Gonet diz que reunião de Bolsonaro com comandantes militares colocou em curso tentativa de golpe
Gonet diz que reunião de Bolsonaro com comandantes militares colocou em curso tentativa de golpe
Reuters
02/09/2025
Por Ricardo Brito e Luciana Magalhaes
BRASÍLIA (Reuters) - O procurador-geral da República, Paulo Gonet, disse nesta terça-feira, durante julgamento do núcleo principal da tentativa de golpe de Estado, que a convocação pelo então presidente Jair Bolsonaro de comandantes militares em 2022 para consultá-los sobre medidas para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva implica que a tentativa de interrupção democrática estava em curso.
'Quando o presidente da República e o ministro da Defesa se reúnem com comandantes militares, sob sua direção política e hierárquica, para consultá-los sobre a execução da fase final do golpe, o golpe, ele mesmo, já está em curso de realização', disse.
Gonet faz na manhã desta terça-feira sua sustentação oral no julgamento na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) do processo que julga Bolsonaro e outros sete réus por tentativa de golpe de Estado após a derrota eleitoral dele em 2022.
Segundo o chefe da PGR, o golpe só não foi consumado porque não houve apoio dos comandantes do Exército e da Aeronáutica.
Gonet afirmou que punir a tentativa frustrada de ruptura é necessário para garantir a estabilização do próprio regime democrático e também atua como elemento dissuasório contra quaisquer tentativas golpistas.
Para o procurador-geral, não reprimir criminalmente essas tentativas pode levar a ímpetos de autoritarismo no país.
Após a fala de Gonet, o julgamento foi suspenso até às 14h desta terça, quando começará a se manifestar a defesa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid, que fez acordo de delação premiada, seguido dos advogados dos demais réus. As defesas terão uma hora cada para se manifestarem.
ACUSAÇÕES
O ex-presidente é formalmente acusado de cinco crimes: tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; tentativa de golpe de Estado; participação em organização criminosa armada; dano qualificado; e deterioração de patrimônio tombado. Se condenado, Bolsonaro poderá pegar até 43 anos de prisão, se considerados agravantes para os crimes.
A poucos dias do início dessa etapa do julgamento, Bolsonaro passou a ser ainda mais monitorado. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, autorizou a polícia a fazer um monitoramento externo na casa onde o ex-presidente mora, localizada em um condomínio fechado em Brasília, inclusive com a permissão de revista do interior de carros de visitantes dele.
Essa medida ocorreu após o aumento das preocupações da PGR e da Polícia Federal com risco de fuga de Bolsonaro.
Reuters