FMI reduz previsões de crescimento para maioria dos países na esteira de tarifas dos EUA
FMI reduz previsões de crescimento para maioria dos países na esteira de tarifas dos EUA
Reuters
22/04/2025
Por Andrea Shalal
WASHINGTON (Reuters) - O Fundo Monetário Internacional reduziu nesta terça-feira suas previsões de crescimento para Estados Unidos, China e a maioria dos países citando o impacto das tarifas norte-americanas, agora em máximas de 100 anos, alertando que novas tensões comerciais desacelerarão ainda mais o crescimento.
O FMI divulgou uma atualização de seu relatório Perspectiva Econômica Global, compilado apenas 10 dias após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar tarifas universais sobre quase todos os parceiros comerciais e taxas mais altas — atualmente suspensas — sobre muitos países.
O Fundo cortou sua previsão de crescimento global em 2025 em 0,5 ponto percentual, para 2,8%, e em 0,3 ponto percentual para 2026, a 3%, na comparação com o relatório de janeiro.
Ele disse que a inflação deve cair mais lentamente do que o esperado em janeiro devido ao impacto das tarifas, atingindo 4,3% em 2025 e 3,6% em 2026, com revisões 'notáveis' para cima para os EUA e outras economias avançadas.
O FMI chamou o relatório de 'previsão de referência' com base nos acontecimentos até 4 de abril, citando a extrema complexidade e fluidez do momento atual.
'Estamos entrando em uma nova era, à medida que o sistema econômico global que operou pelos últimos 80 anos está sendo redefinido', disse o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, a repórteres.
O FMI disse que a rápida escalada das tensões comerciais e os 'níveis extremamente altos' de incerteza sobre políticas futuras terão um impacto significativo na atividade econômica global.
'É bastante significativo e está afetando todas as regiões do mundo. Estamos vendo menor crescimento nos EUA, menor crescimento na zona do euro, menor crescimento na China e menor crescimento em outras partes do mundo', disse Gourinchas à Reuters em entrevista.
'Se houver uma escalada nas tensões comerciais entre os EUA e outros países, isso alimentará mais incerteza, criará mais volatilidade no mercado financeiro e apertará as condições financeiras', disse ele, acrescentando que o efeito conjunto reduzirá ainda mais as perspectivas de crescimento global.
Perspectivas de crescimento mais fracas já haviam reduzido a demanda por dólar, mas o ajuste nos mercados de câmbio e o reequilíbrio de carteiras vistos até o momento foram ordenados, disse ele.
'Não estamos preocupados, neste momento, com a resiliência do sistema monetário internacional. Seria necessário algo muito maior do que isso', disse Gourinchas.
No entanto, as perspectivas de crescimento a médio prazo permaneceram fracas, com a previsão de cinco anos calculada em 3,2%, abaixo da média histórica de 3,7% de 2000 a 2019, sem alívio à vista a menos que haja reformas estruturais significativas.
O FMI reduziu sua previsão de crescimento do comércio global em 1,5 ponto percentual, para 1,7%, metade do crescimento visto em 2024, refletindo a fragmentação acelerada da economia global.
O comércio continuará, mas custará mais e será menos eficiente, disse ele, citando confusão e incerteza sobre onde investir, onde obter produtos e onde comprar componentes. 'Restaurar a previsibilidade e a clareza do sistema comercial, em qualquer formato, é absolutamente crucial', afirmou.
CRESCIMENTO NOS EUA EM QUEDA, INFLAÇÃO EM ALTA
O FMI reduziu sua previsão para o crescimento dos EUA em 2025 em 0,9 ponto percentual, para 1,8% — um ponto percentual abaixo do crescimento de 2,8% em 2024 — e em 0,4 ponto percentual para 2026, a 1,7%, citando incerteza política e tensões comerciais.
Gourinchas disse a repórteres que o FMI não está prevendo uma recessão nos EUA, mas que as chances de retração aumentaram de cerca de 25% para 37%. Ele disse que o FMI agora projeta que a inflação geral dos EUA atingirá 3% em 2025, um ponto percentual acima da previsão de janeiro, devido às tarifas e à força subjacente dos serviços.
Isso significa que o Federal Reserve terá que ser muito vigilante para manter as expectativas de inflação ancoradas, disse Gourinchas, observando que muitos norte-americanos ainda estão assustados com o aumento da inflação durante a pandemia de Covid.
Questionado sobre o impacto de quaisquer medidas da Casa Branca para remover o chair do Fed, Jerome Powell, Gourinchas disse que é 'absolutamente crítico' que os bancos centrais consigam permanecer independentes para manter sua credibilidade no combate à inflação.
Os vizinhos dos EUA Canadá e México, ambos alvos de uma série de tarifas de Trump, também tiveram suas previsões de crescimento reduzidas. O FMI previu que a economia canadense crescerá 1,4% em 2025 e 1,6% em 2026, em vez de 2% projetado para ambos os anos em janeiro.
O Fundo previu que o México será duramente atingido pelas tarifas, com retração de 0,3% em 2025, uma queda acentuada de 1,7 ponto percentual em relação à previsão de janeiro, antes de se recuperar para um crescimento de 1,4% em 2026.
MENOR CRESCIMENTO NA EUROPA E ÁSIA
O FMI prevê que o crescimento na zona do euro desacelerará para 0,8% em 2025 e 1,2% em 2026, com ambas as previsões sendo reduzidas em de 0,2 ponto percentual ante janeiro. A Espanha é um caso atípico, com uma previsão de crescimento de 2,5% para 2025, uma revisão para cima de 0,2 ponto percentual, refletindo dados sólidos.
As forças compensatórias incluíram um consumo mais forte devido ao aumento dos salários e um alívio fiscal projetado na Alemanha. O FMI cortou sua previsão de crescimento em 2025 para a Alemanha em 0,3 ponto percentual, para estagnação, e em 0,2 ponto percentual em 2026, para 0,9%.
A previsão de crescimento da China foi reduzida para 4% para 2025 e 2026, refletindo revisões para baixo de 0,6 ponto percentual e 0,5 ponto percentual, respectivamente, em relação à previsão de janeiro.
Gourinchas disse que o impacto das tarifas sobre a China — altamente dependente das exportações — foi de cerca de 1,3 ponto percentual em 2025, mas isso foi compensado por medidas fiscais mais fortes.
Reuters