vai cair ainda mais', previu.
Haddad afirmou, ao mesmo tempo, que Brasil e EUA têm grande potencial de parcerias e que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem interesse em concretizá-las com Washington.
No evento, Haddad disse ainda estar 'um pouco preocupado' com o patamar atual da taxa básica de juros, atualmente em 15% ao ano, o que classificou como 'ultra restritivo'. Ele também previu que a inflação ficará dentro da banda de tolerância da meta no ano que vem e assegurou que o governo cumprirá seus compromissos fiscais neste ano.
Em fala a jornalistas após o evento, o ministro afirmou que a tarefa de sua equipe esta semana será regulamentar as medidas de apoio a setores afetados pela elevação da tarifa dos EUA, 'para fazer chegar na ponta os recursos liberados'.
Na quarta-feira, o governo anunciou um plano de contingência que inclui R$30 bilhões em linhas de crédito, aportes de R$4,5 bilhões em diferentes fundos garantidores e até R$5 bilhões em créditos tributários a exportadores.
(Por Eduardo Simões, reportagem adicional de Bernardo Caram)
Reuters