LOJAS DE DISCOS NO REINO UNIDO VIRAM NOVO QUADRILÁTERO DA MÚSICA AO VIVO
RECORD SHOPS ORGANIZAM MAIS DE 4.000 GIGS E SE TORNAM PARCEIROS DE ARTISTAS, FÃS E COMUNIDADES
João Carlos
09/09/2025
O ambiente está mudando nas ruas musicais do Reino Unido. O que antes era um boteco de vinil, agora fervilha de música ao vivo. Neste ano, as lojas de discos — antes redutos silenciosos para amantes do vinil — vão sediar mais de 4.000 shows “in-store” e “out-store”. É o que afirma a ERA, associação digital do varejo musical britânico. Chega a representar um show em cada 40 concertos realizados no país. Nunca antes esse tipo de performance havia sido tão frequente.
Se por um lado há grande descontentamento com os preços considerados abusivos dos grandes shows, por outro, esse movimento surge como uma resposta e se apresenta como alternativa mais acessível para quem não abre mão da música ao vivo de qualidade.
Por que lojas se tornaram palcos?
Maior número de lojas independentes (471, recorde em 10 anos) e da HMV (124 unidades) tornaram possível essa transformação. Executivamente, Kim Bayley, CEO da ERA, define esse movimento como um virada drástica:
“É uma guinada no papel das lojas de discos — agora são também espaços de música ao vivo —, um ganha-ganha para fãs, artistas e comunidades”
Em pouco tempo, os artistas perceberam que esses espaços viraram palco estratégico de promoção — especialmente para campanhas de lançamento e novos trabalhos — e as lojas passaram a contratar gerentes de eventos dedicados.
Exemplos que mostram a força do movimento
Alguns nomes já aproveitam o circuito in-store para se conectar com o público:
CMAT, Sophie Ellis-Bextor e Nova Twins são alguns dos artistas que estão em turnê por lojas de discos no momento.
A Rough Trade East, em Brick Lane, Londres, possui um palco e plateia de até 300 pessoas, onde os fãs adquirem ingressos com a compra de um álbum — formato que já virou tradição. Veja um trecho da performance de Khruangbin, um trio americano de Houston, Texas, em apresentação ao vivo na loja de discos independente:
Em Liverpool, a Jacaranda Records, nasceu nos corredores onde The Beatles começaram. Lá, loja e palco coexistem com história, com espaços que já receberam absolutos locais e internacionais.
Mais que vendas: comunidade e experiência
Esse movimento vai além da venda de LPs. É sobre experiência. Os fãs aproveitam momentos íntimos com artistas, criam novas conexões, vivenciam descoberta musical e colaboram com uma cultura local fortalecida.
Como evidência, há estudos que mostram que vendas de vinil em shows ainda são parte essencial da fonte de renda de artistas independentes, sobretudo em espaços alternativos que valorizam a interação pessoal.
Uma mudança de paradigma revigorante
Enquanto o streaming domina e as grandes arenas atraem multidões, essas lojas - silenciosas por décadas - estão agora no coração da cultura pop emergente, oferecendo concertos íntimos, descobertas musicais e revitalizando o centro musical das cidades.
O futuro do show ao vivo pode até ser grandioso — mas, neste momento, está acontecendo no meio dos discos, entre as prateleiras de uma loja local.