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O QUE ESTÁ POR TRÁS DAS CAPAS DE SABRINA CARPENTER

COM A QUARTA CAPA DE “MAN’S BEST FRIEND”, ANALISAMOS DA POLÊMICA À ESTRATÉGIA E A NARRATIVA FEMININA QUE REDEFINE O JOGO NO POP

João Carlos

13/08/2025

Placeholder - loading - Crédito da imagem: mosaico com as capas dos álbuns da cantora Sabrina Carpenter
Crédito da imagem: mosaico com as capas dos álbuns da cantora Sabrina Carpenter

A divulgação da quarta capa do aguardado álbum Man’s Best Friend, de Sabrina Carpenter, que será lançado em 29 de agosto, transbordou o universo artístico e ocupou o debate público. Ao acender a discussão com uma primeira imagem nitidamente provocativa — e, portanto, perfeita para tensionar o male gaze — a cantora parecia responder, em seguida, com uma segunda capa mais comportada, enquadrada no “padrão aceitável” para agradar parte do público e da imprensa mais conservadora. Tudo certo até aí? Só à primeira vista.

A partir da terceira capa, um alerta soou para quem observa o marketing musical de perto: já não se tratava apenas de uma polêmica visual, mas de um plano de campanha que vira a chave do discurso, alternando códigos estéticos e reposicionando a protagonista sem perder o controle da história. E agora, com a quarta capa, surge o detalhe que fecha o círculo: um domínio consciente de narrativa feminina (ou feminista) que joga com expectativas, desloca a leitura simplista e expõe nuances de poder e agência que há muito estruturam o universo da indústria pop — nem sempre com as mulheres no centro do tabuleiro.

Primeira capa – a faísca da polêmica

Na imagem, Sabrina Carpenter surge ajoelhada, vestida de preto, enquanto uma mão masculina — fora de quadro — segura seu cabelo. É um enquadramento que evoca imediatamente a metáfora de Man’s Best Friend, tensionando a fronteira entre o male gaze e a apropriação irônica desses códigos. A repercussão foi instantânea: debates sobre objetificação, empoderamento e os limites da provocação dominaram redes sociais e colunas culturais. Para profissionais de marketing, a escolha funcionou como um gatilho perfeito para gerar conversas de alto alcance, ultrapassando o circuito musical e atingindo páginas de opinião, editoriais feministas e publicações de lifestyle.

Segunda capa – o contraplano irônico

Poucas semanas depois, veio a resposta — ou, como alguns analistas viram, o “contraplano” calculado. A nova capa, apelidada de “approved by God”, mostra Sabrina em um ambiente de gala, vestido elegante, olhar distante, acompanhada de um parceiro de dança. A leitura imediata foi de recuo visual: algo “aceitável” para circular em veículos mais conservadores, suavizando a narrativa inicial. Mas a camada estratégica está no humor implícito do selo “aprovada por Deus”, que ironiza o moralismo e, ao mesmo tempo, oferece um segundo código para públicos menos afeitos ao choque — uma tática de reposicionamento sem perder a autoria da provocação.

Terceira capa – o conceito no lugar do corpo

A terceira fase deslocou o foco da provocação corporal para um enquadramento mais estético e simbólico. Sabrina surge ao centro de um cenário florido, cercada por elementos visuais que remetem ao título e à identidade do álbum. Essa mudança suaviza a narrativa “visual versus moralidade” das duas primeiras capas e insere a obra em um plano mais conceitual. Nesse momento, profissionais e estudantes de marketing passaram a enxergar a sequência como um estudo de caso: a artista não apenas reagia ao público, mas antecipava reações e modulava sua imagem de acordo com diferentes clusters de audiência.

Quarta capa – o banquete de poder

No encerramento, Sabrina aparece vestida de azul, à cabeceira de uma mesa de gala, cercada por homens de smoking — um enquadramento que inverte a lógica de poder sugerida na primeira capa. Lançada junto da faixa exclusiva Such a Funny Way, disponível apenas no vinil, a imagem conclui a narrativa e transforma o fechamento da campanha em um evento de alto valor simbólico e comercial.

Uma narrativa que desafia estruturas

Mais do que um lançamento visualmente marcante, Man’s Best Friend se consolida como um caso raro de domínio narrativo feminino no pop contemporâneo. Ao longo das quatro capas, Sabrina Carpenter conduziu o público por um percurso que começou em provocação, passou pelo humor, explorou o conceitual e culminou em um retrato inequívoco de autoridade.

Esse feito ganha peso extra num cenário ainda amplamente controlado por executivos homens — do mercado musical às discussões culturais de maior repercussão —, onde a estética e a voz femininas são frequentemente filtradas ou reinterpretadas sob perspectivas masculinas. Aqui, a cantora não apenas escapou desse filtro: ela o inverteu, usando cada etapa para recolocar o poder em suas mãos e afirmar que o centro da mesa, literal e figurativamente, também pode ser ocupado por uma mulher.

Com o lançamento marcado para os próximos dias, Man’s Best Friend chega não apenas como um dos álbuns mais aguardados do ano, mas também como um manifesto visual e estratégico que reforça a capacidade de uma artista de moldar sua própria narrativa — e, ao fazê-lo, desafiar estruturas que pareciam imutáveis.

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