Novo primeiro-ministro francês toma posse em meio a protestos contra o governo
Novo primeiro-ministro francês toma posse em meio a protestos contra o governo
Reuters
10/09/2025
Por Michel Rose
PARIS (Reuters) - O novo primeiro-ministro da França, Sebastien Lecornu, prometeu encontrar maneiras criativas de trabalhar com os rivais para aprovar um orçamento de redução da dívida, ao mesmo tempo em que defendeu novas direções políticas, após assumir o cargo em um dia de protestos antigovernamentais nesta quarta-feira.
O presidente Emmanuel Macron escolheu na terça-feira Lecornu para ser seu quinto primeiro-ministro em dois anos, nomeando um aliado que dificilmente irá romper com sua agenda econômica pró-negócios.
Lecornu substituiu François Bayrou, que foi deposto em uma votação parlamentar na segunda-feira por seus planos de reduzir o enorme déficit orçamentário do país, o maior da zona do euro.
Ex-ministro da Defesa, Lecornu disse em um breve discurso após a cerimônia de transferência de poder que o governo precisaria 'ser mais criativo, às vezes mais técnico, mais sério' na forma como trabalha com a oposição. Mas ele também disse que 'rupturas serão necessárias'.
O desafio imediato de Lecornu será como conduzir um orçamento simplificado para 2026 no parlamento, que está dividido em três blocos ideológicos distintos. Os partidos concordam amplamente sobre a necessidade de reduzir o déficit francês, que atingiu 5,8% do PIB em 2024, mas não sobre como fazer isso.
Lecornu precisa enviar um rascunho completo do texto ao parlamento até 7 de outubro, embora haja alguma margem de manobra até 13 de outubro, quando os legisladores ficarão sem tempo para aprovar o orçamento até o final do ano.
As reações à nomeação de Lecornu ressaltaram o desafio que ele enfrenta.
Enquanto a extrema-esquerda disse que tentaria derrubar Lecornu com uma moção de censura imediata, o partido de extrema-direita Reunião Nacional (RN) sinalizou uma disposição provisória de trabalhar com ele no orçamento, desde que suas demandas orçamentárias sejam atendidas.
O RN é o maior partido no parlamento da França e, como tal, um fator crucial em qualquer potencial moção de censura. Ainda assim, Lecornu é visto como o membro mais próximo do círculo de Macron ao RN, tendo jantado com o presidente do partido, Jordan Bardella, no ano passado.
Bardella, reagindo ao discurso de Lecornu, disse que o novo primeiro-ministro 'está em uma posição muito precária'.
Usando a mesma palavra usada por Lecornu em seu discurso, Bardella disse que queria ver o novo governo adotar as preocupações do RN: 'Ou há uma ruptura, ou há uma moção de desconfiança'.
PROTESTOS
O outro caminho -- mais complicado -- de Lecornu para aprovar o orçamento envolve unir os socialistas, que querem diluir os cortes orçamentários e taxar os ricos, com seu antigo partido -- Os Republicanos -- que é totalmente contrário a qualquer aumento de impostos.
Macron, em uma atitude incomum, ligou na terça-feira para o líder do Partido Socialista, Olivier Faure, para informá-lo de que não nomearia um esquerdista como primeiro-ministro. Na quarta-feira, Faure pareceu deixar a porta entreaberta para a colaboração com Lecornu, ao mesmo tempo em que afirmou que apoiaria uma medida de desconfiança se sentisse que o governo não está levando em conta suas prioridades orçamentárias.
Enquanto isso, milhares de pessoas em toda a França foram às ruas como parte dos chamados protestos 'Bloqueie Tudo' (Bloquons tout), uma expressão de amplo descontentamento com Macron, com os cortes orçamentários propostos e com toda a classe política.
'A raiva está ecoando há meses, até anos', disse Daniel Bretones, sindicalista que protestava em Marselha. 'Estamos no quinto primeiro-ministro do segundo mandato de Macron, e isso nunca mudou nada.'
(Reportagem de Gabriel Stargardter)
Reuters

