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Rio identifica maioria dos mortos em megaoperação, enquanto protestos denunciam letalidade da polícia

Rio identifica maioria dos mortos em megaoperação, enquanto protestos denunciam letalidade da polícia

Reuters

31/10/2025

Placeholder - loading - Policiais transportam corpo de pessoa morta em operação na Favela da Penha, no Rio de Janeiro 28/10/2025 REUTERS/Aline Massuca
Policiais transportam corpo de pessoa morta em operação na Favela da Penha, no Rio de Janeiro 28/10/2025 REUTERS/Aline Massuca

Atualizada em  31/10/2025

Por Rodrigo Viga Gaier, Fabio Teixeira e Ricardo Brito

RIO DE JANEIRO, 31 Out (Reuters) - O governo do Rio de Janeiro identificou 99 dos 117 suspeitos mortos na megaoperação policial da última terça-feira, sendo que 42 deles tinham mandados de prisão em aberto, disse nesta sexta-feira o secretário da Polícia Civil, Felipe Curi, enquanto manifestantes denunciavam em protestos o alto número de vítimas da incursão de estilo militar.

O secretário afirmou que 78 dos mortos identificados após a mais letal ação policial da história do Brasil tinham 'relevante histórico criminal', embora nem todos tivessem mandados de prisão para serem cumpridos. Ele disse ainda que 40 dos mortos com histórico criminal eram de outros Estados, apontando Pará, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Espírito Santo, Paraíba e Mato Grosso como locais de origem desses suspeitos.

Como 'relevante histórico criminal', disse Curi, estão pessoas envolvidas com tráfico de drogas, roubo e assassinato.

Além dos 117 suspeitos mortos, também morreram quatro policiais na operação realizada nos complexos de favelas do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio, que visava a facção criminosa Comando Vermelho.

Em entrevista coletiva, Curi ressaltou que restrições impostas pela Justiça à atuação policial em favelas do Rio atraíram criminosos de outros Estados para a cidade. Ele disse que anos atrás a Polícia Civil alertou em relatórios que essas determinações iriam fortalecer o crime organizado.

A crítica indireta se refere a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) tomada na época da pandemia de Covid-19 na chamada ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) das favelas que proíbe, por exemplo, sobrevoo em comunidades de helicópteros com policiais com fuzis empunhados, exceto se forem justificadas.

'Os complexos da Penha e do Alemão passaram a ser o quartel-general do Comando Vermelho em nível nacional', afirmou Curi, chamando os criminosos da facção de 'narcoterroristas' e defendendo mudanças na legislação para endurecer o combate a essas facções.

Pelas contas do governo estadual, chegam mensalmente aos complexos 10 toneladas de drogas e são negociados de 50 a 70 fuzis no período.

O secretário disse que a chamada Operação Contenção, como foi batizada a ação de terça, é contínua e que a atuação de terça-feira foi apenas mais uma fase dessa operação.

Na ação de terça, 113 pessoas foram presas, incluindo 33 de outros Estados, como Amazonas, Ceará, Pará e Pernambuco, e 10 menores de idade apreendidos.

Embora o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), tenha tratado a operação como um 'sucesso', o elevado número de mortes tem sido alvo de críticas e o principal alvo da operação e maior líder do Comando Vermelho fora da prisão, Edgar Alves de Andrade, o Doca, continua foragido.

Em postagem nesta manhã em uma rede social ao lado de Curi, o governador do Rio defendeu novamente a operação. 'O nosso trabalho é livrar a sociedade do tráfico, da milícia e de todo aquele que queira tirar o nosso direito de ir e vir', disse.

Na coletiva, Curi também voltou a defender a operação, dizendo que foi um duro baque na facção criminosa e que Doca será preso, o que não ocorreu nesta operação por 'um triz', segundo o secretário. 'Prender o Doca é questão de tempo', disse. 'A hora dele vai chegar', ressaltou.

CRÍTICA DA ONU

No entanto, o alto número de mortes gerou críticas de representantes das Nações Unidas e especialistas em segurança. 'Esses atos podem equivaler a execuções ilegais e devem ser investigados de forma rápida, independente e minuciosa', disseram especialistas da ONU.

Movimentos sociais de esquerda, incluindo sindicatos e grupos de direitos humanos, se reuniram na sexta no Complexo da Penha, exigindo o fim das 'incursões militares' nas favelas e responsabilização pelas vítimas.

No local, os organizadores distribuíram camisetas com frases como 'Parem de nos matar' e 'Vidas negras importam'.

Ainda assim, uma pesquisa de opinião pública realizada pela AtlasIntel e publicada na sexta mostrou que mais da metade dos brasileiros, 55%, aprovam a operação, com o apoio subindo para 62% na cidade do Rio de Janeiro. Segundo o instituto, moradores de favelas também apoiaram amplamente as incursões.

Os números revelam um cenário político complexo em um país onde a violência continua sendo uma grande preocupação pública, mas as mortes causadas por ações policiais despertam alertas entre defensores dos direitos humanos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo governo afirmou ter sido pego de surpresa pela operação conduzida pela polícia do Estado do Rio, defendeu uma atuação coordenada que enfrente as facções sem colocar em risco policiais e civis.

DENÚNCIA

Segundo a denúncia do Ministério Público estadual que embasou a operação de terça, o Comando Vermelho consolidou uma estrutura de comando militarizada no Complexo da Penha em que a facção criminosa utiliza drones para monitorar ações policiais, ordena execuções de rivais e se vale de armamento de guerra para controlar e expandir o tráfico de drogas na comunidade e em outras regiões do Rio de Janeiro.

O MP fluminense denunciou 68 pessoas por ligações com a facção criminosa, tendo como base principalmente a interceptação de conversas de WhatsApp de lideranças do Comando Vermelho com autorização judicial.

Em uma das conversas interceptadas em que discutem uso de drones, um dos suspeitos disse a outro que era preciso o grupo se adequar à tecnologia. 'O BX vai comprar o noturno. Estamos esperando aí comprar (sic)', disse.

'O meu não é noturno não, cara. Nós temos que comprar o noturno', respondeu o comparsa.

Na megaoperação de terça, policiais que tentavam avançar na comunidade durante a operação foram alvejados por granadas lançadas por drones.

A denúncia do MP do Rio é de 26 de maio deste ano, mas a operação só foi deflagrada cinco meses depois.

(Edição de Pedro Fonseca e Eduardo Simões)

Reuters

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