Lula diz que forma de resolver 'briga' na Venezuela passa pela apresentação de atas eleitorais
Lula diz que forma de resolver 'briga' na Venezuela passa pela apresentação de atas eleitorais
Reuters
30/07/2024
Atualizada em 30/07/2024
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira que para 'resolver a briga' sobre as eleições na Venezuela é preciso que as autoridades locais apresentem as atas de votação, e reiterou essa posição em telefonema com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre a crise venezuelana.
Em sua primeira manifestação pública sobre o impasse eleitoral venezuelano desde a eleição de domingo, Lula afirmou, em entrevista a uma emissora afiliada da TV Globo no Mato Grosso, que 'é normal que tenha uma briga' após as eleições.
'Como resolve essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar. Eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo', disse Lula, de acordo com trecho da entrevista publicado pelo canal a cabo GloboNews.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano anunciou que Maduro venceu a eleição de domingo com 51% dos votos, mas a oposição, que considera que o órgão eleitoral está no bolso de um governo ditatorial, diz que os 80% da contagem de votos aos quais teve acesso mostram que o seu candidato, Edmundo González, recebeu mais do que o dobro dos votos que Maduro.
Apesar de declarar a vitória da situação, o CNE ainda não apresentou as atas da votação, no que vem sendo cobrado por diversos países -- entre eles Brasil, Estados Unidos e Colômbia.
'Na hora que tiver apresentado as atas, e for consagrado que a ata é verdadeira, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral da Venezuela', disse Lula na entrevista.
'Há uma proposta que está sendo feito que Brasil, Colômbia e México assinassem uma nota conjunta. Acho que não é necessário muita coisa. O presidente Maduro sabe perfeitamente bem que quanto mais transparência houver mais chance de tranquilidade para governar a Venezuela ele terá', acrescentou.
Na tarde desta terça, Lula conversou por cerca de 30 minutos com Biden sobre a situação na Venezuela. Ele reiterou a posição do Brasil de que é essencial o acesso às atas de votação para que se aceite o resultado, de acordo com um comunicado do governo brasileiro sobre a conversa. Uma fonte havia antecipado à Reuters o conteúdo da conversa.
No telefonema, marcado a partir de um pedido da Casa Branca, Lula contou a Biden sobre as conversas que seu assessor especial, embaixador Celso Amorim, teve em Caracas com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e com o candidato da oposição, Edmundo González.
'Lula reiterou que é fundamental a publicação das atas eleitorais do pleito ocorrido no último domingo. Biden concordou com a importância das divulgações das atas', disse o governo brasileiro.
Enviado por Lula a Caracas, Amorim teve reuniões com Maduro e González na segunda-feira. A Maduro, Amorim pediu que as atas das mesas de votação sejam divulgadas, e recebeu a promessa de que o serão 'em breve', de acordo com fontes ouvidas pela Reuters.
O presidente venezuelano atribuiu o atraso a um suposto 'ataque hacker' ao sistema eleitoral venezuelano. A acusação foi repetida por Maduro em seu primeiro discurso depois de ter sido declarado reeleito, afirmando que o sistema recebeu um 'ataque massivo' vindo de outro país.
Na conversa com González, o candidato opositor reforçou sua versão de que a oposição tem provas de que venceu as eleições.
Amorim chegou de volta ao Brasil nesta terça e deve se reunir com Lula na quarta-feira. O embaixador tem avaliado que a situação no país é 'difícil' e o Brasil tem que atuar com cautela para poder ter espaço e construir uma solução pacífica.
Protestos eclodiram na Venezuela desde a votação, enquanto os Estados Unidos e vários líderes latino-americanos rejeitaram os resultados ou disseram que é necessária maior transparência.
(Edição de Pedro Fonseca)
Reuters