Bancos têm menor rentabilidade em 10 anos com pandemia, mas BC vê melhora em 2021
Bancos têm menor rentabilidade em 10 anos com pandemia, mas BC vê melhora em 2021
Reuters
07/06/2021
Atualizada em 07/06/2021
Por Isabel Versiani
BRASÍLIA (Reuters) - A pandemia da Covid-19 derrubou a rentabilidade dos bancos em 2020 ao menor patamar em pelo menos dez anos ao forçar as instituições a aumentar suas despesas com provisões, apontou o Banco Central nesta segunda-feira, destacando que, mesmo com o aumento das incertezas, a perspectiva é de melhora este ano.
'A queda da rentabilidade foi generalizada, afetando bancos de diferentes tipos de controle, porte e segmento de atividade', afirmou o BC em seu Relatório de Economia Bancária divulgado, nesta segunda-feira, que analisou o desempenho do sistema financeiro no ano passado.
Em dezembro de 2020, o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) do sistema bancário foi de 11,5%, o menor da série histórica do BC, que tem início em dezembro de 2010. No ano anterior, o BC havia reportado um ROE de 16,5% para dezembro de 2019.
As despesas dos bancos com Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa saltaram 30% no ano passado sobre 2019, enquanto as receitas com serviços desaceleraram com a menor atividade econômica, crescendo 2,3% depois de uma alta de 6,7% no ano anterior.
Segundo o BC, a rentabilidade dos bancos privados, instituições que tiveram aumento mais expressivo nas despesas com provisões, caiu mais do que a dos públicos no período. Já em uma comparação que leva em conta o porte dos bancos, a queda foi similar entre os bancos grandes e médios --tradicionalmente mais rentáveis-- e os pequenos e micros.
Para 2021, o BC espera uma recuperação da rentabilidade, a despeito do que apontou como um 'aumento da incerteza decorrente da pandemia', que seguirá sendo o principal fator de risco para o indicador.
'O reforço de provisões realizado em 2020 reduz a necessidade de novas provisões em montantes relevantes e a retomada da atividade econômica contribui para o crescimento e a qualidade do crédito, além de favorecer a demanda por serviços bancário', disse o BC.
CONCENTRAÇÃO
O relatório também apontou uma nova redução da concentração do Sistema Financeiro Nacional e afirmou que a queda da fatia de mercado do Banco do Brasil, da Caixa e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a partir de 2019 foi um fator 'importante' nesse processo.
Os cinco maiores bancos --Itaú, Bradesco, Santander, BB e Caixa-- responderam por 77,6% do total de ativos do segmento bancário comercial em dezembro de 2020, ante 81% um ano antes. A concentração dos depósitos totais nessas instituições caiu para 79,1%, ante 83,4% em dezembro de 2019, enquanto no crédito passou a 81,8%, de 83,7%.
Considerando o sistema financeiro total, incluindo também segmentos não bancários, a concentração dos ativos totais nos cinco maiores bancos caiu para 67% em 2020, ante 69,8% no ano anterior.
Ao comentar a redução da concentração verificada desde 2018, o BC destacou que ela ocorreu 'a despeito de, nesse período, ter havido onze atos de concentração envolvendo instituições financeiras, sendo a aquisição de 49,9% da XP Investimentos pelo Itaú-Unibanco o caso mais relevante'.
O BC também chamou a atenção para a redução da parcela de mercado dos bancos públicos BB, CEF e BNDES de 41,3% dos ativos totais em 2018 para 37,5% em 2020, pontuando que esse movimento se deu em parte com aumento da participação de instituições que não estão entre as cinco maiores, 'o que contribui para o incremento das condições concorrenciais'.
'Pouco mais da metade da diminuição de concentração é essa realocação de bancos públicos muito grandes para bancos grandes privados, o que tende a ser positivo porque é uma desconcentração também, e metade são atores que não são os cinco maiores bancos ganhando espaço', disse o diretor de Organização do Sistema Financeiro do BC, João Manoel Pinho de Mello.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Ao detalhar o desempenho do crédito bancário no ano passado, que apresentou crescimento de 15,7% no estoque total, o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, disse que os dados são os que melhor retratam o impacto da política pública sobre a economia na crise da pandemia.
No ano, o crédito com recursos livres, em que as taxas são pactuadas livremente entre bancos e tomadores, aumentou 15,5%, enquanto o crédito direcionado teve alta de 15,9%, alavancado por um aumento de 22,8% para as empresas --segmento que foi beneficado por programas como o Pronampe e o Peac, de apoio ao crédito para pequenas e médias empresas por meio da concessão de garantias.
'É sempre essa a tendência em todas as crises, uma contração de crédito causada por uma restrição de oferta de crédito, e nessa crise o crédito subiu ao invés de ter caído...e isso se deveu à política pública', disse Kanczuk.
Para o diretor, o crescimento do estoque do crédito às pessoas físicas --de 10,8% com recursos livres e 11,7% no direcionado-- também respondeu a uma política pública, no caso a monetária, na medida em que a redução da taxa básica de juros teria sido determinante para impulsionar modalidades de crédito, principalmente o imobiliário.
Reuters