Tribunal da China condena escritor australiano Yang Hengjun à pena de morte suspensa
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Por Kirsty Needham e Laurie Chen
SYDNEY/PEQUIM (Reuters) - Um tribunal de Pequim condenou nesta segunda-feira o escritor australiano Yang Hengjun à pena de morte suspensa por acusações de espionagem, ameaçando a recente recuperação dos laços bilaterais que se seguiu a vários anos de relações tensas entre Pequim e Canberra.
A sentença, proferida cinco anos após Yang ter sido detido na China e três anos após seu julgamento a portas fechadas por acusações de espionagem, chocou sua família e seus apoiadores.
Ela também ameaça a recente aproximação entre a Austrália e China, segundo analistas, cujas relações até o final do ano passado eram marcadas por tensões sobre o comércio, a Covid-19 e a postura de segurança da China.
Yang, um blogueiro pró-democracia, é um cidadão australiano nascido na China que estava trabalhando em Nova York antes de ser preso no aeroporto de Guangzhou em 2019. Funcionário do Ministério de Segurança da China de 1989 a 1999, ele foi acusado de espionagem para um país que a China não identificou publicamente, e os detalhes do processo contra ele não foram divulgados.
Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, disse a repórteres em Pequim que Yang havia sido considerado culpado de espionagem, e 'foi ordenado que todas as suas propriedades pessoais fossem confiscadas'.
Wang acrescentou que 'o lado australiano' teve permissão para participar da sentença e que todos os procedimentos foram seguidos.
Uma pena de morte suspensa na China dá ao acusado um adiamento de dois anos da execução, após o qual é automaticamente convertida em prisão perpétua ou, mais raramente, em prisão a termo fixado. O indivíduo permanece preso o tempo todo.
O acadêmico Feng Chongyi, amigo de longa data de Wang e que acompanhou o julgamento de perto, considerou-o um 'caso grave de injustiça', acrescentando que Yang havia negado as acusações.
'Ele foi punido pelo governo chinês por suas críticas às violações dos direitos humanos na China e por sua defesa de valores universais, como direitos humanos, democracia e Estado de direito', disse Feng.
Ele pediu ao governo australiano que buscasse a liberdade condicional médica para Yang, dizendo que cinco anos de detenção haviam afetado muito sua saúde.
A Austrália está 'chocada' com a decisão do tribunal e convocou o embaixador da China, disse a Ministra das Relações Exteriores da Austrália, Penny Wong.
Wong disse que o governo australiano entendeu que a sentença pode ser comutada para prisão perpétua após dois anos se o indivíduo não cometer nenhum crime grave nesse período.
'Esta é uma notícia angustiante para o Dr. Yang, sua família e todos que o apoiaram', disse ela.
A família de Yang ficou 'chocada e devastada com essa notícia, que chega ao extremo das piores expectativas', disse um porta-voz da família em Sydney.
Seus apoiadores têm argumentado que Yang deveria receber liberdade condicional médica depois de ter sido informado, no ano passado, que ele tinha um cisto de 10 cm no rim que poderia exigir cirurgia.
A Austrália disse estar preocupada com os repetidos atrasos no caso de Yang e defendeu seu bem-estar, incluindo o acesso a tratamento médico, 'nos níveis mais altos'.
Um tribunal de Pequim realizou o julgamento de Yang de forma secreta em maio de 2021 e o caso contra ele nunca foi divulgado publicamente. Ele tem negado ter trabalhado como espião para a Austrália ou para os Estados Unidos e negado qualquer irregularidade em cartas enviadas à família da prisão.
Escrito por Reuters
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