LOCAIS ICÔNICOS DA MÚSICA, PARTE 8
LAS VEGAS, A CIDADE DO PECADO
João Carlos
01/07/2025
Dando continuidade à nossa viagem pelos locais icônicos da música, a próxima parada é a cidade que ficou famosa como o paraíso dos cassinos, do luxo e do espetáculo: Las Vegas.
A cidade onde o pop, o rock, o soul e o espetáculo convivem em alto volume sob luzes de neon
Las Vegas há muito deixou de ser apenas o destino de jogos e cassinos. Nas últimas décadas, a cidade se consolidou como um dos palcos mais importantes da história da música, principalmente por meio de suas célebres residências artísticas — temporadas fixas de shows encabeçadas por grandes nomes da indústria.
A tradição começou com Liberace (em destaque acima) nos anos 1940, mas ganhou força nos anos 1960 e 70 com Frank Sinatra e, principalmente, Elvis Presley, cuja temporada no Hilton Hotel permanece até hoje como um dos maiores ícones da história da cidade. Desde então, a Strip se tornou o endereço definitivo de shows imersivos, lucrativos e memoráveis.
Nos anos 2000, Celine Dion revolucionou o conceito com sua residência A New Day..., um espetáculo de alto padrão técnico e visual que arrecadou quase US$ 400 milhões em quatro anos. Seu sucesso abriu caminho para outros artistas da nova geração: Britney Spears, Jennifer Lopez, Lady Gaga, Katy Perry, Usher e, mais recentemente, Adele.
Além de serem vitrine de inovação em cenografia, figurino e narrativa visual, as residências de Las Vegas também representam um selo de prestígio. Assinar um contrato com os grandes resorts da cidade equivale a entrar para o hall da relevância pop.
E não é só nos palcos: Las Vegas respira música também nos bastidores. De casamentos com trilha sonora de Elvis a clubes de jazz, passando por experiências sonoras interativas e lojas que funcionam como verdadeiros museus do vinil, tudo na cidade contribui para seu status de ponto de peregrinação musical global.
“Viva Las Vegas” e a relação de Elvis com a cidade
A música-título “Viva Las Vegas”, escrita por Doc Pomus e Mort Shuman, foi composta especialmente para o filme de 1964 estrelado por Elvis Presley e Ann‑Margret. O filme fez grande sucesso, arrecadando cerca de US$ 9,4 milhões nos EUA e Canadá.
A letra captura a essência da cidade, com referências a luzes neon, jogos de azar, vida noturna intensa e ao fascínio por apostas:
“Bright light city gonna set my soul on fire / Got a whole lot of money that's ready to burn...”
"A cidade da luz brilhante vai incendiar minha alma / Tenho muito dinheiro pronto para queimar..."
A canção se tornou um hino não oficial de Las Vegas e foi regravada por artistas como ZZ Top, Dead Kennedys e Bruce Springsteen, além de aparecer em trilhas sonoras, jogos como Just Dance 2 e eventos esportivos. Em 2002, houve até uma tentativa de torná-la a música oficial da cidade. Veja abaixo a versão animada da música, produzida especialmente para a série Agent Elvis, da Netflix:
Além de Viva Las Vegas, outras canções também prestaram homenagem à cidade. Entre elas estão Luck Be a Lady de Frank Sinatra, que captura o clima sofisticado e arriscado das noites em Vegas; Waking Up in Vegas, de Katy Perry, que brinca com os excessos e decisões impulsivas na cidade; e Vegas, de Doja Cat, que fez parte da trilha sonora do filme Elvis e trouxe uma nova interpretação do mito cultural de Las Vegas para o público jovem.
Por que Las Vegas virou sinônimo de espetáculo e apostas
Las Vegas se tornou um símbolo global de espetáculo e apostas por uma combinação de fatores históricos, geográficos e culturais. As fontes naturais que existiam no meio do deserto transformaram a região em um ponto estratégico de parada e assentamento. Com a construção da linha ferroviária ligando Salt Lake City e Los Angeles, em 1905, a cidade ganhou infraestrutura e população. Em 1931, em meio à Grande Depressão, o estado de Nevada legalizou o jogo, abrindo caminho para um novo modelo de economia baseado em turismo e entretenimento.
Na mesma década, a construção da represa Hoover Dam trouxe milhares de trabalhadores e, com eles, a demanda por diversão e lazer. Nas décadas seguintes, investimentos do crime organizado ajudaram a erguer os primeiros cassinos e hotéis de luxo — com atrações que iam de jogos de azar a espetáculos adultos. Foi também nesse contexto que nomes como Frank Sinatra e o Rat Pack tornaram-se símbolos do glamour da cidade, apresentando-se em casas noturnas e cassinos.
O resultado foi uma cidade moldada para entreter: do luxo das produções aos teatros monumentais, Las Vegas transformou-se no epicentro mundial de experiências ao vivo, combinando luzes, som, ousadia e sofisticação como nenhum outro lugar. Com Rat Pack e resorts-glamour, Las Vegas virou sinônimo de entretenimento sofisticado |
A construção da Hoover Dam na década de 1930 e a legalização do jogo criaram o cenário perfeito para transformar Las Vegas no centro mundial de entretenimento. Os investimentos da máfia impulsionaram os primeiros cassinos luxuosos e espetáculos adultos, enquanto as décadas seguintes consolidaram a cidade como sinônimo de espetáculo, luxo e cultura pop.
Las Vegas: onde o show nunca para
A cidade permanece no centro dos holofotes com acontecimentos que reforçam sua presença no cenário global da música. A inauguração da inovadora Sphere, uma arena de altíssima tecnologia, marcou uma nova era para os espetáculos da cidade com o início da turnê U2:UV Achtung Baby Live at Sphere, que impressionou o público pela imersão audiovisual e pela grandiosidade do projeto. Em clima de celebração, o U2 lançou também uma música inédita, Atomic City, gravada em uma performance surpresa ao vivo nas ruas da cidade — uma homenagem direta à identidade vibrante de Vegas, mencionada inclusive na letra. Veja abaixo o videoclipe da canção:
Outras temporadas também ganharam destaque, como a residência do grupo Eagles, em uma série de apresentações intimistas com ingressos disputadíssimos, e a confirmação da residência do grupo Foreigner, programada para 2026.
Entre os novos nomes cotados para dar continuidade a essa tradição está Miley Cyrus, que recebeu uma proposta formal para se apresentar na cidade — reforçando sua conexão com Las Vegas em um dos momentos mais relevantes de sua carreira.
Se Las Vegas já foi chamada de “cidade do pecado”, hoje é, sobretudo, a cidade do palco. Uma metrópole que une história, espetáculo e música como nenhuma outra no mundo.
Guia para o viajante musical: onde acontecem os grandes shows em Las Vegas
Para quem deseja mergulhar de vez na experiência musical da cidade, aqui estão alguns dos principais locais onde ocorrem as residências e grandes espetáculos:
- Caesars Palace – The Colosseum: Palco de shows icônicos de Celine Dion, Adele, Elton John e Rod Stewart.
- Resorts World Theatre: Inaugurado recentemente, já recebeu residências de Katy Perry e Luke Bryan.
- Park MGM – Dolby Live: Casa de Lady Gaga, Bruno Mars e Usher, com estrutura moderna e acústica impecável.
- Zappos Theater (Planet Hollywood): Onde Britney Spears, Jennifer Lopez e Gwen Stefani apresentaram suas temporadas.
- MGM Grand Garden Arena: Arena multiuso que recebe desde shows até premiações como o Billboard Music Awards.
- T-Mobile Arena: Espaço para turnês internacionais e eventos musicais de grande escala, além de jogos esportivos.
- The Sphere: A nova atração high-tech da cidade, inaugurada com o U2 e projetada para experiências imersivas sem precedentes.
Las Vegas é mais do que uma cidade com shows — é um verdadeiro destino para quem deseja viver a música em sua forma mais espetacular. Uma metrópole que une história, espetáculo e música como nenhuma outra no mundo.
Outros capítulos da série "Locais Icônicos da Música" já publicados:
Parte 3 - Graceland, Memphis – A mansão de Elvis Presley
Parte 4 - Whisky a Go Go, West Hollywood – Berço da cena roqueira de Los Angeles
Parte 5 - New Orleans – Onde nasceu o jazz e se formaram as raízes da soul music
Parte 6 - Rock and Roll Hall of Fame, Cleveland – Museu que eterniza os maiores nomes do gênero
Parte 7 - Anfiteatro de Pompeia, Itália – Onde o Pink Floyd fez história unindo ruínas e psicodelia
