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JOHN MAYER FAZ 48 ANOS; HÁ 20, ELE ABRIA SHOWS DOS ROLLING STONES

FORMADO AO LADO DE PINO PALLADINO E STEVE JORDAN, O TRIO DO GUITARRISTA MUDOU SUA CARREIRA E O LEVOU AOS PALCOS DA BANDA BRITÂNICA

João Carlos

16/10/2025

Placeholder - loading - Crédito da imagem: John Mayer na capa do álbum "Sob Rock" (2021)
Crédito da imagem: John Mayer na capa do álbum "Sob Rock" (2021)

John Mayer completa 48 anos nesta quinta-feira, 16 de outubro. Cantor, compositor e guitarrista premiado, o artista atravessa quatro décadas de carreira misturando técnica apurada, melodias sensíveis e uma trajetória de reinvenções. E foi justamente há 20 anos, em 2005, que Mayer viveu um de seus momentos mais simbólicos: a criação do John Mayer Trio, ao lado de Pino Palladino e Steve Jordan — projeto que marcou uma virada sonora e o colocou como atração de abertura da turnê dos Rolling Stones, na mesma semana de seu aniversário.

Crédito da imagem: John Mayer Trio / Reprodução: Flickr

Antes: do sucesso pop ao chamado do blues

No início dos anos 2000, John Mayer era o retrato de uma nova geração de cantores e compositores que uniam técnica apurada com sensibilidade pop. Seu álbum de estreia, “Room for Squares” (2001), colocou-o imediatamente entre os nomes mais promissores da música norte-americana, impulsionado por hits como “No Such Thing” e “Your Body Is a Wonderland”. A canção, com sua melodia suave e arranjos de violão, tornou-se um hino de rádio e lhe rendeu o Grammy de Melhor Performance Vocal Pop Masculina, abrindo as portas para um público global.

Dois anos depois, “Heavier Things” (2003) confirmou o sucesso. O single “Daughters”, delicado e melancólico, consolidou Mayer como um compositor de emoções refinadas e o levou a mais um Grammy, desta vez de Canção do Ano. Aos 26 anos, ele já era um astro estabelecido — mas também alguém inquieto. A fama de “pop star sensível” o incomodava. Entre entrevistas e turnês, Mayer falava cada vez mais sobre a vontade de tocar guitarra de verdade, de improvisar, de se sujar de blues.

Nos bastidores, ele mergulhava em gravações e referências que pouco tinham a ver com o formato radiofônico. Reouvia B.B. King, Albert Collins e Buddy Guy, estudava a pegada britânica de Eric Clapton e Jeff Beck, e revisava as harmonias mais sofisticadas de Stevie Ray Vaughan e Jimi Hendrix. Esses mestres reacenderam nele o desejo de buscar um som mais cru, mais honesto — aquele em que o virtuosismo não fosse exibicionismo, mas linguagem.

É nesse período que Mayer começa a frequentar jam sessions em pequenos clubes, longe do glamour dos grandes palcos. O público, acostumado ao cantor de baladas, se surpreendia ao vê-lo soltar solos longos, carregados de emoção e técnica. Aos poucos, o artista deixava claro que queria ser mais do que uma voz doce com violão: queria ser reconhecido como guitarrista de verdade.

Essa inquietação seria o estopim para uma virada artística. E o primeiro passo concreto viria em 2005, quando ele decidiu reunir dois músicos de elite e dar forma ao projeto que mudaria sua carreira: o John Mayer Trio.

O trio: um novo laboratório musical

Crédito da imagem: capa do álbum TRY! - Live In Concert (2005).

Essa transformação começou a tomar forma em 2005, quando John Mayer se juntou ao baixista Pino Palladino (figura lendária do soul e do rock, com passagens por D’Angelo e The Who) e ao baterista e produtor Steve Jordan (colaborador de Keith Richards e futuro integrante dos Rolling Stones). Nascia o John Mayer Trio — um power trio em essência, dedicado a explorar o blues-rock com liberdade, improviso e intensidade.

A química entre os três foi imediata. O resultado apareceu em “Try! John Mayer Trio Live in Concert”, álbum ao vivo gravado no House of Blues, em Chicago, e lançado em novembro daquele ano. A sonoridade do disco era mais densa e madura, mostrando um Mayer em total domínio da guitarra, longe do formato pop que o havia revelado. Relembre “Try”, faixa-título do álbum do John Mayer Trio, que completa 20 anos em 22 de novembro.

Às vésperas do aniversário: abrindo para os Stones

Crédito da imagem: John Mayer no palco com os Rolling Stones em 2012 / Reprodução: redes sociais.

O John Mayer Trio mal havia estreado nos palcos quando recebeu um convite que soava quase inacreditável: abrir três apresentações da “A Bigger Bang Tour”, a monumental turnê mundial dos Rolling Stones, que arrastava multidões e reafirmava a vitalidade da banda mesmo após quatro décadas de estrada. As apresentações aconteceram em Washington, D.C. e Filadélfia, entre os dias 3 e 12 de outubro, exatamente na semana em que Mayer completaria 28 anos.

Para o músico, foi mais do que uma oportunidade — foi um rito de passagem. Até ali, Mayer era conhecido principalmente pelos fãs de pop sofisticado e baladas introspectivas, o tipo de artista que as rádios adultas adoravam e que os críticos costumavam enquadrar como “cantor sensível”. De repente, ele estava diante de plateias que não o conheciam, formadas por fãs dos Stones, exigentes e acostumados à energia crua do rock.

Os bastidores daquela curta turnê revelam um Mayer dividido entre a euforia e a pressão. Ao lado de Pino Palladino e Steve Jordan, ele ensaiou intensamente, ajustando o repertório do trio para impressionar um público acostumado a guitarras lendárias. “Era como ir à guerra com duas pessoas em quem você confia completamente”, ele diria anos depois, em entrevista. E de fato, o trio entrou em cena com a urgência de quem tem algo a provar — entregando versões incendiárias de “Who Did You Think I Was” e “Good Love Is On the Way”, que deixaram claro que o guitarrista estava em uma nova fase.

A experiência marcou Mayer profundamente. Assistir de perto à engrenagem dos Rolling Stones — a forma como a banda soava coesa, espontânea e ao mesmo tempo monumental — foi uma lição sobre longevidade e autenticidade. “Ver Mick Jagger dominar um estádio inteiro e Keith Richards tocar como se fosse o primeiro show da vida dele foi algo transformador”, comentaria o músico anos depois.

Naquela semana, às vésperas de seu aniversário, Mayer percebeu que havia cruzado uma fronteira. Já não era apenas o jovem prodígio do pop universitário; estava se tornando um intérprete de blues e rock com voz própria, capaz de dialogar musicalmente com os gigantes. E ao fim daquelas três noites, o que começou como um convite pontual se transformou em um símbolo de virada — o momento em que John Mayer deixou de abrir shows dos Stones para, de certa forma, encontrar seu próprio som lendário.

O depois: a trilha até “Continuum”

As experimentações com o Trio se tornaram o alicerce de um novo álbum de estúdio. Em 2006, Mayer e Steve Jordan produziram “Continuum”, trabalho que consolidou o equilíbrio entre o virtuosismo do blues e a delicadeza das canções pop. O disco trouxe faixas como “Gravity” e “Vultures” — ambas nascidas durante a fase do Trio — e garantiu ao artista o prêmio Grammy de Melhor Performance Vocal Pop Masculina, além de elogios da crítica por sua maturidade musical.

Desde então, o John Mayer Trio se tornou uma espécie de alter ego do músico. O projeto voltou a se reunir no show “Where the Light Is” (2008), em Los Angeles, e vez ou outra retorna aos palcos para relembrar a energia daqueles dias.

Conexões que atravessam o tempo

A história também guarda curiosas coincidências. Steve Jordan, baterista do Trio, viria a integrar oficialmente os Rolling Stones a partir de 2021, após a morte de Charlie Watts. E Pino Palladino, o outro pilar do grupo, seguiu como um dos baixistas mais requisitados do mundo, acompanhando artistas como The Who, Adele e Nine Inch Nails.

Duas décadas depois, o Trio continua sendo um ponto de virada na trajetória de Mayer — o momento em que ele deixou de ser apenas um astro pop para se afirmar como um dos grandes guitarristas e compositores de sua geração.

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