Vitória esmagadora dos trabalhistas se dá às custas de pequena representação partidária no Parlamento britânico
Vitória esmagadora dos trabalhistas se dá às custas de pequena representação partidária no Parlamento britânico
Reuters
05/07/2024
Por Andrew MacAskill e Paul Sandle
LONDRES (Reuters) - O Partido Trabalhista, de Keir Starmer, conquistou uma das mais amplas maiorias parlamentares da história moderna do Reino Unido, mesmo com a segunda menor porcentagem de votos que uma legenda vencedora já teve, o que realça como o sistema eleitoral britânico tende a beneficiar os partidos tradicionais, em detrimento dos menores. Com 648 das 650 cadeiras da Câmara dos Comuns já anunciadas nesta sexta-feira, o Partido Trabalhista conquistou 412 assentos e obteve 9,7 milhões de votos, enquanto que o apoio ao Partido Conservador desmoronou, entregando ao grupo apenas 121 assentos após 6,8 milhões de votos. O Partido Reformista, do populista de direita Nigel Farage, obteve mais de 4 milhões de votos, a maior parte atraindo ex-eleitores do Partido Conservador, mas abocanhou apenas quatro assentos. Já os liberais democratas, de centro, que tiveram 3,5 milhões de votos, conquistaram 71 cadeiras. O Partido Verde obteve seu recorde de assentos, quatro, após receber 1,9 milhão de votos. A legenda nacionalista irlandesa Sinn Fein, por sua vez, terá sete representantes legislativos, mesmo com uma votação muito menor: 211 mil. Juntos, os partidos menores obtiveram mais de 40% dos votos na eleição de quinta-feira, mas ficaram com apenas 17% dos assentos no Parlamento. Diferentemente de países que usam uma representação proporcional — sistema que geralmente acaba pedindo a formação de um governo de coalizão — o modelo britânico elege o mais votado em cada distrito, o que geralmente produz uma maioria clara para uma legenda. Darren Hughes, chefe-executivo do grupo Sociedade Pela Reforma Eleitoral, disse: “Acabamos de testemunhar a eleição mais desproporcional da história, em termos dos votos que o povo deu e como eles se traduziram em assentos no Parlamento”. Na sua opinião, o modelo não reflete mais a forma como o país vota, produzindo assim resultados voláteis. Partidos menores discordam dos resultados da eleição de quinta-feira e devem voltar a colocar pressão para que o sistema seja mais justo. “É definitivamente injusto com os partidos menores, que não chegaram a obter uma concentração de apoio suficiente em alguns lugares”, afirmou Karl Pike, professor de Políticas Públicas na Universidade Queen Mary e ex-assessor do Partido Trabalhista. Farage, que conquistou seu primeiro assento para o Parlamento, no distrito de Clacton-on-Sea, afirmou que o sistema de eleição do primeiro colocado é um “problema muito sério para os partidos pequenos”. Na França, por exemplo, que concluirá sua votação parlamentar no domingo, as pesquisas de opinião preveem que o Reunião Nacional, de extrema direita, deve conquistar a maior parte dos assentos, mas sem maioria absoluta. Com o sistema de segundo turno dos distritos, os candidatos eleitos normalmente contam com apoio da maioria absoluta. Na Alemanha, os eleitores votam duas vezes, uma para o representante do distrito e outra para o partido. Assim, metade dos parlamentares são representantes locais, e a outra metade vem de listas partidárias em cada um dos 16 Estados do país. Em 2011, o Reino Unido fez um referendo para reformar o sistema eleitoral, mas a proposta foi amplamente derrotada.
Reuters