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O QUE AINDA ATRAPALHA A TRANSFORMAÇÃO DA INDÚSTRIA NO SÉCULO XXI

FINANCIAMENTO, BUROCRACIA, PADRONIZAÇÃO E ACEITAÇÃO SOCIAL SE TORNAM OS MAIORES OBSTÁCULOS

João Carlos

16/09/2025

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Crédito da imagem: gerada por IA

Nos capítulos anteriores, vimos como o debate industrial do século XXI se estruturou, quando as empresas perceberam a interdependência dos temas e em que nível o setor se encontra hoje. Agora, neste 5º capitulo, chegamos a um ponto central: quais são os elementos que ainda travam a evolução das soluções?

A burocracia do licenciamento

Um dos gargalos mais citados por líderes industriais e analistas é a lentidão dos processos de licenciamento ambiental e regulatório. Projetos de linhas de transmissão, fábricas de semicondutores ou novas minas de lítio frequentemente enfrentam anos de espera entre a concepção e a aprovação final.

Como afirmou Martin Brudermüller, CEO da BASF, em entrevista ao Financial Times:

“A Europa precisa reduzir drasticamente o tempo de aprovação para projetos industriais. Estamos competindo com países que conseguem construir fábricas em dois anos, enquanto aqui ainda discutimos permissões.”

O peso do custo de capital

Outro fator crítico é o financiamento. Juros elevados e incertezas regulatórias tornam projetos de longo prazo — como hidrogênio verde, gigafábricas de baterias ou siderúrgicas de baixo carbono — arriscados e caros.

A Bloomberg destacou em reportagem recente que “o aumento das taxas de juros desde 2022 elevou significativamente o custo de capital para projetos de energia limpa, colocando em risco a velocidade da transição energética”.

Patrick Pouyanné, CEO da TotalEnergies, reforçou esse ponto ao Wall Street Journal:

“A transição energética exige investimentos massivos, mas se o custo do capital continuar nesse patamar, muitos projetos simplesmente não sairão do papel.”

Padronização tecnológica insuficiente

Na mobilidade elétrica, a ausência de padrões universais de carregadores e a falta de interoperabilidade entre sistemas continuam a atrasar a adoção em massa dos veículos elétricos. Mesmo em mercados considerados avançados, consumidores ainda se deparam com diferentes tipos de conectores, protocolos de comunicação e limitações de compatibilidade.

Como destacou Oliver Zipse, CEO da BMW, em entrevista ao Handelsblatt:

“Não podemos falar em adoção em massa de carros elétricos se cada país tiver um padrão diferente de carregamento. O consumidor precisa de confiança, simplicidade e escala.”

Essa fragmentação tecnológica não afeta apenas a experiência do usuário final, mas também gera custos adicionais para montadoras, operadores de energia e redes de infraestrutura. Fabricantes precisam oferecer múltiplos adaptadores, varejistas enfrentam dificuldades em padronizar estações e governos têm mais obstáculos para regulamentar o setor. O resultado é um mercado com potencial enorme de crescimento, mas travado por disputas técnicas e pela falta de um consenso global.

Concentração de insumos e recursos críticos

A cadeia de minerais estratégicos — lítio, cobalto, níquel e terras raras — continua altamente concentrada em poucos países. Isso gera vulnerabilidade geopolítica e dificulta o avanço da transição energética.

Reportagem do Financial Times lembrou que “o mercado global de lítio dobrou em menos de cinco anos, mas a oferta segue refém da concentração geográfica e da demora em aprovar novos projetos”.

Mike Henry, CEO da BHP (maior mineradora do mundo), declarou em conferência em Sydney:

“O mundo precisa de muito mais cobre, níquel e lítio. Mas sem acelerar processos de aprovação, simplesmente não haverá fornecimento suficiente para sustentar a transição.”

Aceitação social e ambiental

Mesmo quando há viabilidade técnica e financeira, a aceitação social permanece um desafio. Comunidades locais frequentemente resistem à instalação de minas, refinarias ou parques de energia renovável em larga escala, temendo impactos ambientais e sociais.

Darren Woods, CEO da ExxonMobil, reconheceu em entrevista ao New York Times:

“Não basta termos tecnologia e capital. Se as comunidades não aceitarem esses projetos, a transição não acontece. Precisamos de diálogo aberto e de benefícios claros para a sociedade local.”

Na prática, esse desafio se manifesta em projetos paralisados por anos em razão de protestos, disputas judiciais ou licenciamento ambiental contestado. De acordo com levantamento da Agência Internacional de Energia (AIE), mais de 40% dos projetos de mineração de lítio e níquel anunciados desde 2020 enfrentaram atrasos ou suspensões ligadas a objeções de comunidades locais. Em regiões da América Latina, como o Chile e a Argentina, a exploração do chamado “triângulo do lítio” é constantemente tensionada por reivindicações de populações indígenas e rurais sobre uso da água e impactos ecológicos.

Na Europa, movimentos semelhantes já atingem projetos de energia eólica offshore e até parques solares em larga escala, onde moradores questionam desde efeitos paisagísticos até riscos para a biodiversidade. Isso reforça a necessidade de modelos de governança mais participativos, em que empresas e governos ofereçam contrapartidas claras — como investimentos em infraestrutura, programas sociais e preservação ambiental — capazes de transformar esses empreendimentos em oportunidades compartilhadas.

O fio condutor dos entraves

Ao olhar para esses obstáculos, percebe-se que o grande debate industrial não está mais no “o quê” fazer, mas sim no “como” executar em escala. A burocracia, o custo de capital, a falta de padronização, a concentração de recursos e a aceitação social são hoje os nós que precisam ser desatados para que as soluções avancem.

No próximo capítulo, vamos explorar quais são as soluções que estão sendo testadas para superar essas “dores” do setor — desde novos modelos de financiamento até acordos internacionais de matérias-primas e avanços tecnológicos disruptivos.

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