Capa do Álbum: Antena 1
A Rádio Online mais ouvida do Brasil
Antena 1

QUANDO A TECNOLOGIA ENXERGA O PERIGO ANTES DE VOCÊ

O “THE EYE” RECONHECE ROSTOS, ALERTA A POLÍCIA E MUDA A ROTINA DOS CONDOMÍNIOS

João Carlos

09/10/2025

Placeholder - loading - Crédito da imagem: gerada por IA
Crédito da imagem: gerada por IA

O avanço da inteligência artificial está transformando o modo como cidades e condomínios lidam com a segurança. Sistemas que até pouco tempo pareciam ficção científica — capazes de reconhecer rostos, ler placas de veículos e detectar comportamentos fora do padrão — já fazem parte da rotina de diferentes regiões do país. Um dos exemplos mais recentes dessa tendência é o The Eye, plataforma desenvolvida pela CoSecurity, que utiliza visão computacional para antecipar riscos e acionar protocolos de resposta em tempo real.

A tecnologia que observa e interpreta

O The Eye foi projetado para interpretar imagens de câmeras como um operador humano faria — só que em escala e velocidade muito maiores. O sistema analisa fluxos de vídeo e identifica movimentos suspeitos, pessoas desconhecidas e atividades fora do padrão. Quando isso acontece, o alerta é encaminhado à Central de Providências da CoSecurity, onde uma equipe de especialistas faz a checagem e decide o passo seguinte: avisar o síndico, contatar a portaria ou acionar a polícia.

A proposta não é substituir o olhar humano, mas ampliar a capacidade de resposta. “A tecnologia é uma ferramenta que ajuda a reduzir o tempo entre o fato e a ação. Isso pode fazer toda a diferença em situações de risco”, explica um dos técnicos responsáveis pelo desenvolvimento do sistema.

Aprendizado contínuo e previsibilidade

O que diferencia soluções como o The Eye de sistemas convencionais é a capacidade de aprender com a rotina. Ao longo das semanas, a inteligência artificial reconhece padrões — horários de maior circulação, rostos familiares, veículos autorizados — e ajusta seus parâmetros de vigilância. Com isso, o sistema reduz falsos alarmes e aprimora a precisão das análises.

Na prática, essa “memória digital” cria uma linha de base do comportamento do espaço. Quando algo foge do esperado, o algoritmo entende que há um desvio e reage imediatamente. É o que os engenheiros chamam de detecção preditiva: não esperar o problema acontecer para só então reagir.

O dilema entre segurança e privacidade

O crescimento do uso de reconhecimento facial e leitura de placas também reacende debates éticos. Especialistas lembram que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) impõe limites claros para o tratamento de informações pessoais, mesmo quando o objetivo é a segurança.

Segundo o advogado e pesquisador em direito digital Daniel Oliveira, a chave está no equilíbrio: “A coleta e o processamento só podem ocorrer com base legal e propósito definido. Transparência e controle sobre os dados são fundamentais para evitar abusos”.

Na Europa, a discussão já ganhou contornos mais rígidos. O AI Act, aprovado pela União Europeia, restringe o uso de reconhecimento facial em tempo real em locais públicos e exige supervisão humana constante em qualquer aplicação que envolva decisões automatizadas.

No caso do The Eye, a CoSecurity afirma seguir diretrizes de privacidade, utilizando criptografia e anonimização de dados, além de armazenar informações por tempo limitado.

Mudanças na rotina e impacto urbano

Condomínios que adotaram tecnologias de análise inteligente relatam ganhos de eficiência na portaria e maior sensação de segurança entre os moradores. Com menos tempo de resposta e um acompanhamento centralizado, síndicos afirmam que o sistema contribui para organizar a vigilância e qualificar as evidências em eventuais ocorrências.

Essas mudanças também dialogam com um fenômeno mais amplo: o avanço da chamada segurança urbana inteligente, em que câmeras, sensores e softwares se integram a políticas públicas. Cidades como São Paulo já iniciaram projetos-piloto nesse sentido, conectando bases privadas a centrais municipais — sempre sob regulamentação da Secretaria de Segurança Urbana.

Entre inovação e responsabilidade

A discussão sobre tecnologia e segurança é, no fundo, uma conversa sobre confiança. De um lado, a promessa de sistemas que previnem crimes e aumentam a sensação de proteção; de outro, a necessidade de limites éticos e jurídicos claros.

Pesquisadores alertam que, sem transparência e auditoria, o risco de vieses algorítmicos — quando a IA erra mais com determinados perfis — pode comprometer resultados e gerar injustiças. Testes do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos Estados Unidos (NIST) mostraram diferenças de precisão entre grupos demográficos, o que reforça a importância de validação constante e supervisão humana em todas as etapas.

O olhar do futuro

A tendência aponta para uma segurança cada vez mais preventiva, automatizada e conectada. Mas a pergunta que acompanha esse avanço é inevitável: até que ponto estamos dispostos a ser observados para estarmos mais protegidos?

O desafio das próximas décadas será equilibrar eficiência e privacidade, tecnologia e humanidade. O The Eye pode representar um vislumbre desse futuro — um futuro em que máquinas ajudam a enxergar melhor, mas a decisão final ainda precisa continuar sendo humana.

Compartilhar matéria

Mais lidas da semana

 

Carregando, aguarde...

Este site usa cookies para garantir que você tenha a melhor experiência.