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Fome em Gaza afeta saúde da população e setor hospitalar em meio a bloqueio israelense

Fome em Gaza afeta saúde da população e setor hospitalar em meio a bloqueio israelense

Reuters

07/05/2025

Placeholder - loading - Aya, mãe da bebê palestina Jenan Alskafi, chora após morte da filha por desnutrição  3/5/2025   REUTERS/Stringer
Aya, mãe da bebê palestina Jenan Alskafi, chora após morte da filha por desnutrição 3/5/2025 REUTERS/Stringer

Atualizada em  07/05/2025

GAZA/CAIRO/GENEBRA (Reuters) - A bebê palestina Jenan Alskafi, de quatro meses, morreu em Gaza no sábado após desnutrição e problemas digestivos que, segundo seu médico, não puderam ser tratados devido ao bloqueio total de Israel. Agências de ajuda humanitária relatam que a obstrução israelense prejudica o acesso da população de Gaza à saúde.

O médico Ragheb Warsh Agha, do hospital de Rantissi, disse que a menina precisava de fórmula láctea hipoalergênica devido a uma diarreia crônica que causava desnutrição e dificultava o tratamento de infecções. O produto, normalmente comum em Gaza, agora está em falta.

Jenan perdeu quase metade do peso corporal antes de falecer. 'Fui despedaçada', disse a mãe da criança, Aya Alskafi.

Israel cortou o envio da maior parte dos suprimentos para Gaza quando a guerra começou, em 7 de outubro de 2023, após um ataque do grupo militante palestino Hamas. Embora tenha permitido a entrada de ajuda humanitária no território durante um cessar-fogo em janeiro, o governo israelense impôs um bloqueio total em março deste ano.

O gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, não respondeu imediatamente a um pedido da Reuters para comentar sobre os níveis de desnutrição em Gaza e os relatos de que pessoas vulneráveis, incluindo crianças que precisam de suplementos, morreram em decorrência do bloqueio.

Autoridades israelenses afirmam não acreditar que Gaza enfrenta uma crise de fome, alegando que há suprimento suficiente para sustentar a população. Elas dizem que pretendem impedir que os produtos fiquem sob o controle do Hamas.

Israel também declarou que planeja ampliar sua campanha militar. Segundo moradores de Gaza, ataques aéreos atingiram edifícios em Rafah nesta quarta-feira.

Gaza depende quase que inteiramente de alimentos vindos de fora, já que civis estão impedidos de plantar ou pescar. A última entrega, no entanto, ocorreu em 2 de março, último dia do cessar-fogo.

A Organização das Nações Unidas (ONU) e as agências internacionais de ajuda humanitária alertam para uma catástrofe. A ONU afirma que 2 milhões -- dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza -- enfrentam escassez de alimentos.

A desnutrição afeta gravemente crianças, mulheres grávidas e pessoas com doenças crônicas, além de atrasar a recuperação de pacientes com ferimentos graves de guerra, já que os estoques de ajuda estão perto de se esgotar, segundo várias agências.

'A situação está piorando a cada dia. Temos entre 9 mil e 10 mil crianças que estão sendo tratadas por desnutrição', disse Jonathan Crickx, chefe de comunicações do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

A fome é um problema específico porque, além de prejudicar o desenvolvimento cognitivo e físico das crianças, enfraquece o sistema imunológico delas em um contexto no qual quase toda a população de Gaza está desabrigada devido à destruição causada pelos ataques aéreos e terrestres promovidos por Israel.

'Há crianças que estão procurando comida em uma grande pilha de lixo. Isso é extremamente preocupante, com certeza aumentará o número de crianças que morrem de doenças que poderiam ser evitadas', afirmou Crickx.

O Ministério da Saúde de Gaza diz que pelo menos 65 mil crianças já apresentaram sintomas de desnutrição. De acordo com o escritório de mídia do governo de Gaza, pelo menos 57 pessoas, a maioria crianças, morreram devido à condição desde que Israel fechou as passagens em março. Ambos os órgãos oficiais são administrados pelo Hamas.

O gabinete do primeiro-ministro israelense não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre os números.

DESNUTRIÇÃO

A fome não está apenas agravando os problemas de saúde das crianças.

A organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) relatou um aumento no número de pacientes que chegam aos hospitais com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, e que estão sem acesso a alimentos nutritivos.

Uma clínica do MSF em Gaza também tem atendido mais pacientes com ferimentos graves, cujas condições pioraram devido à falta de comida e água potável, disse a organização.

'Temos que mantê-los por meses no hospital quando, em uma situação normal, eles seriam liberados em algumas semanas', disse a coordenadora médica do MSF, Julie Faucon.

Dados da ONU mostram que há 350 mil pessoas com doenças crônicas, incluindo câncer e diabetes, em Gaza.

A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (SVP), que representa localmente o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, informou que não tem mais medicamentos para doenças cardíacas, hipertensão ou diabetes, e nenhum estoque de suplementos nutricionais ou fórmula infantil.

'As ambulâncias mal conseguem funcionar. Sem alimentos, água, suprimentos médicos ou combustível, a sobrevivência está se tornando ainda mais difícil. A ajuda humanitária precisa entrar na Faixa de Gaza', disse a SVP em um comunicado à Reuters.

(Reportagem de Nidal al-Mughrabi e Olivia Le Poidevin; reportagem adicional de Hatem Khaled e Ebrahim Hajaj)

Reuters

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