Governo de SP diz ter recebido só metade da remessa prevista de vacinas da Pfizer do PNI
Governo de SP diz ter recebido só metade da remessa prevista de vacinas da Pfizer do PNI
Reuters
04/08/2021
Atualizada em 04/08/2021
Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O governo do Estado de São Paulo afirmou nesta quarta-feira que recebeu somente a metade do lote previsto de vacinas da Pfizer contra a Covid-19 do Programa Nacional de Imunização (PNI) e cobrou que o Ministério da Saúde encaminhe ao Estado imediatamente as 228 mil doses que afirma faltarem na remessa destinada a São Paulo.
Em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, o governador João Doria (PSDB) classificou de 'maldade' a redução no envio de doses ao Estado e disse que ela pode afetar os planos de iniciar a vacinação de adolescentes em 18 de agosto, já que a vacina que será utilizada para este grupo é a da Pfizer.
'A decisão, que como governador qualifico de uma decisão arbitrária do Ministério da Saúde, representa a quebra do pacto federativo, e o governo federal, mantida essa decisão, decidiu punir quem fez o certo, quem foi eficiente na vacinação', disse Doria, acrescentando que o governo paulista enviou ofício ao ministério nesta manhã cobrando o envio das doses.
'Com menos vacinas para São Paulo, vacinas da Pfizer, o Ministério da Saúde compromete o calendário de vacinação de crianças e adolescentes no Estado de São Paulo, previsto para começar no dia 18 de agosto.'
Autoridades de saúde do Estado afirmaram que foram surpreendidas com a redução no envio de doses nesta madrugada e que não havia sido dada até o momento nenhuma explicação por parte do ministério.
Mais tarde, em entrevista coletiva concedida em resposta às declarações do governo paulista, autoridades do Ministério da Saúde afirmaram que o corte de doses foi uma 'compensação' por retiradas a mais de vacinas do Butantan realizadas por São Paulo.
'Como o Butantan é em São Paulo, eles podem fazer a retirada direta da Coronavac. São Paulo deveria receber 620 mil doses, mas retiraram 678 mil. Em outra pauta, foram retiradas 271 mil doses, mas deveriam receber 178 mil', disse a secretária extraordinária de enfrentamento à Covid-19 da pasta, Rosana Leite de Melo.
'Fizemos agora uma compensação.'
O secretário-executivo do ministério, Rodrigo Cruz, acrescentou que São Paulo já estava ciente do movimento da pasta --que, segundo ele, busca diminuir a disparidade da vacinação em Estados e municípios sem que qualquer ente seja prejudicado.
Na sequência, o governo de São Paulo publicou nota afirmando que a fala de Melo sobre uma compensação é 'mentirosa', negando ter retirado mais doses do que o previsto de Coronavac.
'Com esta decisão arbitrária, o Ministério da Saúde quebra o pacto federativo e coloca em risco a vida de milhares de cidadãos brasileiros que vivem em São Paulo', disse o governo paulista.
O movimento representa mais um embate entre os governos estadual e federal. Doria é inimigo político do presidente Jair Bolsonaro, com quem constantemente trava bate-bocas públicos e também é um dos principais críticos à gestão federal na pandemia.
Além disso, é pré-candidato à Presidência na eleição do ano que vem, quando Bolsonaro deverá buscar a reeleição.
O governador paulista, principal incentivador do acordo entre o Instituto Butantan, vinculado ao governo de São Paulo, e o laboratório chinês Sinovac, que permitiu o início da vacinação contra Covid-19 no Brasil em janeiro deste ano com a vacina CoronaVac, tem no tema da vacina sua principal bandeira para a disputa de 2022.
O Butantan entregou até o momento 64,8 milhões de doses da CoronaVac ao PNI e promete totalizar até o final deste mês 100 milhões de doses do imunizante entregues ao ministério.
'O governo federal já fez maldades demais com o Brasil, com os brasileiros, e agora quer direcionar uma dose adicional de maldade a São Paulo. Espero que isso não se sustente e que o ministro da Saúde reveja imediatamente essa sua posição, ou a posição do seu ministério, e delibere a entrega imediata das 228 mil outras doses da vacina da Pfizer que não foram entregues a São Paulo', disse Doria.
Reuters