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PARQUES URBANOS: CENTRAL PARK, NOVA YORK

O CORAÇÃO VERDE QUE TRANSFORMOU A BIG APPLE

João Carlos

07/10/2025

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crédito da imagem: centralparknyc.org

O Central Park é o quintal de 843 acres (3,41 km²) de Nova York — um espaço público essencial, visitado por mais de 42 milhões de pessoas por ano e cuidado no dia a dia pela Central Park Conservancy, em parceria com a Prefeitura. Mais do que um cartão‑postal, o parque sintetiza como desenho urbano, gestão eficiente e programação cultural podem redefinir a vida de uma metrópole.

Um projeto que moldou a cidade

Em 1858, os arquitetos paisagistas Frederick Law Olmsted e Calvert Vaux venceram o concurso com o Greensward Plan, uma proposta que rompeu com a simetria rígida da época e apostou em paisagens naturalistas, trilhas sinuosas e experiências variadas ao longo do percurso. O conceito de “parque para o povo” estabeleceu o padrão de um dos primeiros grandes parques paisagísticos dos EUA e ajudou a consolidar a cultura do espaço público como infraestrutura urbana.

Desenho que separa fluxos e convida à convivência

Para integrar o parque à cidade sem perder a sensação de refúgio, os autores criaram as transverse roads — vias rebaixadas que atravessam o Central Park no sentido leste‑oeste, mantendo o trânsito de veículos fora do campo visual dos frequentadores. A ideia, então revolucionária, tornou o deslocamento eficiente sem comprometer a fruição do paisagismo.

Entre a memória e o futuro: o território antes do parque

Antes da criação do Central Park, a área que se estendia entre as ruas 82 e 89, no lado oeste de Manhattan, era ocupada por uma comunidade singular chamada Seneca Village — um dos primeiros assentamentos de proprietários negros livres nos Estados Unidos. Fundada em 1825, a vila contava com cerca de 225 moradores, entre famílias afro-americanas, imigrantes irlandeses e alguns alemães, que viviam em casas de madeira, cultivavam pequenas hortas e ergueram três igrejas e uma escola.

A Seneca Village representava um marco de autonomia em uma Nova York ainda marcada por desigualdades raciais profundas. Muitos dos seus habitantes eram proprietários de terra — condição que, à época, garantia o direito ao voto — e contribuíam para o fortalecimento de uma classe média negra emergente. A vida ali tinha ritmo próprio, com crianças frequentando aulas na All Angels Church School e famílias cultivando uma convivência pacífica entre grupos étnicos distintos, algo raro para o século XIX.

Tudo mudou em 1857, quando a cidade, em nome do “interesse público”, aprovou a desapropriação compulsória dos terrenos para a construção do parque. Os moradores receberam indenizações consideradas irrisórias e foram forçados a sair. As casas foram demolidas, e o bairro desapareceu do mapa — apagado da memória urbana por mais de um século.

Nos últimos anos, no entanto, a história de Seneca Village vem sendo redescoberta e valorizada. Escavações arqueológicas revelaram utensílios domésticos, fragmentos de porcelana, brinquedos infantis e objetos religiosos, permitindo reconstruir o cotidiano de uma comunidade que simbolizava resistência, inclusão e pertencimento.

Hoje, o local abriga placas e estações interpretativas que explicam ao visitante o passado do território, fruto de um programa permanente da Central Park Conservancy voltado à preservação da memória afro-americana em Nova York. Assim, o Central Park não é apenas um ícone de beleza e lazer, mas também um espaço de reflexão histórica, onde o passado e o futuro se encontram para lembrar que toda paisagem urbana carrega vozes e histórias que merecem ser ouvidas.

Cultura, eventos e a força do palco a céu aberto

Desde os anos 1960, a New York Philharmonic leva concertos gratuitos ao parque, tradição que se tornou um dos rituais de verão da cidade. Na Great Lawn e no Rumsey Playfield, o público assiste tanto à música erudita quanto a shows populares de séries como o SummerStage, reforçando o Central Park como território de democracia cultural e encontro.

Saúde, turismo e identidade urbana

Crédito da imagem: centralparknyc.org

Além de seus monumentos e paisagens icônicas, o Central Park também serve como um laboratório vivo de sustentabilidade urbana. Programas de manejo ambiental mantêm a biodiversidade local, com o plantio contínuo de árvores nativas e o controle de espécies invasoras. Lagos e córregos artificiais são alimentados por um sistema de drenagem natural que reduz o escoamento de águas pluviais e melhora a qualidade da água — um exemplo de solução ecológica integrada ao desenho urbano.

Outro aspecto notável é a capacidade do parque de conectar diferentes realidades sociais e culturais. Frequentado por nova-iorquinos de todas as origens e por milhões de turistas, o Central Park é um território de convivência que espelha a diversidade da cidade. De manhãs silenciosas de corrida a concertos multitudinários no verão, cada parte do parque reflete uma dimensão da vida coletiva — um espaço onde a natureza e a cultura se entrelaçam para reafirmar o sentido público e democrático do coração verde de Nova York.

Como é cuidado

Há mais de quatro décadas, a Central Park Conservancy é responsável por todo o cuidado, operação e manutenção do parque — uma parceria entre a sociedade civil e o poder público que se tornou referência mundial em gestão de espaços públicos. Fundada em 1980, após anos de degradação e abandono, a organização sem fins lucrativos nasceu do esforço conjunto de moradores e empresas que acreditaram no potencial do parque como patrimônio coletivo. Desde então, ela administra cerca de 75% do orçamento anual de manutenção, em colaboração com o Departamento de Parques de Nova York, e mobiliza milhares de voluntários para ações de plantio, limpeza, restauração e educação ambiental.

Esse modelo inovador de parceria público-privada inspirou cidades de todo o mundo a repensar o papel da comunidade na gestão dos espaços urbanos. A Conservancy combina financiamento privado com políticas públicas transparentes, assegurando que o parque continue gratuito, acessível e socialmente representativo. Entre seus projetos de destaque estão a restauração do Great Lawn, a revitalização da Bethesda Terrace, a recuperação de lagos e pontes históricas e a criação de programas educativos voltados a escolas e visitantes. O resultado é um parque vibrante, sustentável e inclusivo, onde cada trilha, gramado e jardim reflete o compromisso contínuo de Nova York com a preservação do verde em meio ao concreto. Conheça mais sobre o Central Park no video a seguir:

Por que o Central Park importa hoje

Ao combinar planejamento urbano, paisagismo de alta qualidade e programação cultural, o Central Park demonstra que um parque pode ser, ao mesmo tempo, infraestrutura de saúde pública, ativo de turismo e símbolo de identidade urbana. Mais do que um modelo histórico, é um laboratório vivo para pensar metrópoles mais verdes, resilientes e humanas.

Amanhã, na terceira parte da série “Parques Urbanos”, seguimos para Hyde Park: debates, shows e a tradição de Londres ao ar livre, aprofundando como a cultura e o debate público moldaram um dos espaços verdes mais emblemáticos do Reino Unido.

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