META APOSTA EM SUPERCLUSTERS DE IA E REDEFINE A CORRIDA TECNOLÓGICA GLOBAL
EMPRESA DE ZUCKERBERG REAGE COM INFRAESTRUTURA BILIONÁRIA ESTRATÉGICA E APOSTA EM UMA NOVA ONDA DE DOMÍNIO TECNOLÓGICO
João Carlos
22/07/2025
No momento em que a inteligência artificial se consolida como motor da nova economia digital, a Meta Platforms — sob comando de Mark Zuckerberg — aposta alto. Muito alto. A empresa anunciou uma das maiores iniciativas de infraestrutura computacional da história: a construção de superclusters de IA com capacidade energética sem precedentes e foco declarado em dominar o futuro da chamada superinteligência artificial.
Um supercluster, no contexto da computação e da inteligência artificial, é uma infraestrutura massiva composta por milhares — ou até milhões — de unidades de processamento interconectadas, projetadas para realizar tarefas de altíssimo desempenho computacional, como o treinamento de modelos de IA de larga escala.
Em termos simples:
É como se fosse um “supercérebro digital”, construído por interligar muitos clusters (agrupamentos de servidores) para trabalhar como um só — oferecendo enorme poder de processamento, armazenamento e eficiência.
Características principais de um supercluster:
- Alta capacidade energética, medida em megawatts ou até gigawatts (como nos casos da Meta: Prometheus e Hyperion);
- Composto por dezenas de milhares de GPUs ou TPUs (processadores especializados em IA);
- Estruturado com foco em treinamento de modelos de IA generativa, robótica, simulações científicas, modelagem climática, entre outros;
- Exige infraestrutura de resfriamento, rede de baixa latência, energia contínua e escalabilidade;
- Muitas vezes, ocupa áreas físicas do tamanho de bairros inteiros ou pequenos centros urbanos.
Prometheus e Hyperion: quando o futuro ganha escala física
A Meta pretende inaugurar em 2026 o Prometheus, um cluster de computação com capacidade de 1 GW, em Ohio. Logo em seguida, virá o Hyperion, com impressionantes 5 GW, em construção na Louisiana. Em comparação, a potência combinada desses centros de dados ultrapassa o consumo de energia de algumas cidades de médio porte nos EUA. Zuckerberg foi direto:
“Só um deles cobre uma parte significativa da área de Manhattan.”
Esses projetos, além de colocarem a Meta no centro da corrida tecnológica, ilustram como o futuro da IA está sendo construído fisicamente em megaestruturas — ou, como o próprio nome sugere, superclusters. Mas a dimensão técnica carrega consigo uma camada mais simbólica: o de que o poder agora se organiza em redes, agrupamentos e estruturas interconectadas, muito além da visão de uma empresa isolada competindo por protagonismo.
Superintelligence Labs: uma equipe, muitos talentos

A ambição da Meta vai além da infraestrutura. Para alimentar os superclusters, a empresa lançou o Meta Superintelligence Labs, um novo braço interno liderado por Alexandr Wang (ex-Scale AI) e Nat Friedman (ex-GitHub), com a missão de desenvolver os próximos grandes saltos em IA generativa.
O que chama atenção, além dos salários que chegam a US$ 100 milhões por recrutado, é o tipo de estratégia por trás dessas contratações: uma composição de ex-funcionários da Apple, OpenAI, DeepMind e Anthropic, como se a Meta estivesse reunindo um “dream team” que espelha as redes de poder técnico que, mesmo de forma não coordenada, estruturam o avanço coletivo da inteligência artificial.
O poder da infraestrutura invisível
Os novos superclusters permitirão treinar modelos de linguagem cada vez maiores, mais rápidos e adaptáveis. Isso significa mudanças perceptíveis para o público em geral: assistentes virtuais mais naturais, recomendações hiperpersonalizadas, melhorias na experiência em RA/RV com o Meta Quest e algoritmos ainda mais sofisticados no Instagram, Facebook e Threads.
Mesmo que invisível, a infraestrutura por trás dessas experiências opera como um sistema nervoso invisível, conectando bilhões de pessoas a decisões automatizadas — o que reforça o papel das Big Techs como “organizadores silenciosos” do cotidiano digital.
Uma corrida… em grupo

Embora a narrativa costume destacar a rivalidade entre Meta, OpenAI, Google e Microsoft, o que se observa, na prática, é que essas gigantes não apenas competem — elas se movem como um grupo, um ecossistema interdependente que avança junto, define padrões e molda a cultura tecnológica em bloco.
Esse padrão se reflete também nos produtos dessas mesmas empresas: os algoritmos que conectam fãs da Taylor Swift, investidores de criptomoedas ou consumidores de nicho no TikTok seguem a mesma lógica — agrupam, amplificam, moldam comportamento. A tecnologia hoje não apenas serve grupos: ela também os cria, os estrutura e os movimenta.
Riscos, alertas e desafios
A aposta da Meta vem acompanhada de preocupações. Entre elas:
- Consumo energético colossal e impacto ambiental;
- Distorções no mercado de trabalho de tecnologia, com práticas agressivas de recrutamento;
- Crescentes questionamentos sobre governança, privacidade e centralização de poder.
Analistas como o Wall Street Journal e The Guardian já alertam que, caso o investimento fracasse, a Meta poderá ter canalizado recursos colossais em uma tentativa de retomar liderança num campo já dominado por outras vozes.
Entre superclusters e supergrupos: o valor das conexões
A construção desses centros de dados é física, mas a lógica por trás deles é fundamentalmente social: na era da IA, valor não se gera mais de forma isolada — ele emerge de sistemas conectados, times multifuncionais, redes de especialistas, clusters de decisão.
Seja na forma como a Meta estrutura seus laboratórios, na forma como os algoritmos criam comunidades em torno de causas ou estéticas, ou na maneira como culturas digitais se consolidam, o que vale é a força dos agrupamentos. A história tecnológica recente mostra que as grandes conquistas — de performance, inovação ou impacto social — são, cada vez mais, resultados de estruturas coletivas e interdependentes.
O mundo em clusters
O movimento da Meta deixa uma mensagem clara: a inteligência do futuro será construída em rede — e por redes. Ao organizar talentos, dados, servidores e decisões como parte de supergrupos interligados, as Big Techs estão ditando as novas formas de influência, poder e valor.
E isso nos obriga a repensar o próprio conceito de liderança: no século XXI, quem avança mais rápido não é quem corre sozinho, mas quem sabe se integrar aos melhores grupos.


