ÍCONES DA MÚSICA PRESTAM HOMENAGEM A OZZY OSBOURNE
ELTON JOHN E ROD STEWART FORAM ALGUMAS CELEBRIDADES DO MUNDO DA MÚSICA QUE PARTICIPARAM DA ONDA DE TRIBUTOS AO ROQUEIRO INGLÊS
João Carlos
23/07/2025
A morte de Ozzy Osbourne, na terça-feira (22), aos 76 anos, provocou uma onda de homenagens que ultrapassou os limites do heavy metal — gênero do qual ele é considerado um dos fundadores com sua banda Black Sabbath, nos anos 1970.
Artistas de diferentes vertentes e gerações prestaram tributos emocionados, com destaque para os ícones britânicos Rod Stewart, Elton John e Ronnie Wood, que destacaram o lado humano, afetuoso e, por vezes, surpreendentemente engraçado de Ozzy — muito além do título de “Príncipe das Trevas”.
Elton John: “Um pioneiro e um dos mais engraçados que conheci”
Em seu perfil no Instagram, Elton John publicou uma mensagem repleta de admiração e carinho:
“É muito triste saber da notícia do falecimento de Ozzy Osbourne. Ele era um amigo querido e um grande pioneiro que garantiu seu lugar no panteão dos deuses do rock. Ele também foi uma das pessoas mais engraçadas que já conheci. Sentirei muita falta dele. Para Sharon e família, envio minhas condolências e meu amor.”
Elton e Ozzy colaboraram oficialmente em “Ordinary Man”, balada lançada em 2020 que os uniu em um dueto melancólico e tocante, reconhecido como um dos momentos mais vulneráveis da carreira do vocalista do Black Sabbath. A parceria consolidou uma amizade de décadas entre dois gigantes da música britânica — um vindo do piano pop, o outro da distorção metálica. Ouça abaixo a faixa que reuniu os dois músicos ingleses:
Rod Stewart: “Bye, bye Ozzy. Sleep well, my friend”
Rod Stewart, conterrâneo de Ozzy e admirador declarado de sua trajetória, prestou homenagem ao colega com uma mensagem breve, mas carregada de afeto e reverência. Em suas redes sociais, escreveu:
“Tchau, tchau, Ozzy. Durma bem, meu amigo. Te vejo lá em cima — mais tarde, não mais cedo.”
– Sir Rod Stewart
A declaração viralizou rapidamente, tanto pelo carinho evidente quanto pela forma sutil e humana de se despedir de uma lenda. Stewart, que já havia expressado em entrevistas anteriores sua admiração pela autenticidade de Ozzy Osbourne, sempre destacou o lado “gentil e caloroso” do cantor — mesmo que, para muitos, ele fosse a personificação do caos no palco.
Os dois mantinham uma relação amistosa fora dos holofotes, marcada por respeito mútuo e encontros em eventos históricos do rock britânico. A fala emocionada de Rod reforça o sentimento compartilhado por toda uma geração: Ozzy foi muito além do metal — ele foi um amigo de palco, de estrada e de espírito.
Ronnie Wood: “What a lovely goodbye concert he had”
O guitarrista dos Rolling Stones, Ronnie Wood, também prestou homenagem a Ozzy Osbourne, compartilhando em suas redes sociais uma foto antiga ao lado do amigo e a seguinte mensagem:
“Estou muito triste em saber da morte de Ozzy Osbourne. Que lindo show de despedida ele teve no Back To The Beginning em Birmingham.”
A publicação remete ao show de despedida realizado por Ozzy no início de julho, que reuniu antigos companheiros e milhares de fãs em sua cidade natal. Ronnie, que sempre teve uma relação amistosa com o vocalista do Black Sabbath, destacou a importância do momento como um encerramento simbólico de uma trajetória grandiosa.
A amizade entre Ozzy e membros dos Stones sempre foi marcada por admiração mútua — um elo entre estilos distintos, mas nascidos da mesma força rebelde e criativa do rock britânico. A homenagem de Wood reafirma que, mais do que um ícone do metal, Ozzy era visto por seus pares como uma alma generosa e uma figura humana profundamente cativante.
Um artista que ia além do metal
Embora seja reconhecido mundialmente como fundador do heavy metal com faixas como Paranoid, Iron Man e War Pigs, Ozzy manteve ao longo da carreira uma rede de amizades e colaborações com artistas de estilos muito diferentes — do pop ao blues, do rock psicodélico ao glam. Isso não apenas aumentou seu alcance como artista solo, mas também demonstrou uma versatilidade pouco comum para ícones de gêneros tão marcantes.
Ao lado de nomes como Slash, Post Malone, Tony Iommi, Elton John e Lemmy Kilmister, Ozzy soube usar sua personalidade intensa para unir mundos e aproximar públicos distintos — com autenticidade, humor e intensidade emocional.
Ozzy também foi pioneiro na cultura pop de massa

Muito além das guitarras distorcidas e das apresentações grandiosas no palco, Ozzy Osbourne também se reinventou como um personagem carismático da cultura televisiva dos anos 2000. Entre 2002 e 2005, estrelou ao lado da esposa Sharon e dos filhos Jack e Kelly o reality show "The Osbournes", exibido pela MTV. A série se tornou um fenômeno instantâneo de audiência e foi o programa mais assistido da emissora na época de sua estreia.
O grande trunfo do reality foi mostrar, com humor e espontaneidade, o cotidiano de uma família metaleira absolutamente real — com conflitos, afeto, hábitos esquisitos e uma bagunça carismática e caótica. Ozzy, que até então era visto por parte do público como uma figura obscura ou até demonizada pela estética do heavy metal, surgiu como um pai carinhoso, distraído, engraçado e — principalmente — humano.
Essa exposição contribuiu não apenas para recolocar sua imagem no centro da cultura pop, como também ajudou a quebrar estereótipos sobre fãs e artistas de metal, revelando que por trás do “Príncipe das Trevas” havia um cidadão comum tentando lembrar onde tinha deixado os óculos ou o controle remoto.
Além disso, "The Osbournes" abriu caminho para a explosão de reality shows com celebridades em formatos domésticos, como Keeping Up with the Kardashians, entre tantos outros — tornando Ozzy uma das figuras que, sem planejar, moldaram o entretenimento do século XXI.
Do subúrbio de Birmingham aos palcos do mundo — e ao desafio do corpo

John Michael Osbourne, nascido em Birmingham, Inglaterra, em 3 de dezembro de 1948, foi criado em uma família operária, cercado por realidades duras e influências culturais intensas. Foi justamente nesse ambiente — de fábricas, guitarras barulhentas e juventude rebelde — que nasceu o que mais tarde seria identificado como o berço do heavy metal.
Em 1968, ao lado de Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward, fundou o Black Sabbath, uma banda que mudaria o curso da história da música. Com riffs densos, letras sombrias e performances viscerais, o grupo lançou marcos como Black Sabbath (1970), Paranoid (1970), Master of Reality (1971) e Vol. 4 (1972), posicionando-se como um divisor de águas na cena roqueira.
A origem dessa história, no entanto, passa por um gesto simples e decisivo: o apoio do pai, Jack Osbourne. Em uma entrevista emocionada, Ozzy recordou:
“Se meu pai não tivesse se endividado para comprar um microfone e uma placa de som, eu provavelmente nunca teria me tornado quem me tornei.”
Em tempos difíceis, a atitude do pai — que sacrificou parte do que não tinha para investir no talento do filho — foi o impulso que lançou Ozzy ao caminho da música. Esse gesto, que ele sempre fez questão de reconhecer, mostra que por trás do ícone do heavy metal havia um jovem vulnerável, com um sonho e alguém que acreditou nele primeiro.
Após ser demitido da banda em 1979, por excesso de consumo de drogas e álcool, Ozzy iniciou uma bem-sucedida carreira solo com o disco Blizzard of Ozz (1980), que apresentou ao mundo faixas icônicas como Crazy Train e Mr. Crowley. Nos anos seguintes, seguiu lançando álbuns elogiados e formando parcerias com músicos de elite.
Porém, a energia de palco e os excessos cobraram seu preço. Nos últimos anos, Ozzy enfrentou uma série de problemas de saúde: uma queda grave em 2019 afetou sua coluna; depois, foi diagnosticado com Parkinson e passou por diversas cirurgias. Em 2022, anunciou o cancelamento de uma série de shows e turnês, alegando que seu corpo já não conseguia mais sustentar a rotina de estrada, embora sua voz e paixão pela música continuassem intactas.
“Meu corpo está fraco, mas minha alma ainda quer cantar”, disse em uma das últimas entrevistas.
Mesmo com mobilidade reduzida, Ozzy ainda participou de eventos pontuais, como a cerimônia de encerramento dos Jogos da Commonwealth em Birmingham, em 2022, e gravou o álbum Patient Number 9, lançado no mesmo ano — aclamado pela crítica como uma despedida corajosa e grandiosa.
Sharon Osbourne: mais do que esposa, um alicerce

Ao longo de sua trajetória marcada por excessos, colapsos e renascimentos, Ozzy Osbourne jamais escondeu quem foi o verdadeiro pilar em sua vida: Sharon Osbourne, sua esposa, empresária e figura de confiança absoluta. Em uma entrevista concedida durante o lançamento do álbum Ordinary Man, Ozzy foi direto:
“Se não fosse pela Sharon, eu já estaria morto.”
O casamento dos dois, iniciado oficialmente em 1982, atravessou tempestades emocionais, períodos de afastamento, problemas de saúde e desafios de carreira — e, ainda assim, permaneceu firme. Sharon assumiu o comando da carreira solo de Ozzy quando ele foi demitido do Black Sabbath, organizando turnês, negociando contratos e, principalmente, cuidando de sua saúde física e mental.
A parceria entre os dois foi tão marcante que se tornou símbolo de lealdade e reconstrução dentro do mundo da música. Enquanto Ozzy representava a energia caótica do palco, Sharon era o contrapeso estratégico, emocional e disciplinado que o mantinha de pé.
Durante os anos em que protagonizaram juntos o reality The Osbournes, Sharon também emergiu como figura pública independente, reforçando a conexão da família com o público e ajudando a humanizar a imagem do roqueiro excêntrico.
Ao longo de mais de quatro décadas, Sharon foi gestora, conselheira, mãe dos filhos de Ozzy e sua principal defensora — tanto nos momentos de glória quanto nos dias mais difíceis. Sua presença não foi apenas determinante para o sucesso de uma carreira, mas essencial para a sobrevivência de um homem que viveu no limite — e teve ao lado uma mulher que soube segurá-lo com força e amor.
No Brasil, homenagens e números que mostram o impacto duradouro
A notícia da morte de Ozzy Osbourne também repercutiu com força no Brasil, onde o artista mantém há décadas uma base fiel de fãs e admiradores — tanto no universo do rock pesado quanto no público mais amplo que o conheceu pela TV, pelo streaming e pelas regravações de seus sucessos. Nas redes sociais, artistas brasileiros e veículos de música prestaram homenagens emocionadas, lembrando sua influência sobre bandas nacionais, festivais de metal e gerações de ouvintes.
Além das manifestações públicas, o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) também se pronunciou oficialmente, destacando a relevância de Ozzy como compositor e intérprete no país. Segundo levantamento da instituição, nos últimos cinco anos, diversas músicas de autoria de Ozzy estiveram entre as mais tocadas em sete segmentos de execução pública, incluindo Rádio, Shows, Sonorização Ambiental, Música ao Vivo, Casas de Festas e Diversão, Carnaval e até Festa Junina.
As músicas mais executadas no Brasil nesse período foram:
- Paranoid
- Changes
- Iron Man
- War Pigs
Essas faixas continuam sendo presença constante em programações de rádio especializadas, repertórios de bandas covers e até em trilhas temáticas de eventos populares. O dado revela não apenas o alcance da obra de Ozzy, mas também como suas composições atravessaram fronteiras culturais e se enraizaram na diversidade musical brasileira — das guitarras distorcidas aos palcos alternativos das festas de rua.
O último ato: uma despedida histórica

No início de julho de 2025, Ozzy subiu ao palco pela última vez em Birmingham, sua cidade natal, para um show que entrou para a história. Anunciado como parte do evento beneficente Back to the Beginning, o concerto foi concebido como um agradecimento final ao público e à cidade onde tudo começou.
A apresentação contou com participações especiais de ex-integrantes do Black Sabbath, músicos convidados, filhos, netos e uma plateia lotada que incluía celebridades, líderes políticos e milhares de fãs de todo o mundo. Mais do que um espetáculo, foi uma celebração emocionada da vida e da obra de Ozzy — com setlist que percorreu clássicos como War Pigs, Mama, I’m Coming Home e Dreamer.
O evento quebrou recordes de arrecadação beneficente em um único show na história do Reino Unido, com parte dos lucros destinados a instituições de combate a doenças neurodegenerativas e apoio a músicos em situação de vulnerabilidade.
A performance final, sob aplausos e lágrimas, selou com grandeza uma trajetória que desafiou todas as probabilidades — e que continuará ecoando por gerações.
Legado eterno
Com mais de 100 milhões de discos vendidos, Ozzy Osbourne não apenas fundou um gênero. Ele construiu uma trajetória que desafiou padrões, atravessou gerações e emocionou artistas tão diferentes quanto Elton John, Rod Stewart e Ronnie Wood.
Sua morte marca o fim de uma era, mas as homenagens de colegas de palco e de alma mostram que Ozzy, mais do que uma lenda do metal, era um elo entre mundos musicais. E por isso, seguirá eterno.