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Polícia Federal expande rastreamento de ouro ilegal para outros países da Amazônia

Polícia Federal expande rastreamento de ouro ilegal para outros países da Amazônia

Reuters

24/09/2025

Placeholder - loading - Ouro confiscado pela Polícia Federal em operação contra o garimpo no Amazonas 19/06/2024 REUTERS/Bruno Kelly
Ouro confiscado pela Polícia Federal em operação contra o garimpo no Amazonas 19/06/2024 REUTERS/Bruno Kelly

Por Ricardo Brito e Luis Jaime Acosta

BRASÍLIA/BOGOTA (Reuters) - A Polícia Federal brasileira começou a fechar parcerias com outros países da região amazônica com o objetivo de ampliar o programa que rastreia se o ouro vem de alguma mina ilegal na floresta, em uma iniciativa para aumentar a repressão a criminosos que tentam escapar do endurecimento da fiscalização contrabandeando o minério pelas fronteiras, disseram investigadores à Reuters.

O preço do ouro disparou para níveis recordes neste mês, impulsionado pela instabilidade política global, que leva investidores a buscarem ativos considerados seguros. A valorização é um forte incentivo para quem explora ilegalmente o metal precioso na Amazônia.

O programa brasileiro cataloga o “DNA do ouro” — uma assinatura morfológica única do metal — para conectar material apreendido por policiais aos danos ambientais causados pela mineração ilegal em áreas específicas da floresta.

Em 2023, o Brasil realizou sua primeira investigação com base nessa técnica. Mas, com a expansão das atividades de grupos criminosos, que levam ouro de minas ilegais em um país para fundições em outro, a polícia afirma que precisa ampliar sua biblioteca de amostras para acompanhar o ritmo.

'Quando a gente tiver essas amostras de todas as áreas auríferas da Pan-Amazônia, a nossa ouroteca vai estar completa para identificar de forma científica a origem desses ouros apreendidos', disse Humberto Freire, diretor da Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal.

Parte da expansão já começou.

Uma série de acordos assinados pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Emmanuel Macron permitiu que as polícias do Brasil e da Guiana Francesa acessassem amostras dos bancos de dados uma da outra, aumentando a cooperação entre investigadores. Em agosto, Freire se reuniu com o ministro da Defesa da Colômbia, Pedro Sánchez, para discutir a implementação do programa no país.

Na Colômbia, grupos criminosos frequentemente lavam dinheiro do tráfico de drogas por meio da mineração ilegal. Autoridades da região temem que essa prática se espalhe para outros países, dificultando as investigações.

Nos últimos anos, autoridades colombianas têm encontrado cada vez mais brasileiros atuando em minas ilegais próximas à fronteira, segundo a Polícia Nacional e o Ministério da Defesa da Colômbia.

Dois funcionários do Ministério da Defesa colombiano disseram à Reuters, sob condição de anonimato, que o país tem interesse em cooperar com o Brasil e em desenvolver um projeto próprio para analisar o “DNA do ouro”.

O trabalho da PF brasileira também motivou a Interpol a desenvolver o Projeto Gaia, com apoio do governo alemão, para treinar forças policiais ao redor do mundo na técnica brasileira de catalogação do ouro.

O secretário-geral da Interpol, o delegado da Polícia Federal Valdecy Urquiza, afirmou que apoia iniciativas para mapear regiões produtoras de ouro como estratégia para investigações bem-sucedidas contra a mineração ilegal.

'Esse mapeamento permite gerar evidências forenses sobre a origem do ouro, auxiliando de forma precisa na identificação de comercialização de ouro que tenha origem ilegal', afirmou ele à Reuters, ao destacar que a iniciativa dá maior transparência às cadeias de suprimentos e leva a uma efetiva proteção das comunidades tradicionais e o meio ambiente.

CONTRABANDISTAS MUDAM TÁTICA

O aumento das investigações e operações contra garimpos ilegais durante o governo Lula levou grupos criminosos a buscar rotas internacionais, exportando ouro para países vizinhos para processamento e venda, segundo uma fonte da Polícia Federal.

Uma série de medidas de fiscalização, incluindo uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que obrigou as fundições a verificar a origem do ouro, também dificultou a entrada do metal ilegal no mercado.

O chefe do Ouro Alvo, como é chamado o programa de identificação do minério da PF, disse que nos últimos anos a maior parte do ouro ilegal era lavado no próprio Brasil, mas a situação mudou recentemente.

“Agora não mais, mudou e o criminoso vai buscar os meios clássicos do contrabando. Era um fluxo que a gente não via, era ouro saindo da Venezuela e vindo para cá, agora o fluxo é o contrário, ouro saindo do Brasil”, destacou.

Investigadores dizem que essa mudança já aparece nos dados. No ano passado, houve uma queda acentuada no comércio de ouro, com apreensões da Polícia Federal caindo para 80kg, ante um recorde de 308kg em 2023.

Mas entre janeiro e agosto deste ano, a polícia já apreendeu 253 kg de ouro -- metade com destino a fundições na Venezuela, suspeitam fontes. Agora, os agentes federais trabalham para analisar o “DNA” do ouro apreendido e descobrir sua origem.

Com criminosos ambientais atuando cada vez mais além das fronteiras, governos da região buscam criar novas ferramentas de cooperação.

Neste mês, Lula se juntou ao presidente colombiano Gustavo Petro e a outras autoridades para inaugurar o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI) da Amazônia, em Manaus, no coração da floresta brasileira. O centro, anunciado pela primeira vez em 2023, foi criado para facilitar o compartilhamento de informações entre países amazônicos, com foco em crimes ambientais.

Reuters

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