O GRANDE DEBATE DA INDÚSTRIA NO SÉCULO XXI
COMO CONCILIAR CRESCIMENTO ECONÔMICO, TECNOLOGIA E SUSTENTABILIDADE EM UM MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO
João Carlos
09/09/2025
Nunca a indústria viveu um debate tão estratégico quanto o do século XXI. Se no passado os dilemas giravam em torno da eficiência de produção ou da expansão de mercados, agora a questão é muito mais complexa: como crescer sem destruir o planeta e sem perder espaço em um jogo geopolítico cada vez mais acirrado?
Em meio à transição energética, à ascensão de tecnologias disruptivas e à pressão crescente por responsabilidade socioambiental, surge uma pergunta que guia governos, empresas e investidores: é possível conciliar crescimento econômico, inovação tecnológica e sustentabilidade em um mesmo caminho?
A resposta ainda está sendo construída. Mas uma coisa é certa: o rumo da indústria neste século definirá não apenas os próximos ciclos econômicos, mas também a qualidade de vida das futuras gerações.
O cruzamento de forças
O setor industrial se encontra em um ponto de interseção de forças inéditas.
De um lado, está o imperativo climático: reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis e caminhar rumo à neutralidade de carbono. Isso exige investimentos massivos em energias solar, eólica, hidrogênio verde e até em uma nova geração de energia nuclear.
De outro, cresce a disputa geopolítica em torno da tecnologia. Chips e semicondutores, hoje comparáveis ao petróleo em termos de valor estratégico, alimentam desde celulares até carros elétricos e sistemas de defesa. A inteligência artificial, por sua vez, promete ganhos de produtividade sem precedentes, mas levanta dilemas sobre soberania digital, desigualdade social e ética no uso de dados.
Some-se a isso a vulnerabilidade das cadeias globais de suprimento, exposta de forma dramática durante a pandemia de 2020, que deixou claro o quanto setores como farmacêutico, de baterias, de chips e de alimentos estão sujeitos a gargalos logísticos e dependências perigosas.
E, como se não bastasse, há a corrida por recursos naturais críticos. Metais como lítio, níquel, cobalto e as chamadas terras raras tornaram-se insumos essenciais para a transição energética. Controlar o acesso a esses materiais é hoje questão de segurança nacional para várias potências.
Um exemplo concreto
Segundo uma repertagem de grande repercussão do jornal The Financial Times
“A indústria europeia está enfrentando grandes desafios para fazer a transição rumo a fontes de energia mais limpas. A usina siderúrgica da Thyssenkrupp em Hohenlimburg, na Alemanha, agora obtém 40% da sua eletricidade a partir de turbinas eólicas locais. Ainda assim, o custo elevado da energia industrial, restrições de infraestrutura e a volatilidade dos preços das renováveis ameaçam sua competitividade. A empresa está investindo em redefinir sua produção, migrando do carvão para tecnologias movidas a hidrogênio e eletricidade — mas enfrenta obstáculos como limitações regulatórias e espaço físico para expansão.”
Este trecho demonstra na prática o contexto complexo da transição energética na indústria pesada — um espelho para o debate estratégico em discussão.
A visão dos protagonistas
Mike Wirth, CEO da Chevron
Em entrevista ao New York Post, Wirth afirmou:

Crédito da imagem: Chevron
“Mesmo enquanto investimos em tecnologias limpas como hidrogênio e captura de carbono, os combustíveis fósseis ainda são parte essencial da matriz — responsáveis por 80% da energia global. Tecnologias limpas são promissoras, mas ainda estão longe de escala comercial.”
Esse posicionamento traz realismo ao debate: a transição não acontece por decreto, e o setor ainda depende de fontes tradicionais até que alternativas se tornem viáveis em escala.
Chris Ervin, CEO da Alton Steel
Em colaboração com a consultoria E4, Ervin declarou:

Crédito da imagem: Illinois Business Journal
“A implementação de soluções como energia solar comunitária reduz custos para o setor e avança nossas metas de sustentabilidade.”
Esse comentário mostra como empresas industriais estão buscando vias práticas — ainda que indiretas — de integração com energia limpa, alinhando competitividade e responsabilidade ambiental.
Por que agora?
O debate não surgiu por acaso. Ele é resultado de uma sucessão de acontecimentos que empurraram governos e empresas a reconhecerem a urgência da mudança.
Nos últimos 15 anos, vimos marcos que mudaram o jogo:
O Acordo de Paris (2015) estabeleceu compromissos globais de redução de emissões, forçando países e empresas a repensar seus modelos produtivos.
A pandemia de 2020 escancarou a fragilidade das cadeias de suprimento internacionais, mostrando que depender de poucos fornecedores em pontos concentrados do globo é arriscado.
A guerra da Ucrânia (2022) acelerou a necessidade de independência energética, especialmente na Europa, que se viu refém da importação de gás natural.
A aceleração da digitalização e a ascensão da inteligência artificial trouxeram novas camadas de pressão competitiva, exigindo investimentos gigantescos em inovação.
O que antes parecia uma questão restrita a especialistas passou a influenciar diretamente a macroeconomia, os preços da energia, os empregos e o dia a dia da sociedade. Hoje, é impossível falar de indústria sem falar também de clima, de política e de tecnologia.
A próxima parada
No próximo capítulo, vamos voltar no tempo para entender quando essa estrutura começou a se desenhar e quais foram os marcos históricos e tecnológicos que moldaram o cenário que vivemos hoje.